Are you ready, boots?
Start walkin'
Nancy Sinatra – These boots are made for walking
Estava aqui a pensar como temos as diferentes partes do corpo como que assumidas. A língua quase se esquece, até uma afta nos recordar que também ela tem terminais nervosos. Os braços são olvidados, até não podermos usar um deles e a troca de roupa passar a ser um pesadelo. O nariz é algo que não existe, até uma constipação nos demonstrar como só respirar pela boca é complicado. As pernas viram instrumentos negligenciados, até nos prenderem a um sofã e nos condenarem a ver todos os Gouchas da TV made in Portugal...
Contamos com que as partes que fazem o nosso corpo lá estejam, funcionais. Usamos e abusamos delas, sem lhes prestar realmente atenção. Até que, por um mero acaso, algo acontece e nos obriga a ponderar o seu real valor. Os pés serão, julgo, uma das partes mais desprezadas. Sustentam-nos, levamo-nos e, no entanto, quase não lhes damos importância. Admito que, muitas vezes, só me lembro deles quando penso que sapatos quero calçar. E que, outras tantas, os sapatos que escolho, têm muito pouco a ver com as necessidades dos pés e muito mais a ver com a restante toilette.
Depois, de surpresa, temos de passar a inclui-los no quotidiano. Os pés passam a reclamar para si o quinhão mais que justo da nossa atenção. Assim, uma semana caótica, recordou-me demasiadas vezes que tenho pés, que preciso deles, que existem. Ainda continuo à espera para saber como lhes agradar, que concessões vão passar a impor ao meu quotidiano. E serei obrigada a faze-las. Eu preciso mais de uns pés funcionais do que de uma série de vícios mais ou menos assumidos. Ainda que custe. Ou que vá custar. Dois cafés a menos serão um pesadelo. Mas os pés merecem. Largar o tabaco talvez seja impossível, mas farei, pelos meus pés, o esforço hercúleo de controlar o vício. E tratarei de ser racional na comida, mesmo que ache que o médico está louco quando me manda comer ao pequeno-almoço. Já vejo no horizonte o pronuncio da dieta. E se me recuso a ela para alinhar pelo padrão bulímico do prêt-à-porter, não tardarei a segui-la com mais fidelidade do que um discípulo do Islão convertido ao fanatismo à Ben Laden para resgatar os meus pés.
No entretanto – e enquanto a obrigatoriedade não me é imposta – vou abusando com o frenesim de quem gasta os últimos cartuchos. Ontem foram cigarros acendidos em cigarros, um maduro tinto de fazer água na boca, o molho, o queijo, as azeitonas. E foram, especialmente, cinco horas em cima dos meus pés, a dançar. A dançar à moda antiga, quando se ia sair para dançar. Quando havia onde ir dançar, em lugar de deixar que um som pastilha nos moa os ossos até ao tutano. Cinco longas, fantásticas horas, de boa música, muito boa música.
Quase desejava não ter pés. Não os sentir assim, por inteiro, a mandarem-me hoje no resto do corpo. Mas ontem, no Triplex, com os Zig Zag Warriors a combinarem os sons de forma a fazer inveja a qualquer antro que abre as portas pelas madrugadas, pedi por uma vez mais perdão aos pés e larguei-me na aventura de abusar e voltar a abusar do prazer de dançar.
Start walkin'
Nancy Sinatra – These boots are made for walking
Estava aqui a pensar como temos as diferentes partes do corpo como que assumidas. A língua quase se esquece, até uma afta nos recordar que também ela tem terminais nervosos. Os braços são olvidados, até não podermos usar um deles e a troca de roupa passar a ser um pesadelo. O nariz é algo que não existe, até uma constipação nos demonstrar como só respirar pela boca é complicado. As pernas viram instrumentos negligenciados, até nos prenderem a um sofã e nos condenarem a ver todos os Gouchas da TV made in Portugal...
Contamos com que as partes que fazem o nosso corpo lá estejam, funcionais. Usamos e abusamos delas, sem lhes prestar realmente atenção. Até que, por um mero acaso, algo acontece e nos obriga a ponderar o seu real valor. Os pés serão, julgo, uma das partes mais desprezadas. Sustentam-nos, levamo-nos e, no entanto, quase não lhes damos importância. Admito que, muitas vezes, só me lembro deles quando penso que sapatos quero calçar. E que, outras tantas, os sapatos que escolho, têm muito pouco a ver com as necessidades dos pés e muito mais a ver com a restante toilette.
Depois, de surpresa, temos de passar a inclui-los no quotidiano. Os pés passam a reclamar para si o quinhão mais que justo da nossa atenção. Assim, uma semana caótica, recordou-me demasiadas vezes que tenho pés, que preciso deles, que existem. Ainda continuo à espera para saber como lhes agradar, que concessões vão passar a impor ao meu quotidiano. E serei obrigada a faze-las. Eu preciso mais de uns pés funcionais do que de uma série de vícios mais ou menos assumidos. Ainda que custe. Ou que vá custar. Dois cafés a menos serão um pesadelo. Mas os pés merecem. Largar o tabaco talvez seja impossível, mas farei, pelos meus pés, o esforço hercúleo de controlar o vício. E tratarei de ser racional na comida, mesmo que ache que o médico está louco quando me manda comer ao pequeno-almoço. Já vejo no horizonte o pronuncio da dieta. E se me recuso a ela para alinhar pelo padrão bulímico do prêt-à-porter, não tardarei a segui-la com mais fidelidade do que um discípulo do Islão convertido ao fanatismo à Ben Laden para resgatar os meus pés.
No entretanto – e enquanto a obrigatoriedade não me é imposta – vou abusando com o frenesim de quem gasta os últimos cartuchos. Ontem foram cigarros acendidos em cigarros, um maduro tinto de fazer água na boca, o molho, o queijo, as azeitonas. E foram, especialmente, cinco horas em cima dos meus pés, a dançar. A dançar à moda antiga, quando se ia sair para dançar. Quando havia onde ir dançar, em lugar de deixar que um som pastilha nos moa os ossos até ao tutano. Cinco longas, fantásticas horas, de boa música, muito boa música.
Quase desejava não ter pés. Não os sentir assim, por inteiro, a mandarem-me hoje no resto do corpo. Mas ontem, no Triplex, com os Zig Zag Warriors a combinarem os sons de forma a fazer inveja a qualquer antro que abre as portas pelas madrugadas, pedi por uma vez mais perdão aos pés e larguei-me na aventura de abusar e voltar a abusar do prazer de dançar.
1 comentário:
On : 9/20/2004 4:23:07 AM Miguel (www) said:
...
Xulezada????
...eheheheheh.....
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/20/2004 7:12:49 AM Hipatia (www) said:
Não será antes vinho americano doce?
ihihihih
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/20/2004 9:37:45 AM duende (www) said:
Isso existe? Vinho americano?
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/20/2004 12:12:55 PM Hipatia (www) said:
Claro que existe. Também lhe chamam "morangueiro", "vinho de cheiro" e outras coisas. Está é quase extinto, à custa das proibições do Salazar e é, portanto, um privilégio poder prová-lo. Mesmo que alguns franganitos achem que não Se estivesses mais perto, Duende, oferecia-te um copinho. Tenho a certeza que ias gostar
Nota: Americano = vinho proveniente de uvas de cepas híbridas, que não foram enxertadas com castas "vitis vinifera". É proibida a sua comercialização sendo no entanto bastante comum em Portugal.
(mas já não é assim tão comum ; podem confirmar em http://www.quintadosvinhos.pt/learn/glossario)
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/20/2004 1:39:29 PM duende (www) said:
Ah! Morangueiro sei o que é. Desconhecia por completo que também lhe chamavam vinho americano. Porquê americano? E americano de que parte do continente?
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/20/2004 1:52:21 PM Hipatia (www) said:
Boa pergunta, lol. Não faço ideia. Penso que tem a ver com a importação de uma casta qualquer a quando da devastação das vinhas do Douro pela filoxera. Só que mostrou-se ser uma casta invasiva, difícil de controlar e que punha em causa a qualidade do vinho "genuíno".
(Acho q afinal vou ter de ir googuelar...)
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/21/2004 10:30:16 AM duende (www) said:
http://www.murqueira.com/html/regresso_vinho_americano_f.html
--------------------------------------------------------------------------------
On : 9/21/2004 1:21:24 PM Hipatia (www) said:
lol. Obrigada, Duende
Enviar um comentário