2009-05-07

Ruído


Umberto Boccioni

O formato post é fácil. Eu acho, pelo menos. Mas, ao mesmo tempo, nessa facilidade queremos pôr tanto que acabamos a esgotar algumas palavras. As mais complicadas, talvez, por mais usadas ou abusadas e por serem aquelas aparentemente mais simples. São essas as que mais facilmente precisam romper o silêncio e também as que ficam mais amputadas no seu sentido se não chegam a ser recebidas na melhor das condições por entre o ruído deste meio.

9 comentários:

Carlos Gil disse...

emissor/receptor nunca é uma relação sem interferências. ruídos? como naquele dito que-atribuem-ao-Pessoa-mas-afinal-não é-dele, guarda-os todos e um dia comporás uma sinfonia ;)

Bartolomeu disse...

Uma vez, respondendo a uma carta que lhe escrevi, Saramago referia-me certos conceitos imaginados como indizíveis...
Indizível pode ser ainda aquilo que não conseguimos expressar, como aquilo para o que não encontramos ou julgamos não existir a palavra que defina.
Bahhh, afinal quanto mais evoluímos, mais limitados nos tornamos... eu tenho saudades é daquele tempo em que saía logo de manhã da gruta, de lança na mão a farejar o ar para detectar por onde é que andava o cervo soculento que iria caçar e trazer prá Maria esquartejar e estender em tiras a secar ao sol, para morfar durante a inbrenia, enquanto ambos enfronhados entre peles de urso fazíamos Bartolomeuzinhos para aumentar a prole...
Oh Yeahhhh!!!!

Iris Restolho disse...

Creio que não existiria mensagem se não houvesse ruído. Este faz parte do processo da mensagem e da compreensão, a mais não seja, porque o cérebro nos diz algo que transformamos em palavras e o cérebro recebe algo que o transforma em palavras. A forma como é feita a transformação, cria ruído ainda antes do envio da mensagem e da recepção da mesma.

Carlos Gil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Gil disse...

(fui eu que apaguei o anterior: gralhas, e elas gralham pra caraças - o tema é "ruído", não esquecer)

quando se comunica, escreve, há sempre tinta invisível no aparo. tal como os olhos acompanham a fala, e falam. recordo-me que era feita com sumo de limão e passava-se um fósforo por baixo da folha para ler.
se não se lê a tinta invisível nem com holofote se entende o resto. se há erro não é da tinta criptografada. é falta de fósforo de quem tenta ler irmanado de burro a olhar palácios, o abuso de óculos escuros dissimuladores que de tanto (se) taparem cegam à leitura que ultrapasse as chispas, imaginamdo-as nascendo sozinhas. falta de fósforo que as labaredas não nascem assim: plof!
e é um plof que lhes dá. invisíveis no chinfrim, que de ruído só lhe conhecem essa Sinfonia

Hipatia disse...

O problema das sinfonias é que, por mais ensaiadas, às vezes apresentam fífias, Carlos :D

Sabes, quando era miúda, costumava brincar com tinta invisível. Muita Agatha Christie e é no que dá, lol (gostava particularmente da velha Miss Marple mas, nas brincadeiras sempre foram preferíveis o Tommy e a Tuppence). Lembrei-me agora disso e faz sentido. É que talvez por ter começado a ler muito cedo, penso que tenho um vocabulário relativamente diverso. E, no entanto, já não é a primeira vez que por aqui digo como acho que todos temos um léxico limitado. Depois, o formato post quase que nos leva a um jogo repetido de conceitos, expressões e até palavras. Ao fim de anos, quase já só sobra ruído. E há dias em que me dá assim umas pancas e me questiono porque ainda não desisti, não voltei para os velhos cadernos silenciosos cheios de letra corrida, como foi possível esvaziar tanto palavras de que gosto, como raios chegou a acontecer já quase chegar a digitar tão depressa como caligrafo. Depois a panca passa por entre a música. Com e sem fífias.

Hipatia disse...

Sabes, Bartolomeu, acho que falta aí uma palavrinhas, das tais bem simples que, quando presentes, podem fazer toda a diferença: aquilo que não conseguimos expressar bem; aquilo que não conseguimos definir bem. Penso que passa tudo mais por ai. E também o ruído. É que, de uma forma ou de outra, tudo o que imaginamos acaba de certa forma efabulado quando transposto para a construção que é a linguagem. E, no entanto, não está nessa capacidade de imaginar, definir e tentar expressar o intangível a aparente grande diferença do ser humano? Talvez por isso eu nunca ficasse satisfeita em ser mulher parideira da idade das cavernas, até porque essa parte ainda está em nós, mesmo quando nos tentamos afastar o mais possível da nossa animalidade. E também sempre houve ruído nesta dualidade permanente entre o homem que racionaliza e o homem que sente. Depois, há as palavras e o não dito e o ouro do silêncio.

Hipatia disse...

Penso que tens razão, Inês. Quase como naquele jogo de salão em que uma frase simples é sussurrada no início da roda e, quando acaba o círculo, já perdeu quase todo o seu sentido original :)

Anónimo disse...

Mais Vozes

Os teus posts nunca são vulgares.
Não são escritos por serem escritos.
Dizem algo... quer se concorde com eles ou não.
mfc | Homepage | 05.07.09 - 11:52 pm | #

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Obrigada!

Às vezes sinto que esgotei as palavras. Depois pergunto-me como poderia viver sem elas. E ainda há aquela mania de ter opinião, concordem ou não com ela
Hipatia | Homepage | 05.08.09 - 12:09 am | #