Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer, correndo, corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
O labirinto de labirintos
Dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas
(...)
Caetano Veloso – Janelas Abertas
Cheguei aqui de janela aberta. Uma janela aberta para o precipício e uma janela aberta para a salvação. Cheguei aqui com uma música, rasgando os silêncios em mim.
Outubro marca uma data que me dói. A data em que quase perdi uma amiga por causa das tricas da net. A amiga que sempre foi janela em mim e para mim. A amiga que teve a coragem para me chamar cabra, quando o estava a ser, pelos vistos. E, no entanto, até hoje, não julgo que o tenha sido. A amiga, a única talvez, que me poderia ter magoado.
Três meses. Três doloridos, longos meses. Sem parabéns, que não lhos dei o ano passado. Sem desejar bom Natal. E a minha janela a fechar-se. E a abrir-se também ao mesmo tempo. Sem fugas, dessa vez.
Não sei ser boa pessoa (ainda que o seja, tanta vez). Sou cheia de defeitos. Tenho-os entranhados, mergulho neles. Converto os defeitos em forças. Faço bandeiras. Levo tudo à frente quando me sinto injustiçada. Sou motor, quando tenho causa. Detesto que me confundam com as palavras doces que sei dizer. Que sinto. Porque também não sei ser má pessoa (ainda que o seja vezes demais).
A net afunila-nos os limites, confunde palavras com gestos, despe as palavras dos sorrisos, tece-se de entrelinhas fabricadas, não nos pisca o olho, nem quando o smile lá está. Ao fim de uns tempos, já nem o que lá está se lê. Lê-se a intenção, rebuscam-se mensagens, perdemo-nos no subtexto, mesmo quando nem subtexto há.
Ando há meses a cirandar pelos blogs, reconhecendo muita gente. A gostar de ver as forças de tantos e as limitações de uns poucos. Dou comigo novamente de janela aberta, janela aberta para o precipício, janela aberta para a salvação.
Ao fim de uns tempos, resta-me a intuição. Tenho-a, neste momento, em estado ainda dormente, a temer confiar nela. E, no entanto, ao olhar para trás, sei que foi ela que já me salvou. Como sei que fui salva por um telefonema na tarde da passagem de ano. O telefonema que nem estava à espera. A mensagem que nem ia enviar.
Mas comecei o ano com um abraço forte. Um abraço tão forte que ainda o sinto. E estou, ainda, de novo, sempre, de janela aberta, de coração aberto para uns quantos, que, depois de passada a tormenta, ainda conto no grupo de amigos.
Há uma amiga a quem devo uma prenda de anos. Há uma amiga a quem devo uma prenda de Natal. Há uma amiga que nunca mas vai cobrar. Suspeito que, em Janeiro, saldamos umas quantas dívidas.
Há uma amiga que é um outro eu meu, versão desvairada, talvez, mas muito mais lúcida e inteira do que eu. Eu não sei ser boa pessoa. Ela não precisa saber. É-o, mesmo quando se engana. Faz de mim alguém melhor.
Ando por aqui por culpa dela. A janela aberta é nossa. Os Spain ainda tocam, vão tocar sempre... O Caetano foi só para enganar.
Percorrer, correndo, corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
O labirinto de labirintos
Dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas
(...)
Caetano Veloso – Janelas Abertas
Cheguei aqui de janela aberta. Uma janela aberta para o precipício e uma janela aberta para a salvação. Cheguei aqui com uma música, rasgando os silêncios em mim.
Outubro marca uma data que me dói. A data em que quase perdi uma amiga por causa das tricas da net. A amiga que sempre foi janela em mim e para mim. A amiga que teve a coragem para me chamar cabra, quando o estava a ser, pelos vistos. E, no entanto, até hoje, não julgo que o tenha sido. A amiga, a única talvez, que me poderia ter magoado.
Três meses. Três doloridos, longos meses. Sem parabéns, que não lhos dei o ano passado. Sem desejar bom Natal. E a minha janela a fechar-se. E a abrir-se também ao mesmo tempo. Sem fugas, dessa vez.
Não sei ser boa pessoa (ainda que o seja, tanta vez). Sou cheia de defeitos. Tenho-os entranhados, mergulho neles. Converto os defeitos em forças. Faço bandeiras. Levo tudo à frente quando me sinto injustiçada. Sou motor, quando tenho causa. Detesto que me confundam com as palavras doces que sei dizer. Que sinto. Porque também não sei ser má pessoa (ainda que o seja vezes demais).
A net afunila-nos os limites, confunde palavras com gestos, despe as palavras dos sorrisos, tece-se de entrelinhas fabricadas, não nos pisca o olho, nem quando o smile lá está. Ao fim de uns tempos, já nem o que lá está se lê. Lê-se a intenção, rebuscam-se mensagens, perdemo-nos no subtexto, mesmo quando nem subtexto há.
Ando há meses a cirandar pelos blogs, reconhecendo muita gente. A gostar de ver as forças de tantos e as limitações de uns poucos. Dou comigo novamente de janela aberta, janela aberta para o precipício, janela aberta para a salvação.
Ao fim de uns tempos, resta-me a intuição. Tenho-a, neste momento, em estado ainda dormente, a temer confiar nela. E, no entanto, ao olhar para trás, sei que foi ela que já me salvou. Como sei que fui salva por um telefonema na tarde da passagem de ano. O telefonema que nem estava à espera. A mensagem que nem ia enviar.
Mas comecei o ano com um abraço forte. Um abraço tão forte que ainda o sinto. E estou, ainda, de novo, sempre, de janela aberta, de coração aberto para uns quantos, que, depois de passada a tormenta, ainda conto no grupo de amigos.
Há uma amiga a quem devo uma prenda de anos. Há uma amiga a quem devo uma prenda de Natal. Há uma amiga que nunca mas vai cobrar. Suspeito que, em Janeiro, saldamos umas quantas dívidas.
Há uma amiga que é um outro eu meu, versão desvairada, talvez, mas muito mais lúcida e inteira do que eu. Eu não sei ser boa pessoa. Ela não precisa saber. É-o, mesmo quando se engana. Faz de mim alguém melhor.
Ando por aqui por culpa dela. A janela aberta é nossa. Os Spain ainda tocam, vão tocar sempre... O Caetano foi só para enganar.
3 comentários:
Conheci-te para além da Net (conheci-me para além da Net). Estás completamente enganada. Vales muito mais que a fuselagem do avião (para citar a eterna figura de estilo da escola cyberpunk).
Gostava de ir buscar a citação perfeita. O epitáfio. Podia ser o Gandalf (my work here is done).
Mas um dia, como quem pousa na vida, e semeia o caos, como uma borboleta, segredaste-me a canção de uma vida:
You are hardcore, you make me hard.
You name the drama and I'll play the part.
It seems I saw you in some teenage wet dream.
I like your get up if you know what I mean.
I want it bad. I want it now.
Oh can't you see I'm ready now.
I've seen all the pictures,
I've studied them forever.
I wanna make a movie so let's star in it
together.
Don't make a move 'til I say, "Action."
Oh, here comes the Hardcore life.
Put your money where your mouth is tonight.
Leave your make-up on & I'll leave on the light.
Come over here babe & talk in the mic. Oh yeah I hear you now.
It's gonna be one hell of a night.
You can't be a spectator. Oh no.
You got to take these dreams & make them whole.
Oh this is Hardcore -
there is no way back for you.
Oh this is Hardcore -
this is me on top of you &
I can't believe that it took me this long. That it took me this long.
This is the eye of the storm.
It's what men in stained raincoats pay for but in here it is pure.
Yeah. This is the end of the line.
I've seen the storyline played out so many times before.
Oh that goes in there.
Then that goes in there.
Then that goes in there.
Then that goes in there. & then it's over. Oh, what a hell of a show
but what I want to know:
what exactly do you do for an encore? 'Cos this is Hardcore.
:)
Obrigado por me teres encontrado onde eu já não havia :)
Obrigado pelo delay.
Obrigado. Obrigado.
Perdoa ontem o tamanho do umbigo, a forma como não te soube ouvir. Obrigada pelo que me sabes dar e o agradecido que pareces estar pelo tão pouco que dou.
Tens um lugar cativo na minha vida. Fazes parte dela já. Odiava ver-te desaparecer. No fim, eu só ia ficar um bocadinho mais sozinha e tu também. E sinto que, depois disso, nada, mesmo nada, se resolvia. Ainda temos os nossos calhaus para carregar. Quando te tenho por perto, o meu calhau é bem mais leve.
A vida está mesmo cada vez mais pornográfica. Por isso prezo tudo o que ainda contém qualquer essência da pureza.
On : 9/11/2004 8:14:46 PM vanus (www) said:
Vou ser presunçosa e pensar que o post me diz respeito
Antes de mais, nunca te chamei cabra, não é que não tivesse coragem para tal, mas se o pensasse que eras, não teria feito o que fiz, colocado a amizade em risco, não só contigo mas com mais pessoas, acharia que tu não valerias a pena, e seguia em frente, deixando-te espatifar...do meu ponto de vista, calaro.
É verdade, foram meses difíceis, as amizades são coisas que prezo muito, e normalmente, acho que as cuido, e a melhor forma de as cuidar é dar-lhes algo de mim, como sou, e só sei ser assim, bruta pela frontalidade. Não é fácil magoar um amigo, não para mim. Um amigo, como bem sabes, é um pedaço de nós que ficou perdido no meio da criação e que encontramos e nos preenche, nos completa, um amigo somos nós próprios num bocadinho do outro, e o outro em nós.
E tu és minha amiga, verdadeira, e magoar-te a ti não foi diferente de me magoar a mim, e isso sim é preciso uma certa coragem. Mas lá está, não bato muito bem da cabeça. Desvairada sempre foi o meu melhor nick!!!
Gosto de gostar de ti, das nossas coisas, gosto do riso, das palavras que não falamos, do tempo que passa sem nos pesar quando estamos bem, claro, da paz que temos quando nos encontramos, gosto dos nossos abraços à chegada e à depedida, dos olhares, gosto tanto de ti que já nem peço para usares óculos escuros e te olho nos olhos, e tu sabes que olhos como os teus me doem.
A net é um mundo demasiado fácil, aberto, a descoberto. Pode ser maravilhoso, e pode ferir, pode enlevar-nos em sonhos, ilusões, e de um momento para outro podemos perceber que nada tivémos ou temos. Aprende-se, aprende-se aquilo que já sabemos desde sempre na vida física, aprende-se os gestos e o olhar pelas palavras, aprende-se as posturas nas frases, no seu tamanho, a intensidade do sentir nos verbos...aprende-se a saber quem está do outro lado.
Não caieremos nos mesmos erros, espero...e hoje temos uma amizade mais fortalecida, porque amizade é também deixar que o tempo apague as feridas, é dar tempo ao outro e a nós para começarmos do ponto em que ficámos. E isso temos hoje.
Se te faço uma pessoa melhor fico feliz, é tão pouco o que podemos fazer por quem gostamos, tu fazes-me uma pessoa melhor também, fizeste-me acreditar de novo em tantas coisas, começar outras há tanto esquecidas, fizeste-me perceber que se deve estar sempre de janela aberta, pronta para saltar se for o caso, e a nossa zanga trouxe-me isso mesmo, ambas fizémos o que achámos certo (e ainda não concordamos com a postura da outra lol), e ambas voltámos ao mesmo, porque havia amizade real, partilha, pertença.
Gosto muito de te ver por aqui, porque gosto que estejas onde estou, que estejas perto, a rires desse lado e eu deste, como sempre foi.
Spain tocam sempre, e para mim, a janela está sempre aberta, pronta a saltar para uma qualquer morte que ache que merece, nem que seja a minha.
beijos, e obrigada pelo post.
P.S. Caetano Veloso??? Bem sei que era a letra, mas não gosto obrigada...well, desta passa
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On : 9/12/2004 9:42:08 AM duende (www) said:
Exceptuando Caetano Veloso, gostei muito deste bocadinho que passei aqui a ler.
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On : 9/12/2004 2:09:23 PM Hipatia (www) said:
(segunda tentativa de resposta; se aparecer em duplicado, as minhas apologias)
Miga, julgo que está tudo dito. Tudo! Gosto muito de ti. Penso que, de alguma forma, te devia este post de janela aberta. Gostei que me viesses responder de janela aberta também. Pena que, no quotidiano, a tua janela da sala não dê para a janela da minha sala. Mas temos sempre outras janelas abertas para nos encontrarmos e, isso, para mim é uma benção.
Duende, ainda bem que gostaste. Sinto que, de alguma forma, também te resgatei da tormenta. E isso deixa-me feliz.
Beijos às duas
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On : 9/13/2004 8:24:53 AM Miguel (www) said:
«Coisas» de gaijas....tssst, tssst.....Meninas!!! Bem!!!!
Xuízo!!!
Ok...beijos para os dois «camafeus» mto catitas....ehehehehehehhe
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On : 9/13/2004 11:11:20 AM Hipatia (www) said:
Camafeus?
Acho que não levas beijos hoje...
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