2009-01-29

Fedor


aqui


A política há muito que passou de ser praticada (não digo feita, apesar de tudo...) por um punhado de gentalha cheia de técnica e manhas. Já não é vocação; é um trabalho bem pago, com muitos trabalhinhos por fora. Talvez devido à alternância, isso é especialmente evidente entre os actuais tecnocratas prontos para o poleiro dos dois maiores partidos. Mas para os lados nada me parece muito melhor. E irrita-me profundamente o cheiro a putas velhas que tudo lança, das madamas escondidas nas sombras a contar as notas e a puxar os cordelinhos. Ou o cheiro que vem do caldeirão decrépito e enfezado, onde uns fósseis com gravata (se mais à direita) ou sem gravata (se mais à esquerda) dizem que zelam pelos interesses dos trabalhadores, quando não sabem o que é picar o ponto há décadas. Ou o excesso de zelo em fazer o jeito ao patrãozinho dos fabricadores de notícia (não lhes chamo jornalistas, claro, porque duvido que a maioria tenha competência para tanto e também ali já quase não há vocação). Como nauseia o bedum que se desprende da manhosice de uma certa oligarquia do pilim ou do tijolo, de bolsos fartos para promover campanhas e mão aberta para cobrar favores. Ou a pestilência organizada de jogos semi-secretos, em opus daqui e dali e todas as outras tramas emaranhas com origem num trono onde ultimamente se senta um calhau, contra (quando interessa) os interesses dos que um dia se disseram livres para esculpir a pedra bruta. Como depois há os caciquismos vários, com a dimensão e cheiro equivalente ao tamanho do bolso que os comanda, metendo o dedo onde podem arrancar tostão, cobrando bem caro qualquer assinatura que desate os laços que enlaçam o povinho. Ou as negociatas regadas a álcool, drogas e sexo. E alombam sempre em cima do povinho e o povinho paga. São uma praga imunda, que alastra. Rodam votos, rodam cabeças, fica sempre o mesmo fedor. E não há maneira do País (e do povinho acossado e espoliado) conseguir livrar-se dos chulos, até porque chulos há muitos e, como sempre, há os que se ficam pelas ruas bem visíveis e os que se escondem nos gabinetes. E a verdade é que isto tresanda. Tudo tresanda. E não é fado nem resignação. É poeira, cortina de fumo. O que importa jamais será revelado: queimaria como incêndio de verão, sem poupar nada que lhe aparecesse pela frente. E por isso mesmo não arde: são todos bombeiros em casa alheia, sempre que lhes cheira que podem ficar sem parte da ração, mesmo que se armem em pirómanos em ano de eleições.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais Vozes

acho que terminaste em grande, com a palavra-chave para a política deste ano: eleições! há toda uma jogatana, de facto, em torno disso.
eu temo que candidatos nos irão os partidos oferecer e, pior, temo escolher... não posso votar no Obama?
fabulosa | Homepage | 01.30.09 - 8:03 pm | #

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Porra rapariga a isto que acabas de escrever não lhe acrescentava nem mais uma virgula . até parece que transformaste em palavras o que sinto
frogas | 01.30.09 - 9:02 pm | #

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Não temos alternativas, não é? Desde que tenho idade de votar, só nos referendos votei por convicção. Em todas as outras eleições, votei contra e não a favor de alguém, no mal menor de entre uma escolha raquítica, que cada vez está pior. Nas próximas, lá vou eu outra vez e outra vez contra e não a favor. E sinto que não tenho alternativas. E não há mesmo, que em Portugal nunca poderias ver um Obama. Não temos hipóteses de ver a classe desenredar os laços que a classe fabricou e com que se protege
Hipatia | Homepage | 01.30.09 - 10:54 pm | #

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Isto não foi escrito agora, Frogas. Já cá o tinha publicado e apenas lhe fiz ligeiras adaptações: é que o bedum é recorrente, a merda passa a vida a ser atirada às ventoinhas e não tens como escapar ao cheiro
Hipatia | Homepage | 01.30.09 - 10:55 pm | #