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«Spontanément, tout groupe humain se définit comme l’humanité. (...)L’étranger est regardé, ressenti comme irréductiblement autre; il est l’inassimilable, le barbare, le métèque.»
Philippe Moreau Defarges
Não penso que a crise vá depurar seja o que for, mesmo que deite borda fora muita da asneira e do abuso. Pelo meio, permitirá antes o retrocesso. E o humanismo e a tolerância voltarão a bater em retirada face à barbárie latente, sobretudo se a retórica fácil continuar a ver no estrangeiro um inimigo conveniente.
6 comentários:
sensível tema este, dear Hip...
não sei se comente, se releia e volte a ler, se aplique o teu conselho anterior e utilize o silêncio como uma valiosa pepita de ouro.
mas pronto, sou uma língua de trapos e difícilmente consigo ficar calado desde que tenha opinião.
desde que as grandes migrações terminaram e depois as fronteiras ficaram definidas eo mundo separado por estados e países, não vejo motivo para que os povos continuem a emigrar.
sobretudo os povos com diferenças religiosas de habitos e de tradições mais vincadas e até ortodoxas.
é evidente que são inúmeras as razões de quem entende estes movimentos e os apoia. para mim, todas cínicas e oportunistas. e, se outras razões não houvesse que "legalizassem" a minha afirmação, bastar-me-ia a evidência de quem emigra, fa-lo na sua maioria para melhorar a qualidade de vida, subjugando-se ao poder económico e "intelectual" de uma sociedade mais próspera que a sua.
num utópico acesso de humanismo, achamos todos que o homem nasce com direitos iguais de liberdade, saúde, educação e mais uma carrada de blá, blá, blás, e que por isso devem ser dadas oportunides iguais a todos para que todos possam ser iguais, por outro lado defende-se o direito à individualidade e à diferença, esquecendo-nos porém que a diferença na maioria das situações reais, gera incompatibilidade.
resumindo, se somos todos habitantes desta esfera achatada nos polos e todos somos diferentes apesar de iguais, das duas uma: ou não se respeitam fronteiras, raças, religiões, costumes, etc e isto se converte numa total bandalheira anarco-liberal, ou então, cada um no seu território com as suas leis e restantes predicados e sempre que se "visitarem, que seja por tempo determinado e acatando as regras do anfitrião, como manda a "Ordem Suprema da Sapatilha", ou "OSS"...
Mas, Bartolomeu, as migrações nunca acabaram. Nunca foram as fronteiras a acabar com elas. Pensemos no caso português: fronteiras mais ou menos estáveis desde o século XII, ainda fomos malhar mais um bocadinho nos árabes que restavam para estabilizar o resto. Depois, fizemos ali umas guerrinhas na fronteira e raios, Olivença até é nossa. De seguida, vamos de ir ali até ao Norte de África. Não chega e continua-se por África fora e mais além. Brasil? Ena! Pouco importa que até já lá houvesse gente, que até se fez bom dinheiro com o tráfego esclavagista. E as migrações continuaram, mesmo depois de já não haver nada para descobrir, desde os pés rapados que iam até ao Brasil fazer fortuna e regressavam depois para construir casas gigantes e comprar um título de Barão. Ou em África, que até se dizia portuguesa. Ou, depois, o Império já mais ou menos todo perdido, mandar os analfabetos e deserdados fazer pela vida na construção de França, da Alemanha, do Luxemburgo, do Canadá, dos EUA, da Venezuela e um pouco por todo o lado, aliás. Agora, o povo que nunca respeitou fronteiras, ou credos, ou fosse o que fosse quando andava a fazer pela vidinha quer fechar fronteiras. E os tantos de portugueses que continuam a partir? Os licenciados que vão, os outros todos que continuaram a ir para Espanha nos últimos anos até o crescimento espanhol rebentar? Vamos fazer o quê, agora? Caçar imigrantes com base na cor, na raça ou na habilitação literária? Eu tenho até problemas em conceber como um País de emigrantes consegue sequer acenar com a bandeira da xenofobia. E o pior é que é uma bandeira velha e de resultados já bastas vezes comprovados como funestos. Depois, a História, apesar das suas fronteiras, não foi justa nos movimentos migratórios da riqueza, nem da sua distribuição. E não foi menos porque uns quantos de pobres saltaram fronteiras para lutar pela vida, mas antes porque um punhado de poderosos foi à terrinha dos outros fazer pela própria vidinha. Num Mundo economicamente globalizado e financeiramente interdependente, fechar fronteiras migratórias já não resolve nada. É só meter a rolha a jusante e temo que, no fim, o dique acabe por rebentar bem mais acima. Mas, como sempre – e as crises anteriores assim o demonstraram – há sempre alvos fáceis para a retórica. Cá estão outra vez os imigrantes. Daqui a nada vamos fazer o quê? Arranjar umas janelas de cristal para partir numa única noite folia e deixar que o ódio endémico, sem nada resolver, sirva apenas de escape para as amarguras várias, quase todas sem terem nada a ver realmente com a cor da pele, ou o credo, ou a nacionalidade, muito menos a fronteira?
A tendência para a solução fácil... dá nisto!
Infelizmente nós os emigrantes - porque o sou - estamos habituados a ser olhados e tratados como usurpadores e resto da humanidade.
Queremos trabalhar e só servimos para fazer o que näo querem os outros. Aqui da janela da sala, é espreitar lá para fora, para os campos de espargos e ver as pessoas dobradas ao Sol todos os dias da semana... Quantos alemäes lá estaräo a trabalhar? Ou vai alguém desdizer-me que só o explorador das terras é quem manda ali e o resto do pessoal é emigrante? Se calhar pudesse eu e estaria também ali para receber uns cobres...
Pois dá. E temo que muitos dos que se apressam a votar nem sequer tenham pejo em manifestar-se contra o que aconteceu a imigrantes portugueses em Inglaterra. E talvez até ficassem muito chocados se, de um momento para o outro, o seu passaporte Schengen fosse revogado :(
Eu nunca me vi no papel de emigrante e nem sei bem o quanto deve ser revoltante para ti e para tantos que apenas querem viver e trabalhar em paz uma situação destas, Adoa. Mas o princípio da xenofobia, assim transformado em bandeira, não pode dar bons resultados, da mesma forma que a não integração do diferente, a forma como se põe o outro em espaços reservados e condicionados, o empurra para as franjas da sociedade, apenas acabará por causar dano, perpetuando a desconfiança e o ódio, já não tanto de quem discrimina e sim cada vez mais de quem se sente discriminado.
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