2009-02-09

Uma questão de confiança

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«A outra [esquerda], a que porventura sinto pertencer, anda à procura daquilo que perdeu: a confiança.»

Pedro Rolo Duarte



Gastei ali em baixo mais de 400 palavras para dizer algo que, pelos vistos, tinha sido bem mais fácil se me limitasse a ir buscar as palavras dos outros.

(Nunca vou deixar de invejar a capacidade de síntese!)

13 comentários:

PreDatado disse...

O Pedro Rolo Duarte, para dizer que ainda mantém a fezada no Sócrates não precisava de ter arranjado tantos adjectivos para os outros. É que adjectivar sem demonstrar é perigoso. Perigoso e demagógico (adjectivo eu agora).

Hipatia disse...

Todos nós adjectivamos para qualificar e será com base nessa qualificação que faremos as nossas escolhas. Porque podemos nós e não pode Pedro Rolo Duarte, Pre? E porque é perigoso adjectivar uma opinião? É perigoso para todos ou só especificamente para o Pedro Rolo Duarte?

PreDatado disse...

Para todos, Hipatia. Quando se utilizam adjectivos qualificativos exprmimos sem dúvida aquilo que pensamos, mas todos temos responsabilidades quando o fazemos. E quando o fazemos publicamente devemos justificar. Por exempo se eu fosse o Manuel Alegre gostaria de perceber as razões porque é que ele (e eventualmente outros) me estariam a chamar de aventureiro. É apenas isto que eu quero dizer quando se adjectiva cada um dos "outros".

Hipatia disse...

Pre, a questão é que algumas das atitudes de Manuel Alegre podem ser mesmo vistas como aventuras. Queres um exemplo simples? O aparelho socialista resolveu apoiar Soares nas últimas Presidenciais e Alegre seguiu em frente e foi também a votos. Até levou o meu, vê lá bem. Mas foi aventureirismo. Como têm sido muitas das posições que tem tomado e que vão contra a linha do Partido. Depois, também não sei que possas ver de errado nos adjectivos com que PRD brinda os outros partidos. Está assim tão errado? Achas mesmo que faz sentido pensar num Governo dirigido por Louçã ou Jerónimo de Sousa ou Paulo Portas? Ou um qualquer movimento à guisa do PRD de tão má memória? Quem sobra? Os do costume: PS e PSD. E sobram, portanto, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. Eu não tenho quaisquer problemas em chegar à mesma conclusão que Pedro Rolo Duarte: sendo (ainda) de esquerda, estou limitada nas escolhas e, acima de tudo, há muito que perdi a confiança nelas.

Maria Arvore disse...

Pois eu não consigo pensar como o PRD e se não votei no Sócrates antes muito menos agora votarei nele.

Aliás, depois do novo Código do Trabalho nem sequer considero o Sócrates de esquerda. E ele é o PS para as próximas legislativas.

O pior que pode acontecer é ele ganhar com minoria e aliar-se ao Paulinho que já se pôs a jeito para voltar o poder.

E como eu não perdi a confiança em gente de esquerda que está representada na Assembleia da República e que apresenta projectos e dá voz à indignação de neste país se tornarem os pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, votarei neles, obviamente. :)

PreDatado disse...

Hipatia, se calhar é abuso estar a usar o espaço do blog para este tipo de conversa, mas prometo que não ripostarei.
Se formos classificar de aventureirismo a candidatura de Manuel Alegre porque ela foi à revelia do aparelho do partido, o que poderiamos chamar à candidatura do Partido Socialista que estava completamente condenada à partida, dado todo o circunstâncialismo que envolveu a mesma? A ida de Soares às urnas é que foi uma autêntica aventura do PS e estou longe de chamar aventureiro ao Dr. Mário Soares.
Quanto à questão de quem resta... Bom eu tenho uma postura muito pouco conformista e como tal nunca ponho as coisas nesse pé, embora nada me mova a quem o faz. Prque o nosso conformismo de ontem é que nos faz falar hoje. Muito bem, nem PR Duarte nem tu aparentemente estão dispostos a ter uma experiência governamental com Jerónimo ou Louçã. Tudo bem, não são os únicos. Haverá pelo menos mais cerca de 80% de votantes que não o querem. Uma franca maioria e incontestável. Então quem resta? o PSD e o PS que há mais de trinta anos nos têm conduzido para o pântano onde nos encontramos e de onde obviamente não parecem ter soluções para nos tirar. Mas cada um é livre de escolher o país onde quer viver. O que me admiro é de se queixarem.
Um beijinho e por mim termino aqui.

Hipatia disse...

Pois eu – e contra a minha vontade, acredita – votei em Sócrates como o mal menor. Também não sabia muito bem o que era o Sócrates, lá isso é verdade. Mas mesmo assim votei nele. E muito especialmente porque achei que se não votasse nele me caía na sopa outra vez o Santana Lopes e o Paulo Portas. E, naquela altura, nada me parecia pior. E vou, provavelmente, voltar a votar no mal menor, sabendo que, entre esta corja, não há nenhum em que confie. Depois, ao contrário de ti, olho para a AR e não vejo lá brava gente a tentar defender-me, defender-nos. Nem sei quem lá está a representar-me, na verdade. Há um grupo parlamentar de um partido em que votei, mas não tenho a quem personalizar a crítica. Só lá vejo um bando que não gosta de trabalhar nem à segunda nem à sexta, que aparece e desaparece conforme as conveniências, amordaçado pela vontade dos partidos e as disciplinas de voto e que, de 15 em 15 dias, dá uns espectáculos para ver se aparecem nos telejornais. Depois, por mais que goste da utopia, preciso analisar as propostas à luz da realidade. E as propostas trotskistas ou marxistas-leninistas perderam para mim qualquer valia. Já não as vejo como viáveis; não consigo. Nos valores da direita nunca me revi. Sempre estive no meio. E este meio pertence hoje aos tecnocratas e não vejo um único que escape. Não confio. Mas olho e não vejo alternativas: o tal do mal menor implica que vote, mesmo contrariada, para que não aconteça um mal maior. Nas últimas legislativas, o mal menor era Sócrates. Confesso-te que, até Outubro, espero que apareça um mal menor que não seja Sócrates. Mas não sei se aparece: não há qualquer sinal disso.

Hipatia disse...

Pre, uma discussão não é uma guerra. E eu gosto de discutir e nem por isso faço guerras. Acho que todos temos direito à nossa opinião e que a devemos debater e, já agora, defendê-la. Por isso, defende a tua nesta caixa de comentários à vontade, que não é por isso que amanhã não estamos a falar de outra coisa qualquer. Olha, a discutir futebol, por exemplo, comigo a defender todas as equipas do Norte, quanto mais não seja por esta mania de achar que do centralismo de Lisboa já devíamos estar todos fartos e que muito do mal deste País é o alheados que os tipos que se juntam na Capital para discutir umas coisas de política e economia estão do resto do Portugalinho. Ao menos o futebol, desde a Trofa a Braga, ainda os faz engolir uns sapos.

E, já agora, fica a saber que não tenho nada contra os aventureiros, especialmente em política. Antes isso que as cartilhas (ou cassetes) que uns quantos ainda se atrevem a invocar para o público, como se há muito não tivessem metido a ideologia no bolso onde, no entretanto, abarbataram as benesses de se pertencer à classe. Estamos, aliás, a precisar é de mais aventuras. Estamos a precisar de os mudar a todos. Mas até que ponto já não têm todos tentáculos demasiado profundos e até que ponto as jotinhas não são apenas mais do mesmo? Já agora, também não acredito que seja possível mudá-los a partir de fora, "inventando" mais um qualquer partido que, no fim, vai ser apenas mais do mesmo. Acho mesmo que é preciso que impludam, para ver se do caos sai alguma coisa que se aproveite. Mas este não é o momento. Não com a economia assim na merda e com o próprio capitalismo a tremer. Que trema uma coisa de cada vez: há de chegar o momento da democracia se metamorfosear.

Quanto ao Louçã e ao Jerónimo, olha que eu tento. Do Jerónimo desisto mal ele abre a boca para dizer o de sempre. De Louça, há duas ou três coisas que aprecio, penso que algumas das coisas que chegaram à AR vindas daquele lado não foram tempo perdido, revi-me nas lutas do referendo da IVG e do casamento gay e em muitas das críticas corrosivas que faz à prostituição instituída entre grupos económicos e os dois principais partidos. Mas, quando chegar a hora de votar, vou voltar a pensar qual é o mal menor. E não sei se um voto demasiado à esquerda não me vai penalizar ainda mais com um futuro governo, mesmo que minoritário, demasiado à direita. E esse é o meu dilema.

PreDatado disse...

Hipatia, quando discutirmos aqui ou lá no meu blog coisas do futebol não esqueças que eu sou do Benfica! :)

Maria Arvore disse...

Hipatia,
atravessando os teus últimos comentários posso delinear um cenário?... ;)
Qual seria o problema do BE ser a 3ª força nas legislativas e da parte esquerda do PS (que ainda lá há gente de esquerda) se bater por uma aliança do PS em minoria com eles em vez do PS em minoria com o CDS?...

Hipatia disse...

Eu não esqueço que és do Benfica, Pré. Por isso estranhei ver-te ali em baixo a defender os lagartos, lol

Hipatia disse...

Não tenho qualquer problema em ver o BE como terceira força política. Antes o BE do que o PP ou PCP. Se o PS for minoritário, também não vejo mal nenhum. Mas a questão é que, na hora do voto, é contra qualquer hipótese de voltar a ter uma coligação PSD-PP que acabo a votar. E se todos votarmos demasiado à esquerda essa torna-se uma possibilidade, tal como no primeiro referendo da IGV ficaram demasiados defensores do SIM encostados e o resultado foi o que se viu.

Anónimo disse...

Mais Vozes

Devo ter lido demasiado depressa o q escreveste hipatia e julgo ter lido demasiado depressa porque não me pareceu que o teu texto desse indicações tão precisas de voto . Penso não estar enganado quanto à outra esquerda de Pedro Rolo Duarte e se não estou enganado essa esquerda é aquela que Sócrates comandou, e essa esquerda que Sócrates comandou e para a qual o senhor não vê alternativas governou mais á direita do que alguma vez os partidos de direita o fizeram .

Pessoalmente julgo que o senhor está enganado, não foi a confiança que a esquerda do senhor Sócrates perdeu ,o que a esquerda do senhor sócrates perdeu foi o sentido de orientação. Confiança autoritarismo prepotência e falta de consideração pelo povinho foram coisas que nunca faltaram a esta esquerda que de esquerda só tem o nome .

Como já disse devo ter lido mal o que escreveste e devo ter lido mal porque pensei estar a ler os desabafos de alguém que estava profundamente desiludido com está merda toda .
frogas | | 02.09.09 - 11:19 pm | #

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E estou mesmo, Frogas. E não leste demasiado depressa. Leste alguém profundamente desencantado e que se sente sem alternativas: não voto em branco, não voto nulo, não voto no PC, não voto à direita. Sobram-me três alternativas e, neste momento, apesar do nojo e da desconfiança que todos me merecem (e a esta distância das eleições) até me repugna mas a verdade é que Sócrates é alternativa sim.
Hipatia | | Email | Homepage | 02.09.09 - 11:52 pm | #

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Posso dai concluir que entre a incerteza e o fedor optas pelo fedor para não te comprometeres com a incerteza.

posso?
frogas | | 02.10.09 - 10:28 pm | #

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Mas onde foste buscar que eu acho que à esquerda do PS está incerteza e não fedor? O PC das purgas não é fedorento? E a demagogia do BE também não? Incerteza? Pois se a única certeza que tenho é que, da esquerda à direita, é tudo farinha do mesmo saco e cheira tudo ao mesmo.
Hipatia | | Email | Homepage | 02.11.09 - 1:49 pm | #