2004-09-04

Ali ao lado...

(...)
Ahora sufro lo pobre, lo mezquino, lo triste,
lo desgraciado y muerto que tiene una garganta
cuando desde el abismo de su idioma quisiera
gritar lo que no puede por imposible, y calla.

Balas, Balas

Siento esta noche heridas de muerte las palabras.

Rafael Alberti - Nocturno



... ali ao lado, as crianças já não são reféns. São cadáveres.

Se nos fosse possível espremer o mundo, quem ainda seria capaz de não se afogar em tantas lágrimas?

Dói!

E o mundo bóia. Boiamos todos...

Calejados pela dor, indiferentes perante a sua banalização, nauseados pela fartura de purgatório, tentamos antes saber quanto custará amanhã a gasolina.

Também dói.

Até que ponto este crescer na indiferença não vai matando em nós a humanidade?

E há um louco que ainda nos promete mais quatro anos de policiamento do mundo, esquecendo que, quando tal afirma, mais dez mil soldados se juntam às fileiras do fanatismo.

E entre o fanatismo cego e a arrogância desvairada, promessas de mais lágrimas de sangue são a única certeza.

Lá pela Rússia, as "baixas aceitáveis" são um conceito diferente, como diz um amigo meu. Num teatro já o tinham demonstrado. Agora foi numa escola... Mas "baixas aceitáveis" não são mais que baixas feitas de dor e irracionalidade e fanatismo e sangue.

Sempre o sangue, tanto sangue. Já não é sangue de vida. Só morte, tanta morte, tanta mortalha.

Morrem crianças e morrem mães e morrem pais e professores e velhos e novos e...

E nós lá vamos indo, até que quase já não dói.

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