aqui
Se o meu País fosse invadido e construíssem um muro que cimentasse toda a raia a grandes colunas de betão, tijolo e arame farpado; se o governo em que votei livremente fosse considerado ilegal só porque sim; se à minha volta apenas visse cair gente de fome e sede, sem trabalho, sem escola, sem dignidade, sem liberdade para passar além do tal muro prisão; se não houvesse farinha nem pão, nem medicamentos, nem pudessem jornalistas independentes passarem além do muro para saber e contar do que realmente se passa; se a ajuda internacional fosse impedida de entrar pelos diferentes postos fronteiriços; se nos hospitais, a que cortaram a luz eléctrica, se tivesse que escolher entre quem vive e quem morre; se a minha família fosse humilhada, depenada de tudo, escorraçada de aldeia em aldeia até já quase não lhe sobrar chão; se me sentisse esquecida e moeda de troca de todas as rebaldarias da região, digam-me: poderiam realmente condenar-me por pegar em armas?
Um rocket disparado para espaço livre ainda permite que lhe fujam; uma bomba atirada para o meio de uma prisão não tem escapatória possível. E essa é a diferença: há anos que Gaza está murada e as suas gentes aprisionadas atrás do tal muro que Rachel Corrie deu a vida para que não fosse construído. Mas a Rachel morreu e as outras tantas Rachel foram silenciadas, enquanto do outro lado do muro se fala em provocações e se leva ao extremo a lógica do olho por olho, dente por dente.
Razões e demências de ambos à parte, há questões da dimensão e da proporção. E o David desta vez não pertence ao povo de Israel.
5 comentários:
Excelente texto! Faltam-me palavras para comentar o que está tudo dito.
Eu sei que, lá como cá, há os políticos e os seus jogos; e depois há a religião onde todos se escudam muito para além de qualquer tolerância. Mas há também as pessoas anónimas, que não mandam e desmandam, que apenas são vítimas. E pergunto-me quantos de nós, aprisionados pelas razões dos outros e por betão armado, conseguiriamos não pegar em pedras.
Como o Pre, julgo que sugeriste bem a diferença das forças em jogo. E muito pacientes têm sido os palestinianos. É no mínimo triste que Israel aproveite as eleições em casa e a transição na Casa Branca para dar largas aos seus ímpetos belicistas.
Não questiono que Israel tem as suas razões. A política do Hamas – ultrafundamentalista e belicista – é abjecta, os seus líderes deveriam nunca ter tido espaço para chegarem ao poder, as suas intenções são funestas. E é certo que andaram a atirar rockets sobre Israel, sem nem quererem saber dos alvos que, para eles, basta matar. Posto isto – que me parece importante – há a questão da própria política de Israel para Gaza: muraram e privaram aquela gente de tudo, até o mais básico, pelo que em cada mão está agora uma pedra, muitas pedras, quantas forem precisas. Israel enfiou aquela gente num gueto sem direitos, sem ajuda internacional, sem acesso ao mais básico. E se nem todos os palestinianos eram fundamentalistas, num instante passarão a ser: qual é a diferença de morrer de arma na mão ou morrer vítima de uma bomba de fósforo (incendiárias e tudo menos precisas para os tais dos ataques cirúrgicos e que estão a ser aparentemente usadas pelo exército israelita, apesar de proibidas pelas convenções internacionais) que cai do céu e leva tudo o que encontrar à frente? E, sim, há aproveitamento do momento histórico de parte a parte, mas parece-me mais evidente do lado de Israel, que quer ver se “limpa” Gaza antes de 20 de Janeiro. Estranho ver estas “limpezas” e os guetos vindos dali. Ou talvez nem tanto. Se calhar aprenderam bem demais as lições dos seus algozes e agora limitam-se a pô-las em prática sobre o inimigo designado. E há uma desproporção de forças assustadora e, acima de tudo, o espaço limitado, fortificado e fechado onde os palestinianos devem estar a sentir-se encurralados, simples alvos sem fuga possível. Do outro lado há espaço. E se há medo dos rockets palestinianos, porque não questionam o pavor que devem estar a incutir em quem não tem mais para onde fugir?
Mais Vozes
Só choca um pouquinho mais porque em teoria são mais civilizados do que certos povos de africa . E por cá ? na Europa mãe de todas as democracias , não se estará cagando esta nossa Europa para o voto popular quando este não convêm a quem se instalou no poder ? o referendo em França na Holanda e na Irlanda , terá sido aqui respeitada a vontade popular ?
E quando o nazi da Áustria ganhou por lá as eleições? não lhe terá sido feita uma caminha de imediato?
Quantos exemplos serão necessários para começarmos a entender q esta coisa da democracia funciona apenas quando convêm.
Guerras limpas e cirúrgicas apenas funcionam quando a realidade não obriga a mais destruição e violência . pessoalmente não tenho grandes duvidas q se Israel pudesse já teria aniquilado metade daquela população, não tenho grandes duvidas q se o mundo não lhes cobrasse aquela guerra já teria terminado.
Será q neste momento alguém fala sobre a Chechénia e sobre o q a Rússia por lá fez ? será q não conseguimos entender q o q segura viva aquela população é o poder da grande nação árabe e o poder do seu petróleo.
A realidade , a q eu vejo , é q o mundo e quem nele habita apenas respeita a força das armas. No meu modo de ver, tudo o resto são canções de embalar .
Como costuma dizer um amigo meu , quem manda é quem tem o pau maior e quem não o entender está sujeito a chegar a casa com a mona partida .
É triste é revoltante mas é deste modo q a humanidade funciona. são as regras da natureza camufladas pela inteligência
frogas | 01.05.09 - 12:44 am | #
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Mas onde mais se construiu um gueto, Frogas? Isso, para mim, faz toda a diferença quando olho para Gaza. Aliás, quase não consigo ver mais do que isso
Hipatia | Homepage | 01.05.09 - 12:57 am | #
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às vezes, o que se passa naquela região, parece-me um drama sem solução....
fabulosa | Homepage | 01.05.09 - 8:02 pm | #
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Aquilo É um drama sem solucäo... mas só porque ninguém quer ou tem coragem para pôr cobro a isto. É um circulo vicioso já. Quanto aos Israelitas em si... eles sabem bem o que estäo a fazer, eles foram antes as vítimas e como devem ter aprendido bem a licäo, estäo a por tudo em prática... para que a humanidade näo se esqueca... (estou a ser irónica)
Adoa | Homepage | 01.05.09 - 8:52 pm | #
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Solução existe. O problema é que ninguém a quer
Hipatia | Homepage | 01.05.09 - 8:54 pm | #
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Israel continua a ser vítima, que também está a ser atacado. Ali já não há, entre quem manda, nem bons nem maus. E há muitos israelitas a manifestarem-se contra a guerra, o que só abona a favor deles. É um problema de lideranças acéfalas e, do lado palestiniano, a cada minuto que morre mais alguém, temos um novo - ou vários - terroristas em potência que, tendo já perdido tudo, não vêem além da arma que lhe estendem
Hipatia | Homepage | 01.05.09 - 8:58 pm | #
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Como o equilíbrio da força é praticamente impossível , a única coisa que poderia resultar seria a submissão de uma das partes à vontade da outra . a coisa resultou durante séculos entre homens e mulheres entre ricos e pobres entre negros e brancos e por ai fora . claro q não me esqueço q as mulheres conquistarem direitos os negros indecências e os pobres os fins de semana .
A pratica diz-nos q quem tem o poder só dá aquilo q quer ou quem sabe o q lhes convêm
frogas | 01.06.09 - 1:11 am | #
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Independências
Lá esta o gajo de novo distraído
frogas | 01.06.09 - 1:26 am | #
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Aquilo é oportunismo. E um oportunismo - de parte a parte - de líderes malucos que não querem saber do número de vítimas caso se lhes afigure uma qualquer vitória, por mais pequenina.
E obviamente que ali não há equilíbrio nem nunca houve: nem de Israel encastrado no meio de outros Estados que não o querem ali; nem de Israel em relação a um pequeno território que murou e que também parece não querer de todo.
Hipatia | Homepage | 01.07.09 - 3:06 am | #
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