2010-05-11

Expatriada

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Em dias como hoje, o País em geral e as televisões em particular, insistem em fazer de conta que eu não existo.

2010-05-08

Espaço

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E é que não gosto que me mexam, que invadam o meu espaço, sem convite ou provocação. Gente que se inclina, derrama cuspo e cheiro, enoja com visões de dentes tortos e pelos a sairem pelo nariz. O espaço necessário é a distância que vai do meu braço estendido em cumprimento e comprimento e a mão que se estende em direcção igual. Menos que isso é abuso. Invasão. E eu sou territorial e o meu espaço é o meu feudo. E reservo-me a armadura de mau humor indignado como convém.

2010-05-03

...and nothing else matters

Resumo alargado

E seguem... Ele, encostado,
Muito encostado e aquecido
Lá vai como se encontrasse
Um objecto perdido


António Botto, in "Reportagem"


E não há nada que me degele em igual medida a essa tua certeza - que encostas ao fundo das minhas costas enquanto me abraças, para que não me restem quaisquer dúvidas - de que, afinal, o Porto e o Benfica podem ficar para depois.

2010-05-01

Maias

© Rui Cardoso

Por sorte. Por fado. Por necessidade pagã de conforto. Ou por sentir o ar que vai aquecendo e o verde exuberante e os passeios possíveis à beira mar, pés descalços nas águas frias, enquanto a minha mão se aquece – e me leva junto – e se perde entre o morno dos teus dedos.

2010-04-29

Dias barulhentos

«Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.»


Álvaro de Campos

Gosto de um certo tipo de silêncio que apenas advém da fartura. Vem depois de abraços, de saudades, de beijos e de partilhas. Vem e fica, por instantes. E é dele que vou alimentando os dias barulhentos em que quase me perco de mim e das coisas e das pessoas que me preenchem.

2010-04-26

Cumprir Abril

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«A ala esquerda desta Assembleia parece recear a afirmação do sentido de nação, a ala direita parece temer o sentido do uso do cravo vermelho»

Aguiar-Branco, discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril de 2010



Talvez Abril só regresse pleno quando os jovens que hoje já nem sabem bem o que foi Abril se transformarem no povo novo, herdeiro dos avós e bisavós que cantaram as portas que Abril abriu e saíram à rua quando foi preciso, depois de muita corda, depois da corda rebentar. Ficará então a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum.

Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: os cravos já não terão cheiro, as canções revolucionários o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho, os símbolos ficarão escondidos sob pó e teias de aranha, a pátria confundida com outro mito qualquer. Mas, por não lhes ser mais exigido que cumpram Abril, talvez finalmente Abril seja cumprido.

2010-04-19

Húbris

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E é então, quando a Terra se zanga, que os homens se põem finalmente de joelhos.

2010-04-18

Parabéns, Deep




Brinca enquanto souberes!
Tudo o que é bom e belo
Se desaprende…
A vida compra e vende
A perdição,
Alheado e feliz,
Brinca no mundo da imaginação,
Que nenhum outro mundo contradiz!

Brinca instintivamente
Como um bicho!
Fura os olhos do tempo,
E à volta do seu pasmo alvar
De cabra-cega tonta,
A saltar e a correr,
Desafronta
O adulto que hás-de ser!

Miguel Torga - Pedagogia



Pronto: já me apanhaste :)

2010-04-16

Talvez



maybe I was born to hold you in these arms

E aninho-me e gosto de ninho. Deste espaço de aconchego onde volto a ser pequena e fraca e onde a ternura transborda por cada poro. Enrolar-me, encostar-me, deixar-me prender sem ser realmente prisioneira. Contornada. Amparada. Confortada. E enfrentar assim a insónia; e talvez ganhar.

2010-04-15

Se


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... o tesouro existe certamente, embora escondido por demónios brincalhões e continua impossível de encontrar nos labirintos das nossas perguntas e respostas...

Hugo Pratt – A Casa Dourada de Samarcanda



Ficar amarrado a imaginar o "e se" é pura perda de tempo, mesmo que por vezes seja muito confortável e muito mais seguro. De qualquer forma, sou demasiado velha para ainda perder tempo e demasiado nova para me conformar. No fim, sobram as surpresas e as mudanças, que me apanham sempre em contramão.

2010-04-14

Vez sem emenda

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Hoje (mas só hoje) podem chamar-me idiota. É verdade: idiota, estúpida, burra, parva, néscia, tudo iria bem (desde que não abusem, claro). Mas quem, senão uma idiota chapada, se deixa ficar em amena converseta dentro do carro com as luzes, os quatro piscas e ainda o rádio ligados? Pois aqui a idiota, além de maçar amigos, ainda tirou a família da cama para lhe ir dar um bocado de energia à bateria. E agora a idiota vai para a cama com a amarga certeza de que sim, o Gump tinha razão: stupid is as stupid does.

2010-04-12

Estou com frio!

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Acreditei no fim-de-semana e resolvi que, hoje, vinha festejar a prima, que parecia já ter chegado. E a gaja abalou outra vez, deixando um vento que corta, umas nuvens de ameaça e uma vontade de voltar à roupinha de inverno que já me preparava para arrumar.

2010-04-09

Complicómetro

«To see what is in front of one's nose needs a constant struggle»

George Orwell



Simplificar é um caminho muito complicado.

2010-04-08

As sandálias do pescador

.
«O porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, refutou as denúncias do jornal alemão “Stern”, que [acusou] Bento XVI de ter arquivado a investigação sobre pedofilia ligada ao religioso mexicano Marcial Maciel.»

in Agencia Ecclesia


O tempo dos mitos e dos medos há muito que foi escorraçado pela razão e pela ciência, ainda que tanta vez a crendice ameace instalar-se até entre os que se julgam mais esclarecidos. Mas os rebanhos já não encaram a fé e a crença por medo do além, do diabo, do que poderá estar para além da morte, dos sussurros que se escondem nas noites escuras sem luzes municipais. A fé é agora opção, as regras da fé e os seus dogmas são escolhidos a dedo em função dos interesses de quem escolhe, os fiéis tornaram-se não praticantes (nunca vou entender o que isto quer dizer!), não há dízimos obrigatórios para sustentar toda a parafernália e a crise da crença alastra, açoitada pelas crises de vocação que deixam os conventos vazios, as paróquias sem pastor, as igrejas sem fiéis, os divórcios, os casamentos civis, os padres que fogem para casar, as seitas concorrentes, o agnosticismo crescente e o ateísmo sem sobressaltos.

No meio disto, há uma Igreja que também é um Estado, com hierarquias e intrigas, correntes que apoiam este e aquele, interesses políticos misturados e sobrepondo-se à vocação de encaminhar as almas. E onde há homens – onde há políticos – há bom e mau, há gente séria, há sacanas e, sim, há até pedófilos.

Sobre os ombros deste Papa cai hoje a responsabilidade de reestruturar a sua Igreja. Não me parece que seja homem para o conseguir. Há muito que a Igreja vive aprisionada nas suas leis eclesiásticas, nos seus tabus, nos seus dogmas, nos seus costumes. Sobreviveu assim durante séculos e é resistente à mudança: porque a mudança pode ser catastrófica nos impactos que tenha sobre linhas ténues de poder, quer o poder que detêm os homens que fazem ainda esta Igreja, quer o poder de continuar a ser "a" Igreja, com o seu chefe supremo a quem todos devem vassalagem (por mais simbólica), até os líderes mais ateus ou laicos.

E se o poder corrompe, no seio da ICAR pode corromper duplamente: em mais nenhum caso se poderia sustentar qualquer falácia com base do mito da infalibilidade papal. Como pode Bento XVI mudar seja o que for, ou corrigir até o que fez, se a sustentação para o que é e como é tem bases na tradição, nos dogmas, no costume, até mesmo nos actuais sustentáculos da própria existência possível e continuidade da ICAR num mundo que, cada vez mais, apenas a reconhece como símbolo enquanto lhe retira poder? O poder simbólico é forte, mas nada tem a ver com o poder que advém do medo que reuniu a humanidade sub sino.

No final do filme a que roubei o título, o novo Papa "comunista" prepara-se para abrir os cofres da ICAR e salvar o mundo. Na terra dos sonhos, é assim fácil. No mundo dos filmes, é possível abrir cofres só porque sim e não há casamentos entre pessoas do mesmo sexo, ou divórcios, ou abortos, ou contracepção, ou ordenação de mulheres, ou homens falíveis capazes de violar crianças. E mesmo que às vezes pareça que a hierarquia da ICAR vive num mundo de faz de conta, a verdade é que a realidade lhe bate todos os dias à porta. E é preciso lidar com ela. E é preciso lidar com pessoas - ordenadas ou não - que fazem o rebanho que resta.

Numa Igreja cujo poder se resume cada vez mais ao simbólico e a ser por tradição do que foi, como pode um Papa, ainda por cima reaccionário e conservador, prescindir da infalibilidade de todos os que o precederam, negar costumes e regras, baixar o véu da aparência da fé para mostrar as negociatas do poder e o feio que vem com elas e aceitar a mudança de alguma forma e feitio?

Sócrates e Sarkozy, Putin e Clinton, Blair e Mitterrand, Bush e Zapatero, bem como todos os outros que nem vale a pena aqui mencionar, preocupam e preocuparam-se sobremaneira com a imagem. A seus olhos, dela depende a sua credibilidade e o seu poder. Sobre os ombros do Papa, cai o dogma da sua infalibilidade, sendo que, se perde o controlo, não serão perdidas apenas as próximas eleições. Será toda a estrutura da própria Igreja que tombará e ninguém sabe o que pode aparecer em seu lugar.

A pedofilia existe em todo o lado. Não é um fenómeno exclusivo dos padres, ou sequer dos padres católicos. E os padres são homens. Que os julguem enquanto tais. Que julguem como homens quem escondeu e fomentou ou apenas permitiu crimes, quer fechando os olhos, quer de forma activa. Mas campanhas mediáticas de autos-de-fé em jornais ou na net são apenas reminiscências dos actos inquisitórios a que até a própria ICAR virou as costas. E reduzir a Igreja aos crimes de uns quantos é, no mínimo, redutor. E, por mais que não goste de Bento XVI, gosto ainda menos de Torquemadas laicos imbuídos de uma qualquer mania evangelizante.

2010-04-06

your hearing damage


Thom Yorke

pms

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Hoje conheci um fdp que sei que bate na mulher: metro e meio de gajo, franzino, cabelo ralo e ar de sonso. Sinceramente não percebo como é que a mulher ainda não o meteu na ordem com uma sertã pelos cornos abaixo. Ainda se o gajo tivesse tamanho para meter medo… agora, uma coisa mal acabada de metro e meio? Era uma sertã, era. No mínimo!

(e um que tivesse dois metros também haveria de ser apanhado; nem que fosse a dormir, porra!, que a PMS ataca todos os meses)

(vou ali comer um chocolate...)

2010-03-24

3.....



«Festejou-se o aniversário de um homem muito modesto. E apenas no final do banquete é que se percebeu que alguém não tinha sido convidado: o festejado.»

Anton Tchekhov








(férias...)

2010-03-21

Primavera

A light exists in spring
Not present on the year
At any other period.
When March is scarcely here

A color stands abroad
On solitary hills
That science cannot overtake,
But human nature feels.(...)

Emily Dickinson - "A Light Exists in Spring"



Gosto de pensar que a Primavera se inaugura em poesia e deita as raízes à terra para se fazer árvore num esplendor verde de esperança renascida. E queria saber escrever versos e não sei, para assim dizer o quanto – apesar do frio, do cansaço, da apatia – Março marca para mim o início de mais um ciclo.

2010-03-19

Pai

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O dia em que nasci meu pai cantava
versos que inventam os pastores do monte
com palavras de lã fiada fina
cordeiro lírio neve tojo fonte

esta é uma velha história de família
para dizer como ele e eu chegámos
à raiz mais profunda do afecto
da qual nunca jamais nos separámos
(...)


Fernando Assis Pacheco

Ah! O Gary...

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2010-03-18

A um deus desconhecido




Lembrei-me do livro e dessa nossa capacidade formidável para fazermos deuses por medida. E eu gostava de ter uma fé imensa, avessa a qualquer dúvida. Gostava de saber costurar um deus à minha imagem. Mas não sei ser assim. Talvez ainda não tenho encontrado a árvore certa.

2010-03-16

Fuga

We're siamese children related by heart
And nothing can tear us apart

The Swans - Add Reality


Inventar de novo a esperança, voltar a dar ao banal um colorido extraordinário, pedir um novo passeio pelos sentidos.

Mais trinquinhas



Pois, neste também enfiava o dente muito contentinha. Especialmente desde que largou a loira.

2010-03-14

Longe

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Trinta anos depois, estando o homem há muito convertido em mito, não deixa ainda assim de ser evidente o longe que estamos dos tempos e dos valores fundadores. Ninguém sabe o que se teria passado se tivesse tido mais do que os magros 11 meses em que esteve à frente do Governo; ou sequer o que teria acontecido após a derrota do seu candidato à Presidência da República. Mas isso pouco importa quando se trata de mitos e pais fundadores. Só seria de esperar hoje que tantos que se reclamam seus herdeiros dignificassem a figura com atitudes menos patéticas e projectos menos vazios. Sá Carneiro terá sido muita coisa. Mas nunca foi pateta. Nem vazio.

2010-03-13

Asas




(ou uma pequena ajuda, para o caso de virem por cá cobrar-me um beijo)

Das saídas fáceis


Found at bee mp3 search engine

Esta geração que descarrega fedelhos nas escolas, nas aulas de ballet e de futebol, ou então em frente a jogos, pc ou televisão esperando que, no fim, eles saiam já criados, não quer ter trabalho. Aliás, trabalho já tem muito diariamente para manter a cabeça à tona ou manter o emprego ou pagar a dívida ao Banco: não precisa que os fedelhos também dêem trabalho. Só que dão. E são responsabilidade. Quem não consegue encarar, que não os faça. Mas não peçam é ao Estado para fazer o que compete a cada um de nós: sempre que o Estado entra num frenesim legislativo sobre a vida das pessoas dá, normalmente, mau resultado. Acho que se chama totalitarismo.

2010-03-12

Armadura

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(e, sim, visto sedas por baixo da armadura. O problema é que as armaduras são difíceis de tirar e nem qualquer um tem jeito para escudeiro)

2010-03-11

Atocha


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Algumas coisas já só nos deixam demasiado embrutecidos, mas há outras que nos atingem como um murro no estômago. Nos comboios de Madrid embarcamos também. Foi muito mais próximo do que tudo o que queremos esquecer. Madrid representou a cobardia engatilhada em precisão, fazendo do terror a arma apontada ao nosso quotidiano. E não consigo deixar de pensar que naqueles comboios podia estar eu. Ou outra qualquer pessoa que me é próxima. O terror vive disso também.

2010-03-10

Umbigo (*)

uayebt

Uma infestação de spam levou-me aos arquivos. Perdi-me na história e no rasto de mim que por aqui fui deixando. É que tenho alguns textos neste blogue que pari das entranhas. São extraordinariamente pessoais, doloridos e meus. Como tenho textos feitos com memórias indeléveis, cheiros que eu senti, o que toquei, a música que estava a ouvir, os espaços que habitei. Meus. Ou textos breves, de alegria transbordante. Esses sorrisos e gargalhadas também me pertencem ainda. Ou os gritos indignados e os amuos e as irritações. Ou as lágrimas. Meus. No meu blogue. Tudo o resto é acessório para encher a página, letra esparramada à pressa e logo esquecida. Os textos que ainda sinto destes tantos anos de voz em fuga, são os mais pessoais, os mais íntimos. E ultimamente ando demasiado perdida de mim.


(*) talvez a miga queira direitos de autor...

2010-03-08

Acidente

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Palavras amestradas ou agrestes, doces ou iradas. Palavras estilhaçadas, sem desígnios novos ou resignadas. Palavras à espera. Palavras suspensas. Palavras prenhes de simbolismo. Palavras-vertigem. Palavras-carinho. Palavras em confessionário asséptico e vazio, teia ressequida de desencontros. Palavras-ponte. Palavras em riste, amargas. Palavras exageradas. Palavras brutas. Palavras-arma. Palavras a precisarem de rumo. Palavras-desculpa. Palavras-mulher, a ovular ciclos de humores e desenganos. Palavras esbarradas neste dia.

De mulher para mulher

Ir a Mafra...



... e talvez fazer a rodagem ao carrito.

2010-03-07

Deu-lhe forte!

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«Pedro Passos Coelho vem, desde muito cedo, das mais reles incubadoras de intrigas, tricas, vaidadezinhas e respectivas subserviências. É nas Jotas onde mais e melhor se aprende e pratica todas as faltas de recurso anti-desportistas, que definitivamente ficam para a vida, pelo que de rasteiras, cotoveladas e tesouradas leva longa escola.»



Obrigatório ler este texto do Paulo!

Dos espantos

aqui


Eu insisto: para lá de toda a nossa mania, muito além de qualquer programa de opinião, completamente ao lado de tudo o que, para muitos, era suposto ser a onda do momento, ou de bom tom, ou o it da oportunidade, o Portugalinho real é aquele que continua a juntar dez mil pessoas no Porto para ouvir Tony Carreira. Se isso fosse reconhecido, ninguém ficaria tão espantado com as escolhas que os portugueses continuam a fazer, quer em matéria cultural, quer em matéria política. O Portugalinho real está a léguas da blogosfera bem pensante, dos jornalistas que não escrevem para O Crime ou a Maria, dos debates da treta e das intrigas do costume. As elites continuam a vestir apenas o seu snobismo e quer-me parecer que, com as suas guerras internas, apenas conseguem perder qualquer capacidade mobilizadora. O Tony Carreira continua a encher salas e tem quem o siga há décadas. Se se candidatasse à Presidência da República, talvez desse uma abada à concorrência.

2010-03-05

Olha, I

aqui


Em relação a este nem admito reparos. Por mais que o fim do mundo nem tivesse vindo em 2000 (como também não deve acontecer em 2012, mas a esse não achei piada nenhuma), há ideias neste filme que me põem de boca aberta. E o Ralph, obviamente. Mesmo seboso e fraco e junkie e tudo. Definitivamente, é um filme muito mais do que "só" catita.

Fright Night

aqui
(cada vez que vejo a MMG lembro-me desta imagem)


Não é de agora que os vampiros estão na moda. Com um bocadinho de esforço, lembramo-nos de vários filminhos por década, certo?

A ver se o Dumb Witness se lembra deste aqui em baixo ou preferia os "The Lost Boys".

aqui

Das renúncias

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Primeiro vieram pelos comunistas e eu não protestei, porque não era comunista;
Depois vieram pelos sindicalistas e eu não protestei, porque não era sindicalista;
Então eles vieram pelos judeus e eu não protestei, porque não era judeu;
Por fim vieram atrás de mim e já não havia ninguém para falar por mim.

Martin Niemöller



E um dia quem virá por nós, se continuarmos a conceder que outros percam parte dos seus direitos? É por isso que me faz muita espécie qualquer desvio ao óbvio, com pequenos contornos aos direitos de cada um em nome de uma suposta maioria e um ainda mais suposto interesse público. Demitirmo-nos hoje de protestar é abrir uma brecha na cidadania e nas suas garantias, já que não basta apenas estender uma mão pedinte. Há que saber que é preciso cumprir com deveres em igual medida. Um deles é tão velhinho que até nos esquecemos dele: não faças a outros o que não queres que façam contigo; e não deixes de fazer pelos outros o que gostarias que fizessem por ti.

2010-03-04

Verdade!


aqui


«Portugal não é esta seita de proxenetas de gravata Hermes, que se instalou no poder da capital para viver à custa do subdesenvolvimento do país. O meu país é o meu povo e esse é eticamente muito superior a esses canalhas, é gente que sua por cada tostão de ganha, trabalhadores que tiram dos seus filhos os impostos que alimenta essa elite da treta, empresários que todos os meses lutam para que as suas empresas consigam pagar os ordenados dos trabalhadores no fim do mês.»

in, O Jumento

Tempos de delação

aqui


Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça

Sophia de Mello Breyner Andresen - Data



E há uma mentalidade que permanece e cresce, entre a vileza e a denúncia escroque, transformada em parangona.

2010-03-03

Ah!


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E ainda havia esta coisa quando aquela merda se espatifava toda... ou havia uma revolução :)

Bal, Baltazar...



E, como é óbvio, os desenhos animados do


Vasco Granja

O meu avô adorava!



(E enquanto vou recordando estas coisas de tempos mais puros, faço de conta que nem vejo a canalhice que anda à solta em jornais e na blogosfera)

2010-03-01

Mas…



... quem me prendia mesmo à televisão era Félix Rodríguez de la Fuente.

E...



... se não estivesse a ficar tonta ao tentar virar uma super-mulher, no verão tentava sempre nadar como o Homem da Atlântida:)


Continuando



Na verdade, gostava mais dos livros do que da série.

2010-02-23

Erros de cálculo


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Mas quem é que se lembrou de construir uma cidade numa zona sísmica? Quando acontecer outro - que vai acontecer! - vamos ter de arranjar um culpado para os erros do planeamento urbanístico. Será que o Pombal serve? Afinal, reconstruiu Lisboa no mesmo sítio.

Sem palavras


© Gregório Cunha, daqui

É 23 de Fevereiro outra vez


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2010-02-22

E la nave va


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Olho à volta e penso em como o populismo gratuito se vai tornando cada vez mais rasca e se entopem todos os sinais de fait divers em lugar de se discutir o que realmente importa. Acabo a pensar que talvez um dia destes nos apareça um qualquer grande ditador orweliano (um verdadeiro, em lugar de um fabricado à guisa de papão). E a eloquência, essa veemência mesmerizadora, também pode ser mera cortina de fumo, uma cantiga de sedução. Temo mesmo que estejamos prontos para ser enrolados num qualquer cenário de admirável mundo novo, já que as épocas de crise (económica, sociológica, ética…) são pródigas em experiências políticas. Pior, que o aceitemos já, protestando talvez, mas nada fazendo para o evitar. A preguiça e o individualismo são grilhetas atrofiantes. E um dia o rebanho desata a correr e leva tudo à frente, enquanto renuncia ao imprescindível em nome de um qualquer valor deificado capaz de anular todos os valores reais. E não penso sequer que as mudanças sejam bruscas e que, de um momento para o outro, o mundo esteja completamente diferente. As mudanças serão passo a passo, lentas e progressivas: a cada dia se tolera mais uma perda, vai-se um bocadinho de dignidade, desbarata-se outra réstia de cidadania. Lentamente, para que ninguém se revolte enquanto se enrola num qualquer novelo de maravilhas e desejados por vir. É sempre assim o futuro, mesmo quando há revoluções. Ou retrocessos civilizacionais.

Perto demais


Foto AP daqui

2010-02-21

Diz-me com quem andas…


Fotografia © Miguel A. Lopes - Lusa

«Segundo disse fonte da organização à agência Lusa, estiveram presentes na manifestação "mais de cinco mil pessoas".»



Só me pergunto se aquela gente toda está confortável com o facto de, a partir de agora, ser confundida com os fascistas e neo-nazis que assentaram praça na mesma manifestação. Se realmente não se importam com isso. É que não acredito que todos sejam fanáticos, tirando o facto de terem visões fanáticas sobre quem tem ou não direito a casar-se.

Faz de conta...


Found at bee mp3 search engine

...que andas por aqui hoje e vens buscar o meu presente.

Parabéns, Miquinhas :)

2010-02-19

Durante o telejornal


aqui


Comentário da minha avó (90 maravilhosos e lúcidos anos!) acerca de um certo político queixinhas cá da praça: "Homem pequenino, ou sacana ou bailarino".

Até me engasguei!

Dos gatos


GeekCats (clicar para ver melhor)

Chegou-me uma visita ali em baixo a uma caixa de comentários. Curiosa que sempre fui (devo ter costela de gato e um dia destes…), segui o link e fui dar ao GeekCats. Adorei! Aconselho a visitinha. A imagem acima está lá na primeira página e espero que vos sirva de bom aperitivo :)

2010-02-18

Basicamente


aqui


Que, nisso, sou do mais básica que há: basta ser loiro de olho azul e fazer duas covinhas na cara quando se ri. Uns abdominais bem definidos também nunca fizeram mal nenhum para descansar a vista.Serve?

2010-02-17

Ah!

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«Fernando Nobre, o presidente da Amnistia Internacional, é candidato à Presidência da República.»


Os que passam por aqui sabem que votei Manuel Alegre. Não volto a votar. E a confirmar-se esta notícia, penso que não terei dúvidas acerca de quem leva o meu voto.

E agora isto?

.
«Assessores, chefes de gabinete, membros do Governo usaram o seu tempo, pago pelo erário público, instalações do Estado, meios informáticos públicos e informação privilegiada para fins de combate político.»

Eduardo Dâmaso



A verdade é que sempre achei que era dos poucos blogues que apenas se actualizava ou à hora de almoço ou no fim de mais um dia de trabalho. Havia alguns que se actualizavam com as galinhas antes dos seus autores partirem para a labuta, mas a grande maioria sempre foi mantida por quem, não estando desempregado, usava o tempo que seria de trabalho para dar uma saltada aos blogues, deixar um post, fazer uns comentários, cirandar como apetecesse, até que voltasse a vontade para trabalhar mais um bocadinho. Isto era tão evidente que também foi notório quando alguns deixaram de ter acesso incondicional às páginas, quase sempre por força da instalação de filtros pelas entidades patronais no que toca a acesso à net. Ficaram limitados e, por isso mesmo, deixaram de ter o mesmo ritmo de postagem, de leituras e de comentários. Não vi, nesse momento, ninguém admitir o despesismo ou sequer alguém levantar a mãozinha para admitir que andava a usar tempo do patrão para "cigarette breaks" na bloga. E também é por isso que olho para aquela coisa no CM e estranho só os visados se manifestarem. Então e todos os outros? É tudo mais uma vez virgem? Nunca foram à net brincar aos blogues enquanto o patrão pagava? E não vale a pena dar o desconto de aquilo não ser bem sobre o usar o tempo de trabalho. Pois, mas a questão do tempo de trabalho está lá. Como estiveram quase todos os blogues que conheço a usar esse tempo. E a ficarem agora caladinhos, que não é com eles. É com o Sócrates, obviamente. E os assessores no Simplex, que no Jamais e no outro do PP não havia disso, claro. E em todos os blogues, quisessem ou não saber de política. E eu, que não devo um tusto ao patrão à conta disto e por isso nem precisava dizer nada, acho um nojo. Um nojo pegado virem agora com o desperdício de recursos e que todos pagamos e não sei quê. Pois então eu, contribuinte, sempre paguei o tempo da maioria dos blogues que gosto e gostei de ler. E nunca me importei nem um bocadinho. Mas também não faço de conta que não sabia ou que era coisa que só acontecia em blogues políticos. Apre, que não pode valer tudo!

2010-02-15

Luta de galos


Roylynn Evans


Uns eram pela liberdade, agora estes são pela democracia. E eu olho e torno a olhar, que há pela certa um poleiro dourado em jogo, sendo que o galispo ainda não perdeu as penas e continua a cantar de galo na capoeira do povoléu do costume, já cansado de tanta luta. E, sim, o povinho do magalhães, dos rendimentos de inserção, das novas oportunidades e dos abonos ainda é a maioria e as novelas da TVI ainda devem ganhar a qualquer noticiário, jornal ou programinha de opinião política. Está difícil convencer o povinho, mesmo a gritar bem alto e repetidamente, não é? E nem há sol ameno para desculpa e já basta o mau tempo para estragar este alegre carnaval.

Filipe Pinto

2010-02-13

Anónima não. Com nick sempre

De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.

José Carlos Ary dos Santos – Epígrafe



Suponho que na minha escrita há dias em que sou morena e tímida; e noutros sou loira; noutros ainda sou alta, confiante; noutros serei mais masculina e noutros incrivelmente gaja. Talvez porque eu sou, dependendo dos dias, um pouco de cada coisa. Talvez porque a nossa personalidade seja formada por demasiados cambiantes. A minha, pelo menos, é. No fim, sobra que as minhas palavras são apenas um dos reflexos possíveis de mim. Não sou eu, ainda que o que escreva tenha um eu por trás. Não sou as minhas palavras. Ou, pelo menos, não sou apenas as minhas palavras. Sou um mundo de complexos e de ideias, de fragilidades e de forças; sou piada e sou lágrima; sou capaz de me rir de mim mesma, mas também sou capaz de ver em cada frase um ataque. E vai continuar a haver dias em que não saberei ser simpática; como haverá outros em que serei doce como mel. Dias em que escreverei textos onde todos conseguem rever-se e outros em que ninguém saberá do que falo. Tenho motes na escrita. Nem sei bem onde os vou buscar. Fazem sentido ou não, conforme os meus humores. Não serão nunca a minha totalidade, que essa, ainda assim, preservo como posso.

E também é por isso que não tenho um perfil público completo no blogue, nem um nome para além do nome Hipatia. Porque, por mais que digam, a Hipatia é já um nome, o meu nome por aqui, aquele que escolhi usar já há um belo conjunto de anos. Manter o nome que escolhi usar no blogue (mesmo que isso, tantas vezes, já não sirva para nada) é o que ainda posso fazer para me preservar. Para que não tenha novamente de voltar a procurar um espaço onde me sinta livre para escrever, em que não há quem me cobre o tanto que já dei de mim e o que ainda poderia ter vontade de dar. Tudo o mais são opções. E, se respeito as dos outros, que não me cobrem as minhas. A todos cabe a sua razão e a cada um cabe defender os seus motivos. Se eu andasse por aqui atrás de prebendas, talvez já tivesse feito a vontade a alguns e espelhado on-line o nome do BI. Como esse nunca foi o meu motivo, aceitem que quem assina com nick também tem direito a opinião. E argumentem em relação a essa mesma opinião em lugar de desatarem a disparar contra o mensageiro. Essa sempre foi a opção dos fracos, porque mais fácil. E nunca serviu para debater ideias.

Ah! E será escusado mandarem e-mails a perguntar quem sou. Sou a Hipatia, obviamente. E estou aqui, de caixa de comentários aberta e pública. Já não é mais do que em tanto espaço?

Quem?



Quem quer viver para sempre?
E quem quer esperar o "para sempre"?
O "para sempre" é nosso hoje!

2010-02-08

Apre!

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«O Sporting de Braga tenta hoje encurtar a distância para o líder, Benfica (...) Os "arsenalistas", com dois jogos a menos, encontram-se no segundo lugar, a quatro pontos dos "encarnados"»


in, TSF



O sublinhado é meu. A miopia é que nem por isso.


(e vai em 0-2, que é por causa das coisas; até com menos um)

Ídolos



(gosto do Filipe; gosto do puto e do vozeirão do puto)



(e nem sequer segui o programa, ou votei, mas isso agora não interessa nada)

(e até gosto quando ele corrige delicadamente quem teima em chamar-lhe "Felipe")

Repost

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Presto atenção ao silêncio e a tua voz diz-me que te falto. Galgo a distância. A tua voz leva-me. Não sei se é só saudade, se esta febre teimosa que não me deixa. Ouço-te. Como se estivesses bem ao meu lado. Quase sinto os teus dedos frios sobre a testa. Quase respiro o teu ar. Sôfrega de ti, como já não ficava há muito tempo. É da febre. É delírio. És tu. Ou apenas a tua voz a percorrer-me os sonhos. Que saudades tenho, às vezes! Assim, de mansinho, quando estou mais frágil e, dos confins da memória, chega-me a tua voz. Baixinho. Bem baixinho. Como se as saudades só se fizessem de sussurros. Como se hoje estivesses aqui de plantão, meu anjo. Como se não tivesses partido nunca. É delírio, por certo. E estas saudades de ouvir a tua voz a dizer-me como te falto... como me faltas.

Sussurros



(Este repost tem um destinatário. Talvez esse destinatário nem sequer se aperceba, mas não importa. Como tantos e tantos dos posts que escrevi aqui no Voz em Fuga, este teve o seu motivo e a sua razão e, agora, faz para mim sentido voltar à primeira página. Mesmo que eu hoje nem tenha febre e, às tantas, nem anjo de plantão)

2010-02-07

Conta poupança-futuro

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«Os bebés portugueses vão poder começar a emprestar dinheiro ao Estado para financiar a dívida pública assim que nascerem.»

in, Jornal de Negócios



O que foram sempre os certificados de aforro onde os portugueses tradicionalmente investem a sua poupança? Será que ainda vale a pena perguntar?

2010-02-05

Enfim




Depois de Rod Stewart assassinar para sempre o Downtown Train na memória da maioria, pensei que nunca fosse gostar de qualquer versão diferente da original. Mas gosto desta dos Minnesota Sex Junkies.

hmm...



Will I see you tonight on a downtown train
Where every night, every night it's just the same, oh baby
Will I see you tonight on a downtown train
All of my dreams they fall like rain, oh baby on a downtown train

Ontem







E é o que há!




Obrigada pelas imagens, C.

2010-02-04

Haja paciência!

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«"Parece-nos razoável que, sendo nós um imenso condomínio de 10 milhões, cada um de nós saiba a permilagem de cada um dos outros para sabermos se há um efectivo contributo que corresponda àquilo que é o bocado que temos neste imenso latifúndio" defendeu Strecht Ribeiro, que entregará hoje a proposta à direcção da bancada parlamentar do PS.»

in DN


Não tenho dúvidas que vivemos num regime que fez a sua transição para a democracia sem dinamitar verdadeiramente as raízes do Estado velho. E há uma mentalidade que permanece, entre o respeitinho atávico e a denúncia escroque, igual à do tempo que selou a barras de ouro a miséria de quase todos, os que ficavam a comer batatas e uma espinha de sardinha, os que iam a salto tratar da vida para as obras em França; e mais os GNR de carrascão e vistas curtas, ou as grande fortunas que se apressaram a regressar de devaneios nos trópicos quando a maré acalmou; ou a carne para canhão das guerras do ultramar e as mulheres enlutadas e sem direitos e os filhos de pai incógnito com asterisco no BI; ou os padrecos, os bufos e os vampiros, mais os deserdados em geral, levando a vidinha caladinhos, que não dava para abrir a boca sem saber quem pudesse estar a ouvir no velho regime baseado na lei do bufo, na lei do medo.

O Portugalinho – tão diferente em asfalto, em marinas, em hotéis, Allgarves e campos de golfe – mudou aparentemente muito sem, no entanto, mudar verdadeiramente. Continua a ser um país de cidadania amordaçada e de invejas pequeninas e na mão de meia dúzia que põe e dispõe conforme der mais jeito. Quando as coisas não correm de feição, a culpa é sempre do outro, o que lhe passou cheques carecas, o que lhe prometeu umas férias cinco estrelas pagas a prestações, os duzentos euros dos putos onde não podem mexer, que maçada!, o dos favorzinhos trocados por robalos, ou malas cheias de notas pequenas, ou lista de votantes que já moram a sete palmos abaixo, ou os sobrinhos da Suíça, ou os acordos selados a putas café com leite, ou as nomeações para assessores, ou as renomeações dos assessores, ou as reformas cardona e celestemente volumosas, ou os jeitinhos à lei para dar jeitinho aos filhos da lei do costume.

Seja como olhe e para onde olhe, os vampiros ainda aí estão. E os bufos sempre foram as suas armas, as melhores armas, porque toupeiras silenciosas, mesquinhas, fazendo da convivência e da proximidade a porta para os segredos a revelar. E a fomentar a inveja, que ninguém está livre de, um dia destes, alguém resolver acusá-lo de tudo e mais um biscate e, neste País de treta, cada vez é mais necessário provar-se a inocência do que a culpa, especialmente depois de insinuações entre aspas num qualquer pasquim.

E depois ainda vem um cromo falar de condomínios e propor que a inveja alastre entre vizinhos, que se comprou um carro novo é porque andou a roubar ou a dar o cu sem declarar às finanças, que publicar os devedores não bastou. Não, isto não é um condomínio, que já nem há quem lhe faça seguro. É um bairro de lata de alucinados, com propostas mirabolantes e ideias estapafúrdias, onde até querem promover a bufaria, o voyeurismo e a inveja a letra de lei. Depois, os que puderem dizem que é difamação ou que é censura. Todos os outros apanham com um big brother pelo cu acima, a ver se ficam caladinhos, enquanto comem uma espinha de sardinha.

Haja pachorra! E, foda-se!, porque é que não deixam que o gajo se demita? Não há por ai tanta prova provadinha de incompetência derramada por jornais, televisões, blogues e afins? Então qual é o mal? Se tantos se apressavam a demiti-lo se pudessem, porque têm agora tanto medo de se mandarem para os cornos do touro e tentarem (e eu já só pedia isso) fazer melhor?

2010-02-03

Meio-meio


aqui

Há sempre quem veja um copo meio cheio onde outros o vêem apenas meio vazio. Acredito que a tristeza e a incapacidade para o contentamento sejam das maiores falhas de carácter: infernizam a vida de quem não sabe ser feliz; infernizam a vida de quem partilha o tempo com gente sempre amargurada; impedem que se aprecie o momento e se acredite que há esperança, até contra a doença, até contra a ampulheta inclemente do tempo que passa.

2010-02-01

Aqui d'El Rei!

Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d'El Rei.



Zeca Afonso - Epígrafe para a arte de Furtar


Este País pode ser quase tudo, mas não é um País censurado. Antes fosse, por uma qualquer auto-censura que não permitisse que tantos abrissem a boca para abusar de uma realidade que calou, torturou, matou, quem se atrevesse a pensar diferente. É que há nesta forma apressada e desusada de apor em qualquer situação o rótulo simplista da censura um insulto a quem viveu realmente a censura. Eu, que descendo de um homem que conheceu por dentro as selas da PIDE/DGS por ter confiado no padre confessor que bufou os segredos ao primeiro pulha que lhe passou uma nota para a mão, sinto-me ultrajada pela forma como insultam assim a memória do meu bisavô. Nunca se escreveu tanto, disse tanto, se insinuou tanto, se macaqueou tanto a verdade para ganhar uns cobres e fazer uns jeitos e tirar uns dividendos; nunca se pode tão livremente publicar qualquer bojarda; nunca os vampiros se viram tão fartos nas suas opiniões e nos seus lucros. E quanto mais livremente se atiram com atoardas para qualquer lado, com insinuações a granel, com factóides que nunca exigem prova, mais insultada me sinto, ao sentir como insultam o meu bisavô. A distância que vai de hoje ao que foi mede-se em bem mais do que no asfalto das auto-estradas, no número de nados mortos, na quantidade de analfabetos, ou nos carros e proprietários e dívidas a eito. Mede-se também por esta forma sem freios de dizer e poder dizer, inclusive dizer que não se pode, que há pressões, que há censura. Mas se calhar a culpa é minha, que não há maneira de esquecer que, antes, em qualquer esquina, podia estar um bufo de regime, a ouvir conversas nas igrejas, nos confessionários, nos bancos de jardim, nos cafés e restaurantes. E que, nesse tempo, o refrão do "Natal dos Simples", do Zeca Afonso – mas tinha de ser baixinho, muito baixinho, em surdina –, se cantava "vão parar à PIDE e vão parar à PIDE e vão, vão, vão, vão". Hoje, grita-se que há lobo. Basta só gritar que há lobo. E o lobo é só mais um papão a jeito.