. «A pequena multidão aguerrida dissipa-se. Vital Moreira segue o seu caminho e Ana Rosa afasta-se. “É isto que vai abrir os telejornais. Acabámos de perder a manifestação”. A profecia cumpriu-se. As palavras de ordem cederam lugar aos protestos contra a “intolerância”, o “sectarismo” ou a “instigação do ódio”. »
in, Público
E, sim, perderam a manifestação e perderam acima de tudo respeito, porque, para lá de qualquer rivalidade político-ideológica, as regras de civilidade têm de continuar a valer para alguma coisa. Um cabeça de lista a umas eleições não perde nem pode perder direitos cívicos, por mais que o apelidem de traidor os antigos camaradas. Depois, qualquer pulhice, com agressões e insultos à mistura, não pode passar a ser desculpável só porque o visado é político. Eu não embarco nessa lengalenga de que os direitos dos políticos passam a estar coarctados por aquilo que exercem ou pelo que defendem, tirando em casos extremos em que defendem a perda de direitos de outros. E é por isso que não entendo a facilidade com que se desculpa o que aconteceu ontem culpando antes o agredido. Pediu Vital Moreira para apanhar porrada? Faria parte do seu programa de campanha acabar insultado e agredido de filho da puta e traidor em pleno 1º de Maio?
A manifestante citada no público tem razão: a cegueira de uns poucos deu cabo de qualquer valor intrínseco que se pudesse aproveitar dos discursos da esquerda no dia que é dos trabalhadores. É que – tirando da equação Vital Moreira, que obviamente até anda à caça do voto – perderam votos (e credibilidade) por uma coisa tão simples e aparentemente evidente que é o facto de validarem e desculparem a agressão. Visto deste lado, não me parece justo ou sequer saudável – e a bem da democracia – dar votos a quem acha que a democracia é palavra vã, a campanha eleitoral anedota, o voto livre piada, só sobrando como válidos a agressão física, o insulto e a política musculada.