2006-01-19

Que dia!


aqui

E, agora, vou finalmente dormir!!!


(amanhã tento pôr as "conversas" em dia... er... quero dizer, hoje... bem, às tantas é mesmo amanhã... ai o caracinhas!!!!)

2006-01-18

Sentidos


aqui


A perda de um sentido será sempre uma amputação, mesmo que o corpo – e a mente – cedo lhe arranjem o substituto possível e o engrandeçam.

Se grandes pavilhões auriculares e bocas musculadas fossem a realidade conhecida, não se levantariam questões. Mas a natureza fez-nos com mais sentidos para dar mais cor – e sabor, e cheiro e sensações e paladares– a todos os diálogos.

E eu, que me esforço aqui para comunicar só por palavras, não esqueço que miro um écran e que são os meus dedos que teclam. Como não esqueço que sonho a cores. Como não esqueço que, quando ouço música, fecho os olhos e imagino aromas e gostos e sensações e imagens...

Estou feliz por ter todos os sentidos activos, mesmo que empobrecidos por, cada um deles, ao lidar com o ruído que os outros provocam, não ser a única forma possível do meu eu se situar no espaço e no tempo...

2006-01-17

Miminhos


Coil - Cardinal Points

O post que dedico a este e a este senhores, à conta de uma troca de mimos :)

Junto-me à corrente



Visto aqui, aqui e em mais alguns sítios, que não recordo agora :))



(Espumante, pode parecer, mas não foi de propósito... bem, quase nada :))

Pois está muito bem!


aqui




E até mereces os parabéns! Eu vou lamentando não ser da espécie que precisa de ter qualquer coisa direita para se sentir acrescentada...


PS - Não arranjei nenhuma ruiva sardenta para dar os parabéns. Alguma coisa contra morenas?

Kiss, kiss, bang, bang (*)

The Movie Of Your Life Is A Black Comedy

In your life, things are so twisted that you just have to laugh.
You may end up insane, but you'll have fun on the way to the asylum.

Your best movie matches: Being John Malkovich, The Royal Tenenbaums, American Psycho


Porque será que já nem estranho?

(Mas também deve ser por isso que adorei o Kiss, Kiss, Bang, Bang. Que grande filme!)


_____
(*) Kiss, kiss, bang, bang (2005), the Shane Black, com Val Kilmer e um "fabulástico" Robert Dawney Jr.

2006-01-16

Eu quero é ir para “a terra”!


Pisão = pedra embrulhada num pano. Uma brincadeira de Carnaval. Tem um esquema para ser atada e controlada de longe. Os brincalhões escondem-se e simulam o bater COM MUITA FORÇA na porta da vítima (por vezes deixa grandes mossas nas portas....). Escolhem-se altas horas da noite para esta brincadeira, que hoje em dia ainda tem lugar, no meio de muita risada, pois a vítima é escolhida pelo seu mau feitio. A vítima, ou vocifera e vai buscar a caçadeira, ou tem um belo "fair play" e convida os foliões para beber um copo...


No final de cada semana de aulas, habitualmente sexta-feira, Daniel escutava sempre a mesma frase dita por João, seu colega de carteira:

- Amanhã vou para "a terra"!

E "a terra" de João era longe, Canas, Canas de Senhorim, de que ele falava muitas vezes, até nas composições que a professora pedia na sala de aula. Assim, chegado o fim de semana, lá partia João com os pais rumo ao norte…

Daniel pensava então:

- E a minha terra? Se nasci aqui em Lisboa ...então sou daqui.

A cada segunda-feira, no regresso de João, Daniel sorvia com avidez as narrativas e descrições do seu amigo, passadas lá em Canas: Falava-lhe do Carnaval com os seus divertidos pisões, terminando a festa em despique bravo nas "quatro esquinas". Da sua avó sábia, mestre na arte do queijo, que sempre arranjava um momento para cozer magníficos bolos que ele comia regalado nas tardes chuvosas. Ou daquela história divertida da porca preta que resolveu fugir mesmo no dia da "matança" e, embora perseguida por uma família inteira através dos quintais, ganhara a sua liberdade. Talvez viva, ainda, lá para os lados do Mondego com um simpático javali. E aquela serra, todinha, vestida de branco…

Ainda por cima, Canas tinha um Rossio, algo muito familiar para Daniel, menino Lisboeta.

Daniel ficava a pensar em Lisboa, com as suas praças e avenidas apressadas, com uma expressão triste de quem não pertence a lugar nenhum.

Havia aquela coisa estranha, de que todos os Lisboetas eram sempre de outro lugar.

E Canas? Uma ideia começou a germinar na cabeça de Daniel:

- Quando for grande, quero é ir a Canas!

Até sonhou com aquela Canas imaginária.

Um dia, chegava o pai vindo do trabalho, Daniel perguntou-lhe:

- Pai, porque é que nós não "vamos à terra"?

- Porque a nossa terra é aqui. Respondeu o pai.

- Mas esta cidade parece não me pertencer...

- Vou-te contar um segredo… A nossa terra é onde está o nosso coração e, o nosso coração, sabe sempre o seu lugar.



Uma coisa Daniel não sabe, mas eu sei, como contador desta história, e vocês leitores também, porque a estão a ler: Um dia, Daniel irá finalmente a Canas. Lá conhecerá a irmã de João, Inês, encontrando o amor naquela bela rapariga nascida ali mesmo na Póvoa. O seu coração fará uma escolha, descobrindo finalmente a terra porque tanto ansiara.

Pois, como seu pai tinha dito:


- O Coração conhece bem o seu lugar.



Gaivina

2006-01-15

Who the hell am I


aqui


Tenho andado com uma questão a fazer ondas dentro dos miolos e não há maneira de lhe dar descanso. Talvez não haja descanso a ser dado, que isto não somos todos iguais e uns beberam mais chá em pequeninos do que os outros. Mas aflige-me que alguém que chega às caixas de comentários da Voz tenha o desplante de questionar - e em inglês (não faço ideia do porquê do inglês, mas adiante) - quem raios é a Hipátia.

Ora a Hipátia é um nick. O meu nick. Roubei-o do nome de uma matemática que viveu há muitos séculos e foi directora da Biblioteca de Alexandria, naqueles velhos tempos em que os Homens achavam que ter bibliotecas era mais importante do que construir estádios, ou aeroportos, ou avenidas. E não pretende ser mais que um nick onde escondo - nem sempre lá muito bem - a identidade da pessoa que existe para lá da net.

Uma das grandes vantagens da net - e também um dos seus maiores defeitos - é que por aqui escolhemos ser quem quisermos. A verdade fica sempre na penumbra, algures entre aquilo que somos, aquilo que gostaríamos de ser e aquilo que tentamos ser e apresentamos como fronha para o Mundo.

A Voz é só (mais) um recanto nos exercícios dos egos que são os blogues. O meu recanto. Mas, de cada vez que clico no enter para publicar seja o que for, deixa de ser apenas o meu recanto. Fica a público para ser lido, partilhado, citado e criticado.

Como vamos tentando transformar isto numa comunidade, a tendência é para, quando resolvemos comentar seja o que for, o façamos no sentido da "boa crítica". Pelo menos, é o que faço. Se não tenho nada de bom a dizer, prefiro não comentar. Não tenho por hábito ir para as caixas de comentários dos outros achincalhar quem escreve. Posso não concordar e, aí, darei a minha opinião. Mas não será uma opinião transformada em insulto, como é óbvio. Tenho mais o que fazer do que andar a insultar os outros na própria "casa".

Depois, há a questão das citações. Sempre usei citações. Gosto de ter as palavras de outros como rede dos diferentes textos sem rede que vou escrevendo. E nas citações até incluo as imagens que escolho e publico com cada texto. Não estão lá só para enfeitar. Têm uma função ilustrativa qualquer, nem sempre bem conseguida, mas isso já são outros mil réis.

Já fui citada por outros, também. E tiveram sempre a decência de remeter para este umbigo, referindo quem tinha escrito qualquer bojarda (por aqui não há nunca muito mais do que isso), sem que me sentisse por isso ofendida. Umas vezes, citaram-me para concordar comigo; outras só porque gostaram. E chegará o dia em que, provavelmente, o farão para discordar do que disse. O que também está bem. Porque eu cito muitas pessoas só porque não concordo com o que disseram, ainda que cite muitas mais porque disseram bem melhor o que me apetecia dizer.

Obviamente, ninguém parece questionar quando cito palavras de um autor consagrado. Ai parece não haver mal nenhum. Está lá a fonte e, se o gajo até já morreu ou está mais para defunto do que outra coisa, quem se lembraria de questionar tal?

Mas, se me atrevo a citar outro blogger e - oh heresia! - ainda ponho em causa as suas doutas palavras, vem logo a sobranceria de um "who the hell are you". Um qualquer "como te atreves a questionar o que digo, oh verme desconhecida". Pouco importa que tenha sido citado um post que já citava outro. Pouco importa que tal seja hábito até do nickinho empertigado.

A desconhecida Hipátia - que não anda pela net a lamber cus suficientes de quem anda por aqui metade do tempo a cultivar relações e outra metade a bater punhetas mentais à custa de uma qualidade de escriba que alguém lhe disse que tinha - é um nick como outro qualquer. Escreve. Publica. Tem leitores. E até tem comentadores. E não se acha demasiado importante.

Who the hell am I? Por aqui sou a Hipátia. E bastaria. Ou deveria bastar para a maioria dos nicks que, pela net, partilham comigo o prazer de escrever.

2006-01-14

Vamos lá dar a volta a isto!


aqui


A Capuchinho Vermelho vai toda contente pela floresta fora quando, num dos lados do carreiro, vê uma sebe a mexer. Precipita-se para trás da sebe e depara-se com o Lobo Mau agachado com os olhos muito abertos.

- Olá Lobo Mau - diz a Capuchinho - que grandes olhos tu tens!

- É para ver quando te aproximas de mim, Capuchinho! - responde o Lobo, levanta-se de repente e desaparece a correr.

Mais à frente a Capuchinho volta a ver um arbusto a mexer e, curiosa, vai ver o que se passa do lado de trás. Depara-se de novo com o Lobo Mau.

- Olá Lobo Mau, mas que grandes orelhas tu tens!

- É para ouvir quando te aproximas de mim, Capuchinho! - responde o Lobo Mau, levantando-se de repente e voltando a fugir a toda a pressa mata adentro.

Continuando o seu caminho, despreocupada, eis que, mais uma vez a Capuchinho Vermelho repara num outro arbusto a mexer. Mais uma vez vai espreitar e vê do outro lado o Lobo Mau, com os dentes cerrados e os olhos bem abertos.

- Oh Lobo Mau, mas que boca tão grande!

O Lobo Mau não se contém:

- É para te mandar pró caralho, que é a terceira vez que tento cagar e tu não me deixas!!!


É tão lindo quando vemos que, ainda hoje, as histórias da nossa infância continuam a dar pano para mangas!!!!

E estavam à espera de quê? Que viesse falar sobre o Cavaco Silva?

who's afraid of the big bad wolf, the big bad wolf, the big bad wolf... lalalala...

Contos de Fadas


Mais uma vez ela contemplou o Príncipe, com olhos turvos. Depois lançou-se ao mar, e sentiu que o corpo se dissolvia em espuma.

Hans Christian Andersen - A Sereiazinha



aqui


Penso que todos os finais felizes de todas as histórias ficaram congelados no tempo. E ninguém conta nunca o que veio depois.

Suponho que todas as histórias tenham um desses momentos de felicidade completa, absoluta. Se pudéssemos congelar esse momento com um magnífico e elaborado letreiro The End, nunca haveria lugar à contaminação com o frio real das verdades comezinhas que estragam os contos de fadas. Mas será que ainda seria vida, esta verdade suspensa no tempo, sem continuação?

Mesmo nas histórias infantis, sempre preferi as mais tristes: O Pequeno Abeto, A Caixa de Fósforos, Snegurka, A Menina de Neve, O Soldadinho de Chumbo, Os Sapatinhos Vermelhos... E sempre preferi a versão original da Pequena Sereia: ela também não tem direito a ganhar a felicidade eterna e congelada no minuto, mas ganha uma alma...

2006-01-13

Ausências


It's nice to come home
For a weekend
The children have grown
How I've missed them


Josh Rouse - Women and Men



Custa-me pensar que muitos homens ficam. Que ficam pelos motivos errados, mas que são, às tantas, também os mais certos. Como questionar as ausências doloridas? Como questionar a saudade? Como questionar o amor?

E, por uma data deles que faz tudo errado, há muitos mais que o fazem pelos motivos certos.

Portadora de uma visão enviesada, nunca me lembro de pensar no que sentirá um homem por não ver os filhos crescerem no dia a dia. Nunca me lembro de questionar o porquê dos filhos ficarem sempre com a mãe. Nunca os vejo como perdedores das relações defuntas...

E esqueço-me demasiadas vezes como pode ser dolorosa a solidão. Que amizade e companhia também podem ser sustento. Que hábito também dá paz. Que a rotina também pode ter o seu mérito.

Tenho tanto medo ver gente a acabar a pedir pouco à vida! Mas, como me disse o Frogas um dia, "ser velho ou velha numa cama vazia deve de ser xxxxxx"...




2006-01-12

Sinais positivos


aqui


- Então, como te sentes?
- Quando sair daqui, quero um bacalhau à lagareiro.
- OK, já vi que estás muito melhor!...

2006-01-11

(in)justiça


aqui


Uma morte rápida e sem sofrimento? Não! Antes ficar a mijar e a cagar para a fralda e, a haver justiça, vendo justiça ser feita - enquanto se baba, ranhoso -, a quem tanto injustiçou.

2006-01-10

Frágil


aqui

If blood will flow when flesh and steel are one
Drying in the colour of the evening sun
Tomorrow's rain will wash the stains away
But something in our minds will always stay

Perhaps this final act was meant
To clinch a lifetime's argument
That nothing comes from violence
and nothing ever could
For all those born beneath an angry star
Lest we forget how fragile we are

On and on the rain will fall
Like tears from a star
Like tears from a star
On and on the rain will say
How fragile we are
How fragile we are

On and on the rain will fall
Like tears from a star
Like tears from a star
On and on the rain will say
How fragile we are
How fragile we are
How fragile we are
How fragile we are



Sting - Fragile



Para a minha irmã.

2006-01-09

Saudades do Mar


aqui

E vais contar-me outra vez aquela história de quando andavas no mar, avô? Lembro-me quando me levaste a ver o teu barco. Que grande era o teu barco preto, avô. E tinha aqueles lençóis muito brancos no teu quarto a que não chamavas quarto; e uma janela redonda que só dava para o mar. Conta-me como era, avô. Lembravas-te de mim quando estavas no mar? E, agora, aqui na praia, contas grãos de areia como se fossem ilhas e as ondas como se fossem o ir e voltar?

Conta-me a história de como tens saudades do mar...

_____
Nem só na Voz se lançam desafios...

Já está!


aqui

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias

Ruy Belo - A Mão no Arado



(Mas ainda tenho medo...)

Olha mais um prémio!

Luna de Ouro "O que eu gosto mesmo é de uns bons forwards com powerpoints recheados de homens textos bonitos":


Então o Crónicas é que faz anos e a Voz é que leva o prémio, Luna? Não me parece bem!

Vai dai, cá está o meu presentinho, com um arremedo de lua. Espero que gostes de mais este... er... texto :)

Parabéns!

2006-01-08

Efeméride

O meu coração é um pássaro numa gaiola, agitando as asas na ansiedade da expectativa.

Ian Caldwell e Dustin Thomaso – A Regra dos Quatro


Faz hoje vinte anos que me apaixonei pela primeira vez. Ou, pelo menos, que me descobri apaixonada pela primeira vez.

Desde ai, só tenho complicado as coisas…

2006-01-06

Sexo explícito


Gaivina

O frémito, o quente, o arrepio.
O espasmo macerado, a eclusa.
O tremor, o temor, a consciência.
O grito.

O sal enfim. E o degelo...




Gaivina


Uma das coisas que mais gosto no sexo é o tanto que ele tem de implícito, na forma como os jogos, os olhares, os sorrisos, se medeiam e medem, como o não dito povoa os silêncios de tensão e tesão.

Gosto do jogo da sedução, da mesma forma que gosto do sexo brincalhão, profundamente lúdico e prazeroso, fazendo qualquer corpo belo nos seus tiques próprios, nas cores e nos cheiros do gozo pleno.

No sexo somos - ou deveríamos ser - profundamente livres. Talvez tão absurdamente livres que, depois, não saibamos transportar essa liberdade para o resto da vida. E porque nunca soubemos lá muito bem o que fazer com a liberdade e sempre a tivéssemos tentado enclausurar num qualquer espartilho doutrinário ou dogmático, vestimos o sexo de nojo e o prazer de tabu.

Existe sexo explícito? Claro que existe. Existe qualquer imagem de sexo demasiado explícita? Não me parece. O sexo é natural, enquanto a busca de prazer for partilhada e feita por adultos consentâneos. Nenhuma das imagens do sexo assim vivido pode ser demasiado explícita, porque não haverá nela nada contranatura.

Somos seres sexuados, hedonistas. Queremos dar e receber prazer. Saciarmo-nos sem limites. Não é feio, não é pecado. Se for forte, então é porque é intenso e também há dias para sexo assim. Como os há para a meiguice dengosa e frágil. E há um mundo de tentativas a explorar, partilhas implícitas de gozos bem explícitos.

Não há desenho que aponha vergonha ao sexo per si; a vergonha está nos olhos de quem olha e apenas sabe ler o pudor em que os dogmas nos tentaram aprisionar.

Por isso, Gaivina, não acho nenhum dos teus desenhos demasiado forte para ter lugar neste blogue. Nem sequer ousados e muito menos despudorados. São vida. Fazem parte da nossa vida. E pecado seria não a viver no que tem de melhor para nos oferecer.



Gaivina



Adenda: Troquei a ordem dos posts de hoje, porque a "oferta" que o Gaivina faz a todos nós merece!

Mito por mito



Nem a profusão dos argumentos consegue convencer. E fica provado porque é que os homens(*) nunca, mas nunca mesmo, entendem - ou serão algum dia capazes de entender - como pensa uma mulher.

Resumir tudo a um "Size matters" é redutor. Demasiado redutor para mais do que uma gargalhada.

E se eu, em linguagem bem coloquial, disser por aqui que o caralho mais lindo que vi na vida, vinha - infelizmente - acoplado a um gajo que não sabia foder, todas a mulheres entenderão do que falo. Alguns homens, nem por isso...


____
(*) também sei generalizar

2006-01-05

Psssttttt...


(recebida por mail)


Só para avisar as meninas que têm a caixa de correio cheia e/ou demasiado pequena, que acabaram de perder uma prenda. Veio devolvida ao remetente e... oh p'ra mim a ver se me importo!

E, sim, isto era para a Fausta Paixão e para a Lata Spray :))

Palestina


Ernesto Timor (my place)


O dia ainda não vestiu a noite,
Mas os automóveis acendem as luzes vermelhas dos travões.

Alguns condutores chupam pastilha elástica,

Acordam o silêncio que os acompanha no lugar do morto.

Se o lugar é do morto

E tu estás morta
O lugar é teu

Às vezes por isso ainda te amo
Às vezes por isso ainda te quero
Às vezes por isso ainda me venho
Às vezes por isso ainda te digo

Talvez que sempre que me vim foi na tua boca,
Talvez que sempre que me vim embora
As pernas desobedeceram a uma cabeça oca

Na Palestina construíram um muro que te matou
Aqui construíram um muro que diz que ainda vives

Ivar Corceiro


Este foi o poema que o Ivar - em concurso para o Escritor Famoso (*) - dedicou em Novembro à Rachel Corrie. Elegi de imediato este como "o" poema em que queria votar. Pela dedicatória, pelo direito a não esquecer, pela obrigação de recordar quem tenta fazer a diferença e paga por isso o maior dos preços.

Na altura, comentei por lá como recordava a morte desta jovem e a força da vergonha de mais um muro sem vergonha. De como Gaza e toda a Palestina são, hoje, desgraçadamente cruéis, escondidas, vergonhosas. Os factos são conhecidos. A História - a tal com H, bem diferente das estórias que nos querem contar -, essa será feita um dia. Talvez quando não formos mais do que pó e a Rachel já for também como o pó do deserto que acoberta, mas não esconde, a cegueira do ódio, da guerra, da sede de poder das corjas assassinas.

E isto vem a propósito do quê? Ora! A propósito do Ariel Sharon, claro, e do texto que o Daniel Arruda escreveu (*). E da elite que pretende governar Israel, desgovernando toda uma região. E eu nem chego a perceber bem como é possível. Não foi, afinal, aquele o povo que mais provou do fel deste tipo de ideário?



ADENDA: Obrigatório ir ler este site, que o Ivar recomenda ali nas Outras Vozes.

________
(*) link ali à esquerda
(**) ver link no post infra, que hoje estou preguiçosa

Tem dias...




But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell I'm doing here?
I don't belong here


(Descaradamente "roubada" ao Daniel Arruda, do Troll Urbano. Cliquem na imagem e viagem com os Radiohead)


___
imagem originalmente aqui

2006-01-04

Vício


Bem sei que este que vos escreve (...) não é nenhum doutor bem empregado que ocupa um quarto do seu dia útil a cultivar relações de conveniência para manter a sua aparência de gajo indispensável no meio. Não senhor. Este que vos escreve anda por aqui como muitos outros andam, em busca de palavras, encontrando muitas vezes pseudo-palavras que flúem na esfera como postulados da escrita e da opinião.


Torres Ferreira
- Coisas Boas




aqui

Tenho alguns. Terríveis. Fumar é um deles. E, cada vez que me sento em frente a esta máquina infernal, os cigarros seguem uns atrás dos outros, ao ponto de lhes perder a conta.

Os outros vícios são mais privados ou, pelo menos, não sinto que os partilhe com muita gente: alguma música em qualquer forma e um bom livro em qualquer feitio; um chá bem quente em frente ao mar invernoso, enquanto leio o jornal; os muitos cafés sem açúcar que me aguentam o dia; as gargalhadas a despropósito, saboreando piadas que parece que só eu vi. Ou uma ida ao cinema, sem pipocas, em especial sessões tardias e com lugar marcado. Mas também o DVD de aluguer, para ver esparramada no sofá, embrulhada no quente de uma manta. Essa é a altura para outro vício, um feito de dramalhões alheios que me permitem chorar até lavar a alma com desgraças que não são minhas.

Depois há ainda os vícios que o recato me impede de descrever e esses são tão melhores quanto mais a imaginação se permitir livre. Não se partilham à toa, para encher texto ou deitar conversa fora. Contam-se em segredo, sussurrados, como um sopro quente ou um breve beijo.

E há a net e esta mania de conhecer gente nova, deixar-me surpreender de mansinho por palavras perdidas onde me perco também.

As palavras podem ser tão vãs, tão vazias... Mas são um vício. Um vício que me prendeu há muito. Há mesmo muito tempo. Tanto tempo que nem me recordo de não saber ler, de não saber escrever. E se as palavras podem ser um vício, se podem ser uma arma, são também o instrumento perfeito para dizer o que os olhos não vêem, mas o coração sente.

Sou viciada em palavras. Mais depressa largava os meus cigarros do que esta necessidade de fazer das palavras que encadeio as pontes para quem quero sentir próximo.

2006-01-03

Parabéns, carago!


aqui


Será que posso dar palpites para o nome ou, depois de ter escolhido o nick Hipátia, qualquer fé que pudessem ter no meu bom gosto ficou completamente comprometida?

Olé!


aqui

12) – Melhor blog na categoria de "comPILAções, onde o erótico vai por cima, o satírico vai por baixo e o burlesco vai por onde der mais jeito"



Olha um
prémio! A Voz teve um prémio. Um 12º lugar. Mas é prémio, ora! E ainda por cima, um daqueles prémios que dá para meter onde der mais jeito, certo?

Ah pois é! Tungas! Um prémio, lalalala :)))



(Tem taça,
Espumante? Se tiver, quero só cheia, s.f.f.)

2005-12-30

Parabéns, Misty


Madison County, Iowa


Um dia pediste-me que escrevesse sobre pontes e sobre amor. E eu disse-te que já não sei falar de amor.

Um dia pediste-me que falasse daqueles momentos em que temos de decidir jogar a vida, empenhar o futuro ou jogar pelo seguro, e eu disse-te que já não sei como encontrar esses momentos.

Um dia entraste no meu blogue e arranjaste o teu lugar por cá. Entraste na minha vida. E estás nos meus afectos, nas minhas rotas diárias.

Pediste-me para falar de amor e eu já não sei falar de amor. Pediste-me para falar de futuro e eu ando ainda à caça do meu. Pediste-me para falar de pontes...

Pois as pontes são estas, afinal. O saber que fazes anos e poder deixar-te aqui os parabéns. O saber que nos encontramos por entre as linhas cruzadas dos diferentes futuros possíveis, por mais improváveis, por mais distantes. E, atrás dos nossos écrans, construímos as nossas pontes.

Não te vou falar de amor. Tinha pensado em falar antes de amizade. Mas se calhar nem é preciso: ao construirmos estas nossas pontes, garantimos que de amizade não é preciso falar, basta antes apreciá-la, como eu aprecio ter-te ai desse lado da net, por perto sempre, amiga.

A ponte já está feita. E é nossa!

2005-12-29

Feliz Ano Novo


aqui


Não tenho tempo!

Já repararam que não tenho tempo, não é?

Se cada fim de ano é sempre caótico, este está a tomar proporções de hecatombe. Hoje sentei-me no sofá para tirar os sapatos e acordei passadas duas horas. Estar a levantar-me mais cedo uma hora não está a ajudar à festa, como é óbvio. Estar a sair tardíssimo do emprego também não. E dez minutos à hora de almoço não dão para nada. E este tiquinho depois de jantar muito menos...

Vão ficar por personalizar os meus votos de boas entradas em 2006. E lamento que assim seja. Mas agora tenho de escrever o post que quero ter aqui amanhã, como ontem aproveitei para escrever o post que queria ter aqui hoje. Um mesmo motivo: capricornianas teimosas e adoráveis.

Espero que todos que por aqui passam - particularmente os que por aqui foram deixando rasto e construindo um lugar - cheguem a este final de ano com a sensação de que foi cumprido plenamente, mas que agora se abre um novo horizonte de perspectivas. Que haja brindes na noite de ano novo e que haja esperança e sorrisos na manhã seguinte. Que cada desejo transformado em uva passa engolida à pressa, seja transformado em realidade e degustado com tempo e prazer. Que seja um ano melhor. Estamos todos a precisar de um ano melhor. Mesmo que o Cavaco Silva até ganhe as eleições, terá de ser um ano melhor. Que nos políticos há muito que já ninguém confia para mudar o Mundo, muito menos para nos dar felicidade. Essa é nosso dever procurar; é a nossa meta. E só a nós cabe empreender a jornada.

Desejo-vos a maior das felicidades. Mas também a consciência de que existe o outro lado, que há tristeza e há dor. Porque só podemos realmente apreciar o bom quando conhecemos o mau; porque o que nos é oferecido de bandeja nunca terá aquele gosto requintado da conquista árdua e do conhecimento adquirido.

Sejam felizes! Riam, cantem, pulem. Chorem quando for preciso. Atirem o mau para trás das costas e encontrem ainda motivos para sonhar. Encontrem-se convosco, mas não esqueçam de olhar o outro. Estendam mãos como estendem palavras por aqui.

No fundo, desejo a todos os que partilham comigo este cantinho escondido da net o mesmo que desejo para mim: um "nunca pior". Ou, como se costuma desejar por estas alturas e que deveria ser desejado a cada dia, que o melhor de ontem seja sempre o pior de amanhã. No intervalo entre o passado e o futuro, não se esqueçam de gozar cada momento.

Deixo-vos um sorriso. É a minha candura possível e aquilo que, provavelmente, melhor sei dar. Nunca fui beijoqueira na vida e os abraços não se dão, partilham-se. E, para esses, acredito que também chegará o dia.

Fiquem bem e até já :)

Parabéns, miga!





Estou aqui a olhar para a foto de duas "tolinhas" em cima de uma cadeira, enquanto esperam as doze badaladas que inauguram 2005... Todos os outros permanecem de pés bem assentes no chão. Nós começamos prontas para o salto, a caminho do futuro. E gosto quando partilhamos estas coisas.

Começamos 2005 às escuras, lembras-te? Mas começamos juntas. Este ano não vai poder ser. E vou sentir a falta do nosso abraço.

No entretanto, há o dia de hoje. E, tal como o ano passado, ofereço-te um mundo de luz. Mais pudesse, mais oferecia. Mesmo que também fosse bem capaz de oferecer ao nico umas tesouras e assim...

Beijo grande de parabéns, miga :)

2005-12-28

Resumo de um ano banal


Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e, de outro, esquecimento.

Cecília Meireles


Não mudei de emprego, não troquei de casa, não troquei de carro. Fui aumentada abaixo da inflação, ganhei uns prémios, perdi outro por 69 pontos (cabrão de número!). Deram-me cabo do juízo e eu dei cabo do juízo a alguns. Mandei os médicos pastar e os remédios pela retrete abaixo. Emagreci uns quilos e tive de comprar roupa nova. Comprei uns sapatos novos para o carro. O mais longe que viajei foi Barcelona, mas a feira do sexo já tinha acabado. Não troquei de homem, fui trocando. Não me apaixonei nem me partiram o coração. Fui ao cinema como de costume. E fui para os copos de vez em quando. Aproveitei para visitar amigos, mesmo que as saudades não parem de aumentar. Quase morri por duas vezes. Chorei muitas mais. Ri-me desalmadamente sempre que pude. Insultei condutores e políticos, com a mesma vontade e igual vigor. Confessei pecadilhos e lidei com culpas. Pedi desculpas um par de vezes. Pediram-me desculpas a mim. Não fiz um filho. Nem escrevi um livro. Nem plantei sequer uma árvore. Fui mal humorada, cabra muitas vezes. Ofereci ajuda sempre que o soube fazer. Escondi-me da vida mais um bocadinho e irritei-me por deixar a vida passar. Senti-me velha. Senti-me jovem. Fui ingénua. Fui sabida. Fui teimosa e fui mordaz. Fui amiga, acho, mesmo que nos meus silêncios. Fui ausente, demasiadas vezes. Estive presente sempre que me pediram. Beijei sempre que pude e tive vontade. Irisei-me com um par de assuntos e não sei quantas palmadinhas na cabeça. Confundi-me. Perdi-me. Calei-me. Gritei de dor e de prazer. Chorei com as histórias dos outros. Guardei as minhas lágrimas, como de costume. Aprendi algumas coisas. Repeti erros velhos. Não sonhei o suficiente...

E não aconteceu nada de importante...

2005-12-27

Blogue chato


aqui



A Duende queixa-se constantemente de problemas de acesso à Voz. Mais alguém tem sentido dificuldades ultimamente? É que não sei o que se passa. Deste lado o blogue abre normalmente e nem sequer me dá qualquer tipo de erro de página.

Todas as sugestões são bem-vindas!

2005-12-26

Teia

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia - Auto-retrato



Quase sufoco na vontade que tenho de contar-te como foi. Mas fico calada. Não digo! Dou-te a provar o suave veneno da espera curiosa, enquanto me amofino neste silêncio que, por teimosia, escolhi.

Presente de Natal




Este meu presente é só para os que clicarem primeiro no embrulho. É que está quase esgotado e a próxima remessa é só para o ano...


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imagem original aqui
(tks Babs)

2005-12-24

Natal


ecardmania

A todos os amigos novos que se juntaram ao longo deste ano à fuga da minha voz do silêncio que a agrilhoa e a todos os amigos antigos que, por aqui, continuam a acompanhar-me neste rasgar de todos os silêncios, desejo o melhor dos Natais.

Obrigada por estarem por ai!


Sufjan Stevens - Come On! Let's Boogey to the Elf Dance

2005-12-23

Consoada

Soa a palavra nos sinos,
E que tropel nos sentidos,
Que vendaval de emoções!
Natal de quantos meninos
Em nudez foram paridos
Num presépio de ilusões.

Natal da fraternidade
Solenemente jurada
Num contraponto em surdina.
A imagem da humanidade
Terrenamente nevada
Dum halo de luz divina.

Natal do que prometeu,
Só bonito na lembrança.
Natal que aos poucos morreu
No coração da criança,
Porque a vida aconteceu
Sem nenhuma semelhança.


Miguel Torga - Natal


Teria que esquecer-me de mim para esquecer cada Natal. Do ir - friorenta, ano sim ano não - a casa de uns avós sem mais netos. Ou de ficar, nos anos de permeio, na confusão magnífica da família grande. Teria de esquecer o barulho que fazíamos, os jogos que ficavam para depois da meia-noite. Teria de esquecer as confidências e as inconfidências ou a forma como devorávamos os doces pela madrugada. Teria de esquecer que já fui criança. Que havia lareira e doces e brinquedos. E os primos e as primas, além da irmã. Teria de esquecer uma casa que já não é nossa, a família que se foi dividindo por casas novas e famílias novas e novas crianças, com novos brinquedos.

E, no entanto, amanhã à noite haverá casa cheia e doces e bolos e lareira. E crianças a brincar. E jogos depois da meia noite. Confidências e inconfidências, como de costume. Será noite de consoada em casa de família grande...

Porque será que já não sabe ao mesmo?

2005-12-22

Estranheza


aqui

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa - Uma Voz na Pedra


Estranho mesmo é, na virtualidade, tanta gente me elogiar a gargalhada. Mesmo aqueles que nunca a ouviram...

2005-12-21

Ai o caraças!


aqui


Sou tão lerdinha! Só hoje percebi quem era o tal de António que tinha sido assassinado e havia mais candidatos ao crime do que jobs para os cartõezinhos cor-de-rosa.

Um pouco mais de azul




Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mário de Sá Carneiro - Quase


Antes do Entroncamento, existia a 1 Pouco Mais de Azul. Ou a Azul. Ou - de forma mais carinhosa - a Azulinha. Depois do Entroncamento, existe apenas a Zu. O que mudou? Quase nada. E, no entanto, mudou tudo. A Zu é bem mais do que um simples nick. Tem cara, olhos, sorriso. Tem uns olhos azuis da filhota atrelados. E tem as outras Mosqueteiras atreladas também. A Zu é o ponto de passagem maravilhoso que é possível cruzar por vezes na net, quando deixamos de lado as máscaras onde tentamos esconder o nosso anonimato e passamos a ser mãos estendidas, prontas para afectos.

A Zu faz mais um aninho. E foi neste aninho que aprendi a conhecê-la. De certa forma, penso que foi um aninho que lhe fez bem. Anda mais perdida da net, escreve cada vez menos... Mas completou um percurso que a prendia a demasiados papéis e a demasiadas teclas. E deu uma volta por dentro também, acho.

Penso que a Zu não lamentará celebrar este novo ano. Nunca podemos lamentar celebrar um ano de conquistas.

Parabéns, minha querida. Leva lá um beijo "mosqueteiro".



(espero bem ter acertado no dia...)




2005-12-20

Dá-me música!


aqui



A todos, um bom Natal; a todos, um bom Natalllllleeee; que seja um bom Natalllllllll, para todos nós... la la la la lalala...*


Segurem-me, que é melhor! Podem ter a certeza que não iam gostar de me ouvir cantar. Até o Hino fui proibida de cantar na escola primária. E não costumam proibir cromo algum de cantar o Hino. Vejam só quantos não se estão a fazer à fotografia da mão ao peito e Hino desfiado, após Janeiro...


(* as coisas que aprendo a ler a Sofia...)

Ufa!



aqui


Acho que, finalmente, já está tudo...

2005-12-19

Só para informar...


aqui

... que estou de dieta, seus afogadores de ostras em cerveja preta!

Plágio do dia


aqui



mas eles parecem respeitar as mulheres. muito. e se nos mostram fotos de modelos ou actrizes semi-nuas, é pela beleza da imagem. de resto as "novas mulheres" também o fazem pela mesma razão. ficamos com a impressão de que são eles que passeiam os bébés nos carrinhos, que são eles que vão ao médico com os filhos. que cozinham melhor que as mulheres e acham graça à falta de jeito delas. preocupam-se com a saúde delas, pedem-lhes gentilmente que deixem de fumar. querem sexo com sentido porque odeiam aquele vazio que aparece depois de comer uma gaja. sabem como é, aquilo acaba e um tipo fica de repente com as calças na mão e ... ao mesmo tempo oferecem cumnilingus antes delas terem hipóteses de sugerir o felatio.

eu acho que a blogosfera, que é um media genial porque é media sem ser mass e por isso nos dá todas as sensibilidades pessoais, nos revelou esses "novos homens" que tanto queríamos encontrar. depois, eles não confessam, mas devem demorar cada vez mais tempo a arranjar-se antes de sair de casa. e olham para o rabo quando saiem do duche. ou seja, já não coçam apenas os tomates, que é herança deixada pelos "velhos homens". por outras palavras, eles estão mais femininos sensíveis.

2005-12-18

Os postalitos...



Tenho tantos amigos tão exageradamente longe, que me pesa a distância mais ainda do que a própria saudade.

Tal como o ano passado, mantenho os postais em suspenso e um nó na garganta cada vez que olho a lista de todas as distâncias que as amizades conseguem suportar. Mas é tão absurdo pensar em mandar um qualquer postal com palavras banais...

Abro páginas atrás de páginas de desenhos repetitivos e mensagens pisadas e repisadas em todos os Natais. As mesmas palavras, os mesmos bonecos, as mesmas animações. Não encontro nada que me agrade. Não encontra nada que me pareça suficientemente bom, suficientemente diferente.

Queria poder abraçar cada amigo este Natal. Dar num beijo o calor do meu abraço; dar num sorriso todo o carinho que me percorre. Queria ter cada um por perto, partilhar com todos uma lareira acesa, o cheiro a pinho, um copo de maduro tinto, uma história. Queria poder fazer de todos a minha família na noite de consoada, abrir-lhes a minha casa, dizer a cada um como está no meu coração.

Tenho as minhas saudades espalhadas pelo mundo fora. Pesa-me a distância. Pesa-me tanto esta distância que todos os anos ando à volta dos postais de Natal e nunca consigo nada de jeito. É que não queria que fossem só palavras. Palavras vazias, ditas por todos. Queria ir junto, receber por cá os amigos...



Boas Festas!

Hadjni


Gaivina

O final do Verão traz sempre consigo poderosas trovoadas que fazem estremecer as vidraças do atelier, ali na praça Klausal, no centro de Peste. O ribombar seco, vindo dos lados do rio, ocupa toda a minha Budapeste. Vive-se uma atmosfera expectante de uma chuva que não cai ali, mas nuns quarteirões mais à frente, é capaz de lavar os restos das noites silenciosas da Hungria.

Aqui desenhei e vivi, no centro do antigo Gueto Judeu ao sabor do Outono.

Pediram-me, um dia, se não poderia ir dar umas aulitas de modelo a uma escola de jovens estilistas. Anui, achando que me faria bem sair um pouco da clausura do desenho. E soube muito bem...

Tinha duas jovens à minha disposição para essas aulas: uma, loira, vivida e insinuante. A outra, discreta e magra com os cabelos de um negro profundo: Hadjni.

Esta, acabou por tornar-se minha companheira no desenho, ao deixar que o meu traço percorresse o seu corpo à velocidade dos olhos.

O pintor húngaro que me apresentou as modelos, dissera de imediato:
- Essa? Mas essa é lésbica...

Hadjni trabalhava numa loja de produtos dietéticos em Buda, tomando pontualmente o eléctrico, na praça Karl Marx, para chegar à hora combinada ao meu atelier. Ganhava 2 euros, preciosos ( no ano de 1999 ), por cada hora em que desvelava o seu corpo aos caprichos daquela grafite que me deixava os dedos tintos de negro. Não me era estranha essa capacidade de combate dos húngaros. Conhecera um médico que preferia servir às mesas no "Café Opera", ganhando as gorjetas depois de cantar árias de compositores famosos, a fazer horas de banco, mal pagas, no hospital central.

Assim, em cada final de tarde, lá aparecia Hadjni cheirando a champô de frutas, tirando a roupa, de onde sobressaiam umas cuecas lindas às flores, de cores vivas.

Uma vez, foi um amigo homossexual que a veio trazer à porta, na esperança de eu querer um modelo masculino: não me apeteceu.

Fico ali estabelecido um tipo de relação especial entre modelo e artista. Fartámo-nos de trabalhar ao longo daquelas tardes abafadas, com pausas para o sumo de laranja, trocando impressões sobre as nossas vidas e nossos rumos. Depois de cada sessão, lá para os lados de Buda, a sua amante, mais velha, esperava-a. Então, a bela modelo vestia a sua roupa, cingida ao corpo, e lá ia escadas abaixo, sem que se escutasse o barulho dos passos contra o soalho. No dia seguinte lá estaria à hora combinada.

O trabalho e a comunicação correram tão bem que, um dia, no final da sessão abraçámo-nos e o beijo surgiu naturalmente:
- Oh! Beijei-te. Disse ela em Inglês espantado. Fora surpreendida por ela própria.

Mas a coisa ficou mesmo por aí, e nos desenhos que testemunham a passagem desse corpo pela minha vida.

Gaivina

2005-12-16

MENS AGIT MOLEM


foto: Helena Almeida



Mensagem absorta no conflito da resistência
Entre valores que respiram saudade
Na bruma cinzenta das imagens
Sentados nas sílabas afogadas

Amanhecer nos actos nocturnos
Gritos de soldados da memória nas pálpebras
Invisíveis guerras travadas na insónia
Tentativa de parto silencioso

Memória bebida nos olhos dos lençóis
Ordem no caos
Lentamente…observas a ebulição de lágrimas frias
Erupção vulcânica de corpos molhados
Mergulho inconsciente no sopro dos teus lábios


Se me sentar nas sílabas afogadas e beber a memória daquela noite na erupção vulcânica dos lençóis, poderei mergulhar nos teus olhos?


Nuno Albuquerque Vaz


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Este é o contributo do Nuno para o desafio do Corpo. Ficou ao meu critério publicá-lo, bem como à imagem que ele escolheu para ilustrar um texto tão lindo. Como poderia resistir a publicá-lo? Como poderia deixar de o partilhar convosco?

Obrigada, Nuno!

E, agora, vou juntar-te ali em baixo, no sítio certo :)

Anime um Amigo


aqui


Pronto, Gaivina :)

É que não é uma questão de competição. É só mesmo de animação. Ora diz lá que não ficas animado com o que te deixo...

Norte

Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba


Mário de Sá Carneiro – Dispersão

Sou mulher do Norte, de olhos e tez clara. Corre-me nas veias o sangue dos Suevos e dos Visigodos, a par do sangue da latinização, ou dos judeus, ou dos árabes, que a linhagem não é pura, nem eu a queria tal.

E neste Norte - que é o meu - , a tradição passa-se ao borralho, de mãe para filha, no meio de tias e avós. Neste Norte onde se cantam músicas alegres e se faz guerrilha até hoje, preservando uma identidade, com uma vontade tão férrea que ronda o fanatismo. Este Norte que não é triste, nem quando os dias são frios e cinzentos. Neste Norte que sabe que o Fado não é a canção nacional, porque não há Fado que ganhe ao Vira. Neste Norte onde se tocam gaitas de foles e os pauliteiros ainda dançam em saias-kilt, onde os cabeçudos saem às ruas para espantar os maus espíritos e se procura o visgo dos Druidas nos caminhos do Gerês, enquanto nas penedias as capelas à Virgem substituem as grutas sagradas consagradas a Astarte, ou a La Morrighan, a grande Deusa, a força fertilizadora do caos, a Mãe – Mater – que dá origem à criação.

Talvez seja por tudo isto que não entendo como a sociedade do Norte pode ser tão poucochinha, tão fanática e canastrona, tão machista e patriarcal. Talvez as mães só saibam passar as tradições ao borralho para as filhas; no leite delas vai a tacanhice directamente para o cérebro masculino.

2005-12-15

Anime uma Amiga


(recebida por mail - clicar na imagem para ver melhor)


Como não tenho tempo para "blogar" e como fui alvo de uma "mão amiga" que resolveu animar-me o dia, decidi não ser egoísta e animar muitas amigas de uma vez.


(Como eu percebo o moço! Com o frio que está, temos de tentar manter as mãos quentes de qualquer maneira... E, verdade seja dita, não me importava nada de experimentar aquele forninho...)

Corrida Anual



aqui


Alguém estranha se eu disser que a comida estava fria e era uma merda? Que os colegas que não vi - felizmente - durante um ano, estavam ainda mais insuportáveis do que o costume? Alguém se espanta por me terem calhado umas peúgas no sorteio das "lembranças"? E ainda por cima com pais natal e renas?

A gripe está pior e amanhã há mais outro jantar-"convívio". Porra para o convívio! Pelo menos o tinto do de hoje ainda escapava... Mas amanhã... Numa churrascaria? Uma churrascaria? Estão a brincar comigo, só pode! Eu vi logo que não podia ser coisa boa quando os chefes se ofereceram para pagar... Promete ser (ainda) pior, portanto. Foda-se! Suponho que receberei qualquer merdice das lojas dos chineses, tão má, mas tão má mesmo, que nem terei coragem de guardar para distribuir no ano que vem...

2005-12-14

Até me faltam palavras!


cartas baralhadas


Estou profundamente baralhada, profundamente enternecida, profundamente saudosa. Estou felicíssima. Radiante. Sem palavras para a tanta da surpresa, do presente magnífico que me deixou no correio de voz do telemóvel.

Dizer-lhe do tanto de falta que me faz lê-lo, rir consigo, brincar um bocadinho, não chega para calar esta raiva por não ter ouvido o telemóvel. Dizer que o tenho procurado por esta net fora, ver em outros traços que me lembram de si. Dizer que gosto de si, porra! E que não lhe perdoo se não vier ver-me antes desse Feliz Natal que me deseja.

2005-12-13

Classificados



aqui


Eu queria uma história...

Ofereço ruiva para troca.

Não matarás!


Sadly one Sunday, I waited and waited
With flowers in my arms, for the grief I'd created
I waited 'til dreams like my heart were all broken
The flowers were all dead and the words were unspoken
The grief that I knew was beyond all consoling
The beat of my heart was a bell that was tolling
Saddest of Sundays

Then came the Sunday when you came to find me
They brought me to church and I left you behind me
My eyes would not see what I wanted to love me
The earth and the flowers of the lover above me
The bell tolled for me and the wind whispered 'never'
But you I have loved and I bless you forever
Last of all Sundays

Diamanda Galas - Gloomy Sunday





Se há coisa que não consigo imaginar é como viveria com a minha consciência se fizesse parte de um daqueles júris americanos, tão pródigos em condenarem pessoas à morte. Porque, se há crimes demasiado hediondos, uma condenação à morte é também um crime de morte. E haveria sangue nas minhas mãos...

Todas as vidas são demasiado breves. Todas são demasiado preciosas. Matou. Não tinha esse direito. Mas vinte e cinco anos depois - ou em qualquer outro dia - a quem cabe o direito de matar a coberto da capa da justiça, sempre cega?

E a cega justiça matou hoje. Pela mão do homem.

Cumpriu-se a lei. Morreu um homem nomeado para o Nobel da Paz. Mas será que se fez justiça? E quem lava o sangue das mãos dos que condenaram, ordenaram e não pararam a máquina cega da justiça assim vilipendiada no mais sagrado dos mandamentos: não matarás! Mesmo que seja para punir um crime de morte.

Nunca se fará certo um erro repetindo-o, ainda que a coberto da lei.

Não matarás!

Mas as mãos continuam sujas...

E Stanley "Tookie" Williams foi executado...