2009-05-05

Um país de mamarrachos

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«"No caso em apreço, não há notícia de crime", refere a Procuradoria-Geral da República, concluindo que "afastada a possibilidade de investigação criminal, resta a investigação histórica ou a política, domínios que, contudo, escapam por inteiro à área de intervenção do Ministério Público".»

in, DN


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Entre as casas em ruínas nos centros das grandes cidades em que ninguém mexe não se sabe bem porquê, até aos chalés "tipo la maison com janelas tipo la fenêtre" dos vilarejos onde emigrantes tentaram espelhar em casas absurdas como a vidinha lhes ia correndo bem lá pelas estranjas, a paisagem urbanizada portuguesa chega a ser tenebrosa e os culpados deviam ser punidos. Para além de restantes contornos da situação (quem desenhou? quem assinou o projecto? como foi licenciado?) há uma questão maior de bom gosto e saúde pública, que também se mede pela envolvente urbanística. Desta vez, José Sócrates escapou por prescrição. Mas espero mesmo que a história não o esqueça: um mau gosto desta magnitude, apesar de não ser crime, não merece desculpa.

10 comentários:

PreDatado disse...

Eu não tenho a certeza Hip, mas atendendo à discussão anterior sobre o primeiro de Maio cheira-me que esse mamarracho foi mandado contruir por Brejnev para passar férias em Portugal. Confirmas?

Beijocas.

Hipatia disse...

Não confirmo porque não entendi, Pre. Ou se calhar não quero entender. Embarcas na ideia de que uma crítica ao PC e à CGTP tal como os vejo (mumificados, sectários, demasiado parecidos com o que eram no tempo do Brejnev) quer dizer que, afinal, não estou a criticar aqueles e antes a defender outros?

Bartolomeu disse...

Caraxas... estou a fikar lerdinho... não me consigo localizar neste post. ou seja... não consigo apanhar-lhe o sentido. não te queria incomodar, mas vou ter de te pedir que me faças um desenho Hip...

I. disse...

Ah, as casas à la maison... expressão que também uso e herdei de mamãe ;)
Se o mau gosto fosse crime, metade dos construtores, arquitectos e membros da Câmara que licenciaram certas obras (lá obrar sabem eles)estavam presos. Lisboa parece um estendal de absurdos. E volta e meia, lá cai outro prémio Valmor :/

Adoa Coelho disse...

Mas achas que alguém assina estes "projectos"? Fica sabendo que 80 a 90% das construcöes feitas em Portugal näo têm a assinatura dum arquitecto. Ou se a têm foi só para receber ao fim do mês o seu, porque nem devem ter olhado para os tracados. Isto é uma informacäo dada por uma professora (arquitecta) minha há +- 20 anos (estou velha!). Por aqui podes ficar a pensar com muita seriedade no lugar onde passas as tuas noites muito sossegadita a dormir (quando dormes...).

Sabes que em Portugal os geitosos trabalham mais que os doutorados.

Hipatia disse...

Meu caro Bartolomeu, costumas olhar para as casinhas que te rodeiam quando estás parado no trânsito? Eu, quando desço à zona histórica do Porto, a tal que até é património da humanidade, fico desolada com a quantidade de casas em ruínas em que ninguém toca ou quer tocar; depois, lembro algumas aldeias tradicionais aqui do Norte, mais as suas casas típicas e, mesmo ao lado, mamarrachos inconcebíveis. E isso acontece por uma falta de rigor que deforma e empobrece a paisagem urbanizada. Ter lido ontem que o tal processo das "maisons" assinadas pelo Sócrates tinha ficado em águas de bacalhau e vendo como a Procuradoria atirava agora a responsabilidade para o "julgamento histórico" do que andaram permitindo as autarquias com os seus licenciamentos e o que andaram a assinar engenheiros técnicos, engenheiros e até arquitectos, resolvi cobrar esse mesmo julgamento. É que eu faço-o, porque são demasiados mamarrachos em todo o lado. E desenhos não sei fazer.

Hipatia disse...

Obrar, obram muito de facto, I. E convém não esquecer o que representam os licenciamentos nos cofres das autarquias. Assim, até que ponto o licenciamento não virou apenas licenciosidade?

Hipatia disse...

Nem todos os arquitectos são santos, nem todos têm bom gosto e a maioria também não se importa com mais uns quebrados no final do mês depois de dar um autógrafo no papelinho, Adoa. Mas tens razão numa coisa: diz-me a experiência que a maioria dos mamarrachos foi licenciada à conta de uma assinatura de um engenheiro ou de um engenheiro técnico, em lugar de alguém que tivesse estudado de facto arquitectura.

Bartolomeu disse...

AHHHHHHH!!!!
Pronto, pronto, já intindi...
É ca coisa é tão evidente por todo o lado, quinté pinsei que te referias a algo mais... obscuro.
Mas claro que tens toda a razão, apesar de que, (e tb conheço a baixa do Puorto e a baixa de outras cidades cá do rectângulo e a baixa de muitas cidades da europa e do médio oriente) não vejo forma de conciliar um porradão de "ses" e de "porquês" que envolvem qualquer programa autárquico de recuperação e revitalização dessas zonas. Isto já para não falar das comissões e das associações e dos grupos disto e daquilo que miam como a porra em defesa do maralhal que habita as casas, mas que no fundo querem aparecer nas reportagens da TVI e da SIC para beneficiarem a seguir de um tachinho só para não levantarem ondas.
O costume... como dizia a minha santa avózinha «vá-se lá ser prior de uma freguesia destas»

Hipatia disse...

Obviamente que há demasiados interesses ao barulho e, como sempre, todos querem parte do milho. E, sim, não são só os mamarrachos do Sócrates, mas também. São os mamarrachos todos, até aqueles que podiam ainda ser recuperados para se transformarem em belezas da paisagem urbana e que, por motivos vários, vão-se degradando até caírem e, assim, sem grandes dificuldades, um novo mamarracho poder ser construído no lugar enchendo todos os bolsos barulhentos.