2006-03-07






Tinham vindo de exumar os ossos da minha avó sábia.
Minha mãe, acercando-me daquele jeito só seu, falou do medronheiro que crescera do crânio da minha avó morta.

Um belo arbusto com duas grandes raízes saindo das orbitas daquele crânio mudo, alimentando-se de uma riqueza que fora viva.
Era fim de um Verão-menino, tempo das grandes barrigadas de medronho maduro, deixando a cabeça andar à roda, tonta, perante aquele enorme horizonte que era viver...

4 comentários:

Hipatia disse...

Que coisa tão linda! Andas inspirado! E eu estou a adorar ler-te. Cada vez mais :))

Viver é sempre um horizonte enorme e, por vezes, sentimo-nos mesmo um pouco toldados perante a vida pelo tanto de grande que é :)

patologista disse...

Que belo texto.
E se um dia, do meu cadáver saisse uma oliveira, que útil que eu seria.

Maria Arvore disse...

Grande avó que sabia passar que a vida é uma grande horizonte. Grande texto. :)

(ao ler este post era como se tivesse de música de fundo a "linha do equador" do Caetano e toda aquela força :)

Miguel Horta disse...

Uma coisa não sabes, Maria.... Esta avó fazia os fatos dos meninos, para as procissões numa Portimão que já desapareceu. Foi a última mulhar da cidade a usar chapéu e escrevia poesia e "Pensamentos"
Obrigado Avó