Philip Hichcock
Acho quase sempre que a exposição gratuita do corpo pode ser um exagero, especialmente aquela legitimada pela paródia, ou do só porque sim. Já não acho o mesmo quando existe um objectivo claro para a exposição, que sempre me pareceu válido combater o tabu. Como penso demasiadas vezes que está validada a exposição do corpo feminino, que aparece vezes demais para vender até um garfo, não havendo uma contrapartida igual de exposição do nu masculino, como se ainda fosse feio ou pecado ou crime expor a genitália masculina. E os velhos símbolos da abundância romanos, ou a origem do mundo segundo um pintor oitocentista, ficam presos na visão encarquilhada de uns poucos, agrilhoados aos preconceitos de séculos de uma certa moral que se pretende reflectida nos bons costumes. Não chega a ser censura. É pior do que isso, porque a censura é facilmente combatida com a liberdade. É uma visão entranhada do que é feio ou do que é pecado. E pergunto-me se no Magalhães de Torres aparecessem só caralhos erguidos haveria tanta gente a falar. Como me pergunto o que diriam - ou se diriam alguma coisa - se em Braga o livro apreendido apresentasse uma imagem de dois homens (duas mulheres e ninguém diria nada, claro) em pleno acto sexual.
Pornográfica, afinal, não é apenas uma certa forma de ver o mundo, legitimando assim a validade de algumas imagens e não de outras?
21 comentários:
seguir-se-á "o libertino" do Luiz Pacheco, Braga idem? que se cuidem as bibliotecas e já agora que se desculpe este meu exagero pois não vejo neste "incidente lamentável" (irei ouvi-lo assim dito num telejornal? provavelmente) mais que os ecos cíclicos da moralidade amoral que volta não volta persegue quer livreiros quer qualquer pensador livre. não foi igualmente em Braga que há uns anos atrás um livro (galego?) foi por ordem policial retirado duma montra, por "ofensa à moral"? ou título ou imagem, não me recordo? e "o amor é fodido" do MEC também não teve assim uns quipóquós quando saiu?
Braga, pois é... o chibo terá sido algum padre que por lá passou e deu em suar fininho por baixo do saiote ao ver a cores o que só sonha, ainda para mais a preto-e-branco que é como dizem que se sonha.
toda a razão a ti! e a Coubert, já agora. entre o Big Bang, uma empreitada de seis dias ou uma linda vagina, prefiro a terceira opção para poeticamente justificar cá andarmos a fazer pela vidinha de sermos felizes
cg
quanto à pub, aí discordo: gosto da tendência existente!
:))
Pois tens razão Hipatia!
Vivemos tempos pornográficos.:) Quase tanto como na pornográfica mentalidade dos brandos costumes e medo para se ser mais papista que o papa de antes de 74. Porque ver pornografia num nu é uma questão da mentalidade e se em Portugal ela está a regredir para tempos passados, eu quero ser espanhola. ;)
Se estas alminhas continuarem semana a semana nestas cavadelas no próximo mês certamente vão proibir a imagem da República Portuguesa, o Menino Jesus nu nas palhinhas, ou tapar a maioria das esculturas do Teixeira de Pascoais ou as Meninas do João Cutileiro.
Só que mesmo esta "moral amoral" e as reacções que se lhe sucederam têm ar de coisa do costume: a moralzinha dos pais que se escudam nos filhos para fazerem queixa da "imagem feia" e as críticas que se lhe seguiram em todo o lado - a Luna diz que nunca viu tanta rata em tanto sítio e tem razão - com o aspecto de crítica ao óbvio. E continuo a perguntar-me se tantos criticariam se na capa do livro estivesse uma imagem de uma cópula entre dois homens ou se magalhães de pvc estivessem só caralhos pintados numa qualquer busca de "homens" no google.
Só que eu acho que a crítica desembestada aos brandos costumes é também ela pornográfica: no exagero de baterem no óbvio, na soberba e pressa com que clamam por censura, na forma desonesta como tentam estender cada incidente a todas as áreas. Sei que Braga tem fama de ser a terra dos 3 "p", com os padres à cabeça. Mas também sei que muitos dos que hoje correram a criticar com recorte urbano e moderno ficariam pornograficamente calados se a imagem não fosse esta e antes uma que lhes caísse no goto dos preconceitos. E assim a pornografia também se identifica com muitos dos que olham e correm a bramir contra um acto específico, mas se esquecem de pensar na vontade com que censurariam se ali, em lugar de estar uma cona pintada com mais de um século, estivesse uma qualquer imagem que ainda não aceitam ver.
Hip': a associação caiu-me de imediato quando li "Braga" (e mais tarde li que foram uns paizinhos os chibos, por causa dos filhinos - li via Cat do 100nada). nunca fui a Braga mas conheço a reputação de conservadora via excesso aquitectónico de mosteiros habitados. lembro-me dum arcebispo que viu meia hora dum filme e pasmou de admiração, tanta que fechou o aparelho para reflectir sobre os mundos que não conhecia. pelo que depois disso disse não se lhe viu vontade duma voltinha pelo mundo 'pagão' e 'pecador', afinal tudo potencias "clientes" agenciáveis pela óptica do seu mister. suponho que Bragança e as suas mamãs não sejam tão longe desses sinos e ao seu rebate. as coisas são como são e se Braga tem fama dos 3 pês antes do talho humano e das pilosidades atracadas em pilosidades vêm os do saiote no comentário popular. daí a suspeita que o chibo teria sido um padre, até ao que ouvi lá vê-se clero na rua como em mais nenhuma cidade (talvez só em Fátima, agora pensando nisso mas igualmente não sei). Santarém, aqui ao meu lado, tem fama de cidade de marialvas e se na juventude isso não se nota que destoe, sei por dedução própria que os ditos abundam nas gerações mais entradotas pelo que o crisma até se justifica.
vejo o acto dos polícias como um fait divers que só tem o impacto mediático pelo tema e por suceder ao de TNovas com o "Magalhães". uma boa gargalhada, é o que este merece (o de TNovas é bem mais grave na minha opinião) e o graduado que autorizou a apreensão dos livros provavelmente a esta hora já maldiz a decisão.
há, como dizes e mais alguém, uma "mentalidade pornográfica" por trás destes dois incidentes e quaisquer outro do mesmo jaez, tipo 'públicas virtudes, pecados privados'. uma ruralidade (em itálico) de mentalidades. como em Viseu, há bem poucos anos, na perseguição e espancamento dos prostitutos homossexuais. as fogueirinhas hodiernas para aproveitar o agá noutro adjectivo.
depois claro que tudo é político, é acto político (até a passividade e o olhar para o lado é) e nesse duelo quem pode e deve atacar não hesita em esticar o florete quando vê possibilidade de juntar pontinhos ao bornal do "bota fora". os partidos políticos, por essência, lutam pelo Poder e quem o não tem ataca o detentor, vice-versa amanhã. isto (TNovas + Braga) caiu que nem ginjas - o segundo pelo cómico mas igualmente por arrasto.
agora do resto que argumentas: se se tratasse duma imagem pública de cópula explícita eu aceita-la-ia num contexto artístico mas dificilmente num de pub' assim sem mais nem menos. tal como as imagens do Kama Sutra ou da escultura na expo do comendador. ponham-nas em locais públicos e para mim serão como "o beijo" do Rodin ou (excesso no exemplo) o dito pirilau do Cutileiro: olho e sigo, "boa!", penso eu. aqui não sei se erro mas acho que até no museu do Vaticano há nus integrais de Miguel Ângelo: há contexto artístico. porém entendo que pelo local e sua mística religiosa o quadro de Coubert não fosse lá exposto.
na pub' vigora a regra que vale tudo incluindo tirar olhos nem que seja à pinocada. para vender preservativos - ou café revigorante; ou refrigerantes refrescantes; ou automóveis bué de espaçosos - uma imagem de sexo explícita é um exagero de mau gosto. tal como no sexo real, em que "a mola" está entre as orelhas e não nas virilhas, a sugestão ou a semi imagem produzem mais efeito pois estimulam a imaginação. vem-me à ideia um exemplo à volta dos (belos) atributos anatómicos femininos: uma mini-saia faz virar mais cabeças que as mesmas pernas numa praia ;-)
enfim, este estardalhaço todo nada vale. ou além do cómico, que esse é que perdurará. para azar de Braga, concedo... :))
carlos
via caixa de comentários do "jugular" acabo de saber que há uma versão masculina deste quadro, baptizado "A origem da guerra". fica o link (mas não o mandes para Braga senão ainda dá sarilho eheh):
http://chezmonette.xooit.fr/t451-L-origine-de-la-guerre.htm
c
Ainda por cima, o quadro é lindíssimo, e o título também. Como diz a Catarina 100nada, este país anda mesmo com falta de cona - e gosto, acrescento eu.
Creio Hipatia que na blogoesfera é fácil uma notícia fresquinha incendiar imensos blogues em cadeia seja qual fôr o cariz da notícia. Como nos posts sobre os Oscares, por exemplo. Creio ser mais do género, eu não quero ficar atrás e não dizer nada sobre o assunto que eu quero estar no pelotão da frente. ;)
Depois na minha opinião pessoal estes dois incidentes, em que em ambos se volta atrás e se dá o dito por não dito, espelham a mentalidade que se vive em Portugal. Porque a decisão da censura é decretada por magistrados que acolhem queixas populares e só o bruá subsequente os faz recuar. Ou seja, algumas das pessoas que detém autoridade neste país julgam lícito censurar actos culturais que lhes parecem não estar de acordo com a moral vigente. E esta mentalidade de uma magistrado pensar lhe é lícito impôr uma moral parece coisa do passado e não creio que há uns anos atrás mesmo que o magistrado o pensasse se sentisse autorizado a fazê-lo.
A ruralidade está na cabeça e não na geografia, Carlos. De tal maneira que não tenho dúvidas que muitos dos que saltaram a fazer a defesa da arte sairiam em passeata se um professor mostrasse o quadro numa aula de pré-adolescentes, os mesmos pré-adolescentes que, pelos vistos, andavam com os pais a circular numa feira do livro.
E quanto à publicidade também não estamos de acordo. É que se instituiu que o corpo feminino - e já sem qualquer pudor - serve para vender tudo e mais alguma coisa, faça ou não sentido estar lá o nu feminino. E isso também é uma questão de mentalidades. Depois, obviamente que saem assanhados a dizer que a publicidade do Dolce & Gabanna apela à violência e não sei quê. Tretas!
Claro que isto é um País de conas. De conas enconadas e de hipócritas. Até aposto que esta gente tem toda o kama sutra ilustrado como livro de cabeceira dos filhos pré-adolescentes. E, sim, acho que a atitude da bófia foi idiota e de analfabeto. Mas ainda me assusta mais a hipocrisia de quem foi tão lesto a criticar. E, pelos deuses, como foi feroz e despropositada tanta da crítica!
Maria Árvore, eu vou esperar sentadita e rir-me sozinha quando voltar a surgir – que vai surgir outra vez, que isto é cíclico – o debate sobre a educação sexual nas escolas. E vou ler muitos dos que agora desataram a criticar a "censura" em Braga e até o Magalhães de Torres. E depois de ler toda a verborreia idiota que essa gente vai proferir contra a educação sexual, voltamos a conversar sobre o nojo que a hipocrisia me mete e onde anda a tal mentalidade obtusa, está bem?
Hipatia,
por mim está bem que eu discuto o assunto em qualquer lugar e tempo.:) Porque eu sigo a filosofia acima exposta no post da Fabulosa e tanto me dá quem nos blogues toma posições por hipocrisia ou não que eu tomo apenas as que me parecem correctas.
Tanto se me dá se há gente à direita ou à esquerda do Sócrates a aproveitar isto para fazer campanha contra ele. Clarinho como água que eu nunca na vida votarei nele. E clarinho como água que qualquer censura moral à cultura, venha de onde vier, receberá a minha reprovação porque... faz mal às cabeças das pessoas. Fá-las crer que não são livres de pensar pelas suas cabeças nem de terem opiniões e que há sempre uns salvadores da pátria para nos orientarem no «correcto».
Maria Árvore, mas é que isto não tem nada a ver com o Sócrates ou com o Governo. Não tem! E não pode ter. Tem a ver com mentalidades e hoje li dos maiores absurdos sobre as gentes de Braga a propósito deste assunto de quem nunca deve ter subido a norte do Mondego na vida. E se é certo que tu (como eu, espero) temos uma postura que nos permite postar a genitália quer masculina quer feminina - e corremos o risco, tu veres o blogue antigo denunciado como obsceno e eu a receber e-mails de um merdas minguado a criticar-me por escrever palavrões - muitos há que cavalgaram agora hipocritamente a onda da indignação. Descambar para a política é só mais do mesmo. Mas a hipocrisia está lá e as teias de aranha também. E um dia destes lá virão outra vez ao de cima e nem que seja arte já não se lembrarão da liberdade de expressão.
acabei por não perceber onde discordamos, Hip'.
na "ruralidade" o itálico reclamado estende-o bem além de montes, praias ou calhaus. a caracterização dos abusos na pub não foi de aplauso mas sim de crítica. no resto torço e espremo e o que sai, um contado duma maneira outro doutra, vai dar ao mesmo quanto á barrela.
ah! divergimos na adjectivação púbica e redondezas! :) dizes "cona" e "rata" e eu rio-me e passo ao lado :))
vais-me chamar 'enconado' por isso?
cê, de semlink ;)
(vou levar porrada mas pus-me a jeito :))
Olha, já tenho post novo sobre a tal da "ruralidade" e como não tem mesmo nada a ver com geografia. E é por isso que não lhe chama ruralidade, com ou sem aspas. Talvez haja na ruralidade verdadeira uma atitude bem menos hipócrita. E eu chamo os nomes que me apetece, sim. E as ratas, obviamente, não eram necessariamente as ratas da pintura. E não é por isso que deixam de ficar ao léu.
bem linkado. quando li o machambeiro (recebo por mail, essa coisa da subscrição de posts) recordei-me que igualmente recebera esses Fw's em segunda volta pois aquilo já não é "novo". há um ano ou até mais atrás também recebi a primeira remessa.
hoje estás despida de humor. eu acho graça ao uso do vernáculo assim descomplexado. porque reconheço-me nisso complexado: não uso excepto em ambiente muito, mas muito restrito. isso não faz de ti certa e de mim errado (acho). são formas de agir e - suponho, aqui - têm origem na matriz educacional que, aí no Porto/Norte (isto não tem nada a ver com 'ruralidades', please...) é mais descomplexada no seu uso. eu vim das Beiras e fui para África. depois aportei aqui no eixo Lisboa-Ribatejo. provavelmente se tivesse desaguado aí em cima "não ria e passava ao lado", hoje, trinta e tal anos depois, não seria assim 'complexado'. mas sou-o e contra isso batatas. batatas de consumo próprio que nada tenho a ver com as dos pratos dos outros. isso é minha opção e até meu direito além de dever.
quanto ao "ratas": originalmente li-o com duplo sentido: o que indicas mas também como conas. embora cá pra mim tenha pensado ser bastante esquisito uma mulher referir-se ao seu órgão sexual com um nome desses, mais ouvido em contexto brejeiramente lascivo.
agora está tudo ao léu, portanto?
:)
Como em ratas de sacristia ;-)
De facto não gosto deste termo quando aplicado à genitália feminina. Antes cona.
E olha que já dei para o peditório de quem me critica o uso do vernáculo. Quero lá saber! São palavras como outras e, muitas vezes, não há mesmo palavra melhor para usar :)
fixe!
:)
... e vou prá caminha que tenho um book para ler e embora não fale em genitálias (até ao momento) está bué de fixe.
;)
c
Mais Vozes
A melhor forma de provar que quem manda pode é fazer com que a imbecilidade seja aceite sem contestação.
Obsceno é o que um certo organismo do estado pretende fazer ás opiniões de quem nele trabalha
e se é verdade que o que aqui escrevi pouco tem a ver com o texto também o será o facto de estas merdas me xxxxxxx muitíssimo mais do que a esmagadora maioria da pornografia que por ai anda a circular
penso que sabes de que obscenidade é que estou a falar
frogas | | 02.25.09 - 1:39 am | #
--------------------------------------------------------------------------------
concordo contigo, Hip, mas há ainda outro problema, pelo menos em Portugal. há mais mulheres que homens, certo? portanto, se pensarmos bem, as mulheres são as maiores cúmplices desta situação...
fabulosa | | Email | Homepage | 02.25.09 - 10:37 am | #
--------------------------------------------------------------------------------
Frogas, o que é preocupante e obsceno é a facilidade com que se mistura MP, PSP ou Estado com Governo. Mas parece que agora vale tudo
Hipatia | | Email | Homepage | 02.25.09 - 10:22 pm | #
--------------------------------------------------------------------------------
Obviamente que os preconceitos vão com o leite enquanto os putos são amamentados, Fabulosa. A sociedade patriarcal está demasiado entranhada e não é um qualquer 25 de Abril que muda realmente as mentalidades. Até as mentalidades daqueles que se aproveitam de pequenos incidentes como estes para se mostrarem muito modernos, mas que quando se começa a falar a sério de assuntos onde o preconceito mora de facto num instante viram uns reaccionários à moda antiga.
Hipatia | | Email | Homepage | 02.25.09 - 10:25 pm | #
Enviar um comentário