2009-02-12

άλφα (ou uma pequena piada privada)


aqui


E não é só do tamanho da pistola!
O Ministro desafiou.

“Lavar o pátio à mangueirada era uma boa coisa: animais e crianças espalhavam-se com satisfação quando as tinas, cheias de sabonária, inundavam o chão, e o mais pequeno de todos, Spiuni, corria vacilantemente, fugindo e guinchando, feliz, através das lágrimas, quando a água lhe apanhava os calcanhares.”
In Enterrem-me de Pé, Isabel Fonseca

E eu, animada, fiz-me.

Lavar, lavar, lavar.... Ela não fazia mais nada, senão lavar. Lavou escrupulosamente cada cantinho da cozinha. Só assim, sem parar de lavar, conseguiu tirar as nódoas de sangue do chão e das paredes.

Mais tarde havia de lavar o pátio à mangueirada, para ser um lavar diferente. Para purificar a alma. Agora tinha de se desfazer das roupas e de mais umas quantas coisitas. Nada de deixar fosse o que fosse ao desvario. Nada. Tudo tinha de ser meticulosamente pensado a partir de agora. Afinal, um erro fora cometido. Um erro. Não tinha sido de propósito, estava inocente. Testemunhas não as havia, se assim fosse seria mais fácil provar a sua inocência. Sem elas quem acreditaria em si?

Mais tarde havia de lavar o pátio à mangueirada. Sim. O pátio. Todos gostavam do pátio. Um local de reunião, de brincadeira, de alegria. As crianças adoravam. Sobretudo o mais novo. O seu pirolito lindo era quem se divertia mais. Os cães juntavam-se-lhes sempre, correndo e ladrando de alegria. O pátio parecia um ringue de patinagem artística, pois a água com sabão tornava-o propício a verdadeiras demonstrações artísticas.

Ah! Que satisfação era pensar naquele pátio e na festa que era sempre lavá-lo à mangueirada. Mas... Mais tarde. Mais tarde que agora uma nuvem cinzenta tinha-se-lhe apoderado do espírito. Outras "lavagens" lhe ocupavam a mente.

Lavar, lavar, lavar.... Mais tarde. O pátio. As crianças. Não. As crianças, não. Vermelho. Medo.


E agora, podemos ler o Mundo?




-O que é ler o Mundo, Avô?
-É entender-lhe os sinais espalhados um pouco por todo o lado.
-Mas todos os lados não cabem aqui no nosso pequeno quintal...Se calhar teremos que procurar noutro lado?...
-Pois...
- Já sei! Encontramo-lo no computador do mano ou na televisão.
- Ou...talvez num livro... – disse o Avô.

E de repente, ler deixou de ser uma tarefa apenas lúdica, trazendo consigo laivos de um prazer primordial que só o nosso silêncio interior pode descrever.
Ler passou a ser luta, necessidade de viver, factor de integração e arma secreta numa ascensão social muda, lenta mas imparável.
Ler abriu horizontes de imagens a pessoas atentas às palavras que no seu recolhimento iam construindo filmes rolando a toda a velocidade, projectados no córtex da imaginação, onde o autor é só uma espécie de argumentista e pretexto para um guião.
Ler largou a gargalhada e o gozo no entendimento do jogo ou na subtileza da piada e, sem darmos por nada, ler deixou também a alma desgraçada, encalhada como um barco num recife de tristeza.
E ler transportou consigo outras emoções e lembranças, da menina das tranças e dos cheiros do pão-de-ló da Avó que já não ouve mas lê as receitas de óculos encavalitados sobre o nariz adunco.
Eu li! Eu li os recados da mãe para não me esquecer do pão. E li a ordem do patrão num ofício amarelado. Eu vi-me atrapalhado com as pequenas letras dos contratos que me deixam farto... e lá entendi a bula porque me doía um dente. E enviei mails a toda a gente anunciando como um rei o nascimento do Vicente e todos os amigos leram alegremente nos ecrãs de plasma digital este pequeno dia de Natal.
E para dizer a verdade eu estou farto de ler os testes psicotécnicos, não os vou preencher! E o professor que me desculpe mas substituí
o exame por um poema. Não rima! Mas é sincero: Tas a topar meu? A coisa que eu mais gosto de ler são as mensagens da chavala, ali preto no branco em Times Romano Bold para encher a minha vida de Amor logo pela manhã. E quando o meu filho nascer eu quero que saiba ler a palavra Pai, pois muito tenho lido sobre ela, sem a entender.
E Sónia na solidão da cela, lendo um retrato que não é seu, mas de um homem, Dorien, tão igual a outros que conheceu, tão vaidoso...vai treze: tão violento afinal...
Mas porque é que até no sexo devemos saber ler nas entrelinhas?
Eu agora só quero que me leias um livro em voz alta e me ames depois pela noite dentro, pois hoje é fim de semana!
E sempre aquele sabor a leite com chocolate vindo da minha infância, cada vez que me lembro do corsário escarlate da colecção Emílio Salgari: juro que li mas estava com febre, privilégio de quem se encontra confinado com um livro ao seu lado por imposição da maleita.
“E eles nem sabem nem sonham que o sonho comanda a vida e sempre um homem sonha o mundo pula e avança nos braços de uma criança.” Yô! O Gedeão mora lá no fundo do bairro, batendo sílabas sempre entre dentes, sedentos de poesia numa ilha feita gente. É uma forma de leitura bem entendida pelos residentes...
E ler impele as crioulas “mais velhas”cansadas subindo a calçada do Moinho para aprender a ler o português na Biblioteca e trazem seus lenços garridos de badia amarrando promessas no cabelo crespo.
E que dizer daquela criança que entretanto descobriu que os livros contêm histórias, mais interessantes que as do televisor, substituindo a Avó que de cansada adormecera, embalada nos contos que em tempos escutara?
E aqueles outros que são tão estranhos que nos parecem tão familiares? Sim, os deficientes. Quem disse que as suas mentes não lêem um mundo normal?
E eu que tenho que mediar o livro com o poder tranquilo dos afectos, adivinhando pelo brilho do olhar o futuro leitor parado à minha frente.
Ler trouxe consigo o escrever, afirmação gráfica de vontades por estabelecer, fidelidade a vozes que surgem lá do fundo sem explicação, ditando um novo parágrafo ou uma opinião.
E leio o romper do sol em cada dia que renasço só para entender este Mundo onde agora me acho.

-Avô?... Podemos falar agora sobre o Mundo?

Miguel Horta
Janeiro de 2009

2009-02-11

Voz de Ouro!

Sim, ouro, dourado, brilhante, tipo decorações de Versalhes. Mas não 'tou a imaginar o Voz pintado assim. Ai que a Hipatia cai para o lado! Acalma-te Hip, não vou mudar a casa. O dourado é do prémio que a Suse do Xanax atribuiu a este cantinho que me acolheu. Vês?

Quem o transformou num Blogue de Ouro foste tu, Hip, por isso... Parabéns!
(Já agora, se quiseres fazer as honras e nomear 5 ilustres...)

Geografia Limitada

.«Há um aparecer que é próprio deste mundo. Muito amiúde, há sonhos. Por vezes deve retirar-se a tela para a cama e mostrar os corpos que se amam. Por vezes devem mostrar-se as pontes e as aldeias, as torres e os miradouros, os barcos e as carroças, os personagens nas suas moradas e com os seus animais domésticos. Por vezes é suficiente a bruma ou a montanha. Por vezes uma árvore que se inclina sob as rajadas do vento é suficiente. Por vezes a noite é suficiente, e não o sonho que torna presente à alma aquilo que lhe falta ou que perdeu.»

in "Terraço em Roma", Pascal Quignard


Penso no meu Norte e no quanto sou pertença desta terra, como a trago inscrita na alma, como se enche de surpresas e de espantos no mapa mental da minha geografia limitada.

Mais do que as igrejas a enfeitarem os cimos das serras, ou as penedias transformadas para a oração, ou o granito talhado, talvez a comunhão mais profunda se faça no meio das serras frondosas, engalanadas de vida. Sou, verdadeiramente, pó e ao pó voltarei. Mas também sou seiva e luz coalhada e brisa fresca e margens de rios frescos e impolutos. Sou como a estrada perdida, bordejada de campos e vinhas que, por trás de cada curva, insinua mais um espanto. Sou como as estrelas que se voltam a ver e o luar novo que nada alumia. Ou como as barreiras amuralhadas que escondem casas brancas e ruas limpas, rasgadas apenas pelo vento norte e que fazem ainda frente a um inimigo que já não há, enquanto os canhões silenciosos se cobrem de musgo e, por entre as pedras das flecheiras, nascem pequenas flores amarelas.

Sou esta terra alegre, verde e quente. Sou velha como as pedras de que herdei a história no sangue. Sou como a brisa e a água, frescas e sempre presentes. Ou aqueles dias em que o calor se desprende dos sabores, da malga de vinho verde tinto, da boroa e dos rojões. Ou as estradas marginais onde nos perdemos até encontrar um pequeno riacho cantante, sombreado ainda de carvalhos frondosos, com resquícios do visgo druídico e da mátria feita deusa de carnes fartas, férteis.

Sou o verde do minifúndio em pousio, a erva doce e perfumada. É em camas de urze que guardo os sonhos e por isso sonho esta terra, amo esta terra, deixo que ela me ame de volta e seja testemunha silenciosa dos amores onde me perco.

E enquanto tiver esta terra não preciso que, em sonhos, me mostrem o que ainda não perdi.



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Mais um desafio "Ministerial".

2009-02-09

Dor de barriga?


aqui

Ali em baixo, a Claire e o Carlos falam do que custa tantas vezes apresentar obra para o escrutínio alheio. A Claire fala mesmo em dor de barriga. O Carlos escreve para ele e um leitor. E eu para aqui a pensar que, pelo menos no blogue, isso não me faz qualquer impressão. Na verdade, na maior parte dos dias, não escrevo para qualquer destinatário específico. Sei que os tenho, que continuam a deixar-me opiniões nas caixas de comentários. E agradeço e gosto desses comentários, especialmente quando dão origem a troca de opiniões. É nas caixas de comentários que, quase sempre, acontece o melhor deste blogue. Não nos textos que escrevo (e só estou a falar mesmo dos meus). Mas acho que, vestida de nick, escondida num blogue de fundo escuro que pinto a letras azul cueca, escrevo quase sempre porque preciso mandar um bitaite qualquer (ou umas provocações, essas sim com alvo) e exercer esta mania de ter opinião. Depois, como disse à Claire, escrevendo por carolice não há verdadeiramente culpas ou responsabilidades, mesmo que tente ser responsável perante mim e, por isso mesmo, tento manter-me dentro dos meus parâmetros do que é correcto. Talvez seja por isso que gosto tanto do anonimato que o nick me permite: nunca chego realmente a ter uma dor de barriga nestes exercícios menores que nunca vão ser o centro do meu dia, nem sequer importantes o suficiente para que tema qualquer crítica. Fico é contente quando gostam. Mas isso já é o ego e, esse, também tem as suas manias.

Uma questão de confiança

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«A outra [esquerda], a que porventura sinto pertencer, anda à procura daquilo que perdeu: a confiança.»

Pedro Rolo Duarte



Gastei ali em baixo mais de 400 palavras para dizer algo que, pelos vistos, tinha sido bem mais fácil se me limitasse a ir buscar as palavras dos outros.

(Nunca vou deixar de invejar a capacidade de síntese!)

Leõezinhos




Fica para a próxima, amigos. Parece que para o ano também há campeonato.

2009-02-07

Eluana, minha irmã


aqui


Se um dia me vir assim condenada a uma morte em vida, a um caixão feito cama articulada, que alguém tenha a gentileza de me deixar morrer.

Porque há sofrimentos e desumanidades que ninguém merece, por mais que uns inventem
decretos-lei por medida ou outros - a quem não reconheço qualquer autoridade moral - tentem dizer que não.

Vozes de outros blogues

Penso mesmo que a maioria de nós é assim... Pelo menos no que me toca, tem dias, tem dias! eheh!

2009-02-05

Comunicado à blogos


aqui


Portugueses e Portuguesas, caros bloggers, meus amigos,

Este blogue fica – e com muita honra! – no cu de Judas da Blogosfera. É escusado, portanto, virem por caminhos ínvios até cá, que não é por terem o
cu menos à mostra que este cu deixa de agradecer a vossa visita.

Tenho dito!

Pérolas

A Claire quer saber o que está escrito na quinta frase completa da página 161 do livro mais próximo, coisa muito específica. Por acaso, não percebi bem se o livro mais próximo quer dizer aquele que ando a ler ou se pode ser outro qualquer que esteja ali mesmo à mão.
Esta semana comecei a ler um livrito que não tem sequer 161 páginas (e que já estou a acabar), por isso escolhi uma ao acaso e aqui vos deixo esta pérola do
Pérolas a Porcos3, do americano Stephan Pastis:

Ah! Não, ainda não é desta que me apetece escolher vítimas para passar o desafio...

2009-02-03

Banal



Somos todos sempre heróis sentados no confortável do sofá. Ou gostamos julgar que somos. E, no entanto, quantos – numa situação realmente dramática – seriam capazes de agir?

Eu não me tenho em grande conta. Como já disse várias vezes, sou profundamente banal. E os anos – os que já passaram e os que se arrastam agora ou definham lá no horizonte –, reforçam essa ideia de banalidade, de alguém que vai perdendo as utopias e há muito que sabe que nunca chegará a fazer verdadeiramente a diferença.

Há muitos anos atrás, seguia com um amigo negro e passamos próximos de um poiso habitual de skinheads. Ao verem uma mulher branca com um negro, três daqueles imbecis sentiram-se no direito de atacar o meu amigo. Empurraram-me para longe primeiro e devo ter voado uns metros até aterrar perto de um caixote do lixo. No entretanto, dois trataram de segurar o meu amigo enquanto o outro o sovava. Aquilo que recordo realmente do que se passou a seguir é difuso. Não sei quanto recordo de facto, quanto me contaram depois. Sei que perdi completamente a razão, que pelos vistos desencantei um pedaço de madeira – talvez estivesse no meio do lixo – e ataquei sem pensar. Estava realmente cega, totalmente cega. Não sei como dei, onde dei, se lhes fui às cabeças ou às pernas, se pensei sequer as consequências. Foi uma raiva tão profunda que, realmente, me fez perder total e absolutamente o controlo.

Depois disso, jurei a mim mesma que nunca mais me queria ver assim, tão tresloucada que seria capaz de matar. E talvez por isso evite tantas vezes (demasiadas vezes!) qualquer confronto.

Foi nisso que pensei quando vi o vídeo que o
Ivar hoje colocou e que resolvi trazer para o Voz em Fuga: aquela coragem contida de quem ultrapassou qualquer banalidade e a calma com que enfrenta as armas de mãos vazias.

Não somos todos heróis. Mas alguns são. E, pelo meio de um profundo respeito e admiração por aquela mulher, questiono-me sobre o que faria. Talvez perdesse a razão. Talvez não fizesse nada. E é a hipótese de nada fazer – como tantas vezes não tenho feito desde o dia em que fiz sem sequer saber o que fazia – que mais me assusta.

Fechar os olhos e não querer ver é banal. E somos (quase) todos profundamente banais. Talvez por isso só continuemos heróis sentados no conforto do sofá a admirar – e a invejar – aqui de longe quem tem a coragem de agir.

Desabafos!

Eh pá, de quando em vez passo-me da cabeça com estas... estas...

putas putas putas putas putas

putas putas putas
putas de merda!


Bem, isto foi muito refrescante, reparador até. Como vêem não é só a música que nos dá uma ajudinha a relaxar, às vezes só precisamos mesmo de um pequenito desabafo!

2009-02-02

Cá com os meus botões


aqui

Sim, há gente que escreve mal e porcamente, que não se entende como consegue ganhar a vida a escrever para fora, naquele ar de escrever para fora em forma de croquete semi-comestível destinado à bancada frigorífica à espera da mosca. Sim, há muito disso. Mas pior do que isso são as moscas, aquelas que nem para fazer croquete alguma vez deram e, no entanto, não desdenham um único momento para esparramar o veneno. E a inveja, claro.

(...)

Rammstein - Stirb nicht vor mir
Found at bee mp3 search engine


(É! Há dias...)

2009-02-01

Treitas

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«Alguns comentadores criticaram-me por tomar posição, não questionavam os argumentos, nem discordavam das posições, simplesmente achavam que deveria ficar calado numa lógica oportunista, discordando de Sócrates a atitude mais inteligente seria deixar os novos fascistas queimarem-no. (…)

(…) hoje qualquer cidadão mal amado pelos fascistas pode ser acusado de pedófilo ou de corrupto e muito antes de chegar a um tribunal para se defender já está mais destruído do que alguma vez a PIDE conseguiu em relação aos opositores à ditadura.»

in, O Jumento



Aqui há uns tempos, escrevi um post em que me insurgia contra a falta de tomates do Governo PS para que passasse na Assembleia da República uma lei que permitiria a cidadãos maiores, supostamente vacinados e contribuintes, terem acesso a um contrato civil que regulamentasse a sua vida em comum, para lá de opções sexuais, num quadro constitucional que condena qualquer acção que penalize a igualdade de todos, quer em direitos, quer em deveres fundamentais. No seguimento desse post, logo me entrou pelo blogue dentro alguém que aproveitava a deixa para acusar José Sócrates de homossexual, facto nunca provado (nem que era necessário provar, caso não tivesse sido sibilado tantas vezes), mas do qual essa pessoa tinha certeza absoluta. Como a conseguiu? Provavelmente seguindo o boato que, há quatro anos atrás, foi de forma insidiosa lançado na imprensa, com óbvios objectivos de lançar uma mancha sobre o nome de um candidato a Primeiro Ministro, esperando que um grupo jurássico de votantes entendesse que a suposta homossexualidade do homem era maior motivo para não votar nele do que o projecto de governação que apresentava ao País.

Na mesma altura, tinha também sido lançado um outro "caso", o mesmo que regressa agora, com suspeitas de conduta pouco ética e subornos na aprovação de projectos de licenciamento em reserva ambiental protegida. Esse caso deu mesmo origem a um outro, em que o DIAP provou haver um inspector da PJ e dois jornalistas do antigo semanário Independente responsáveis por violação de segredo de justiça. Esse mesmo crime, passados 4 anos, corre célere pela comunicação social, continuando sem se perceber se alguém corre o risco de ser hoje constituído arguido num crime que, pelos vistos, se repete de quatro em quatro anos.

O que se sabe realmente hoje, para além do que se sabia em 2005? A comunicação social larga a conta-gotas mais informação, como uma torneira que pinga sem que se lhe substitua a bucha. Os nomes são envolvidos, as reputações são machadas, espera-se que se linche em praça pública qualquer um que se envolva, misturam-se dados com anos de permeio, compondo textos para fazer crer que é tudo novo, fala-se de uma tal de carta anónima, que parece que não é anónima e de uma carta rogatória que, pelos vistos, também não diz mais do que a carta rogatória que saiu da PJ em 2005, baseada na tal denúncia anónima que afinal tem nome. Comenta-se a celeridade do processo de licenciamento do Freeport, que pelos vistos correu durante dois anos e foi alvo de pelo menos duas correcções para se adequar ao que o Ministério do Ambiente exigia. Agora aparece uma assessora que em 2004 ouviu qualquer coisa, mas que em 2004 a PJ não achou motivo suficiente para indiciar fosse quem fosse e parece que houve uns técnicos do ICN que foram afastados, bem como uns investigadores ingleses que também correm o risco de irem para o olho da rua lá na terrinha deles por incompetência. E parece também que há uns e-mails e um primo idiota que afinal não está no Nepal, mas não se pode dizer onde está, senão ainda foge. E ainda há a Quercus, que também tentou a sua parte do milho, à conta de uma queixa que afinal Bruxelas achou por bem arquivar no caixote do lixo. E há, claro, o dinheiro que desapareceu num qualquer bolso e um golpista que, quando apanhado, achou por bem dizer que tinha usado o dinheiro para pagar umas luvas. Mas do dinheiro e do seu rasto ninguém dá acordo, ainda que pareça que querem que se acredite que, afinal, serviu para a casa que a mãe de José Sócrates comprou quatro anos antes, em 1998. Por fim, há ainda um destacado elemento do maior partido da oposição, que não tem medo de enxovalhar ninguém na televisão – nem sequer aqueles que a Justiça já ilibou e o País indemnizou – que não se coíbe de dizer que em 2005 aquilo tinha sido mesmo uma "campanhazinha negra" engendrada por elementos dos dois partidos que tinham sido deitados abaixo do poleiro, precipitando as eleições que deram a maioria absoluta que José Sócrates, mesmo achincalhado de paneleiro, conquistou à frente de um PS fortificado, apesar da campanha anterior que visou decepar o partido de líderes, queimando sem perdão Ferro Rodrigues na comunicação social à conta de um outro mega-escândalo que, como de costume, se travestiu numa montanha a parir um rato.

Fique claro que não gosto de José Sócrates. Mais claro ainda que acho que o seu Governo traiu quase todos os valores socialistas em que fui criada. E que estou farta da arrogância do Primeiro Ministro e das suas campanhas publicitárias descabeladas e o discurso de que fez muito e conseguiu muito e que o País está melhor com ele do que esteve antes. Se eu também sou o País, digo desde já que fiquei muito pior com este Governo do que estava antes e que me irrita supinamente ter andado quatro anos a apertar o cinto para saber que o dinheiro dos impostos que recolheram à minha custa é usado ao desbarato para proteger e salvar os amiguismos do costume.

Sei que não consigo olhar para este emaranhado de diz-que-disse com as certezas de certa direita, que prefere acusar um inocente – desde que seja José Sócrates que, como todos sabemos, além de paneleiro (porque disseram nos jornais), também é um escroque ladrão (porque dizem nos jornais) e não tem nada ar de inocente nos seus fatinhos Armani – do que admitir que, em termos políticos, estão fodidos e sem alternativa, a não ser que voltem a fazer as tais das "campanhazinhas sujas". Eu, que fui criada a achar que qualquer auto-de-fé é condenável, olho para esta salgalhada com suspeita. É certo que prefiro e defendo os antigos valores de esquerda. E que este Governo há muito que não me representa. E, no entanto, não há de ser agora que vou passar a achar que alguém é corrupto só porque nos jornais começaram a coser uns factos, a misturar umas suspeitas e a, enganosamente, venderem como notícias assuntos requentados, bem misturadinhos nos seus anos de permeio e no tempo em que ficaram encostados nos arquivos do MP ou da PJ.

Posso não gostar de José Sócrates e das suas políticas. Posso até ter vontade de o acreditar culpado e corrupto. Mas não assim, não com este tipo de suspeitas e de campanha, em que acaba condenado em praça pública sem sequer ter sido indiciado. Será que vou acabar a pagar também, com o dinheiro dos meus impostos, uma indemnização a José Sócrates à conta de um caso, que nem sei se chega a ser caso, que talvez nunca se venha a provar, para além do boato?

hmm...


aqui

O Postiga apareceu há pouco na televisão a falar da ida à Trofa onde parece que os grandes gostam de dar com os burrinhos na água. Cheira-me que não devo ser a primeira pessoa a notar a semelhança, mas, c’um caraças!, se lhe pusessem um micro à frente, eu iria sempre esperar que o homem começasse a cantar o Sing for Absolution.

Centrão


aqui


Que apareça uma moção de confiança; em alternativa, também me serve uma moção de censura. Que se deite abaixo o Governo, também não me parece mal de todo. E que venham já as eleições. Assim como assim, não me apetece conviver com rumores mata-que-mata-senão-esfola durante os próximos meses (são oito meses ainda, não é?) E, depois, que venham as alternativas. Rapidamente, para serem alternativas à governação e antes que se inventem, ou relembrem, ou fabriquem, ou denunciem, mais esqueletos putrefactos de parte a parte, que infelizmente só há duas partes e os outros são ruído. Estou farta do centrão mal-cheiroso. Mais farta ainda do jornalismo faz-de-conta e das fugas ao segredo de justiça que nos relembram diariamente que, afinal, vivemos numa república de bananas da Madeira e, desta vez, aquele outro (ainda) não está metido ao barulho.



Já agora, em jeito de micro-sondagem, havendo eleições antecipadas em quem votam? Relembro que os inspectores da Judiciária, mais as gentes do Ministério Público e muito menos os jornalistas e os grandes grupos económicos donos de jornais estão sujeitos ao escrutínio, mas como isto aqui é uma micro-sondagem de um blogue anónimo e anódino, podemos sempre tentar vota nesses. Afinal, quer-me parecer que há muito que são esses que querem fazer política.

2009-01-31

Vozes de outros blogues

Um problema de auto-estima muito, mesmo muito, bem caracterizado. Para ler, rir, e pensar.

Why can't we look the other way?


- Todos temos de ter uma boa auto-estima!
- Boa ideia. E onde é que se arranja uma boa auto-estima?
- Isso não é uma coisa que se arranje na loja dos chineses!
- Pois, não se arranja na loja dos chineses....

Querido Diário:
Estou à duas horas perdido no Amoreiras entre lojas finas mas até agora nada. Sempre que pergunto se tem uma boa auto-estima em saldo ou a preço aceitável, tudo o que recebo em troca é um redondo "NÃO" e um olhar de desprezo. A excepção foi uma menina simpática, que me confessou ser o seu primeiro dia, que ainda tentou ir ver "lá atrás", na colecção do ano passado, mas sem sucesso. Devo estar demodê...

Banda Sonora
Dr Blind, Emily Haines

2009-01-30

O X ainda marca o lugar


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Dou de barato que os gajos são melhores do que as gajas nas tretas espaciais. Da mesma maneira que acredito piamente que não são melhores do que as mulheres em muito mais. Mas, pronto, quando mete mapas – e eu nem tenho mau sentido de orientação, sendo até bem melhor do que o de muitos gajos que conheço – um gajo que é gajo sabe os quelhos e as mulheres conhecem as avenidas.

Dito isto, tenho também a informar que acho a sinalética nas estradas no que diz respeito a Lisboa do mais pífia que há: foi feita para quem já conhece e está-se a cagar para quem chega de fora. Ora, ao contrário do que muito alfacinha – de gema ou aculturado – possa supor, há gente neste País que está muito pouco interessada em conhecer Lisboa. Aterra por lá de pára-quedas de quando em vez, ou por afazeres profissionais a que não se consegue baldar, ou porque caiu na asneira de gostar e ter a mania de visitar uns quantos amigos que não tiveram o bom gosto de fazerem vida a norte do Mondego.

Ora, uma mulher do Norte, se não se precavesse, ao ter de ir para o meio de Alcântara – ou lá perto – só a fiar-se nas placas de trânsito, o mais certo era acabar em Almada, que assim como assim também começa por "a" e pelo menos faz mais sentido do que saber que por aquelas bandas há uma pontinha que não há maneira de se abeirar à buraca.

No entretanto, já se pôs a irmã mais velha a tentar conseguir indicações mais ou menos precisas de como chegar ao tal sítio buscado. E a irmã, como se pode calcular, faz como todas as irmãs mais velhas e tenta salvar a "baby sister" do terror, da ignomínia, do martírio, de se ver perdida entre cril, crel, eixo para cima e para baixo, sul, norte, leste, oeste, ponte (mas só ponte para baralhar, que mesmo que sejam uns tristes em termos de pontes, que eu saiba há mais do que uma e ninguém devia ser obrigado a adivinhar) e mais a Buraca e a Pontinha e o caralhinho que não está no mapa mas deve estar na cabeça de quem pensou as placas.

Telefonei primeiro a uma miúda, aquela que eu achei que se situava normalmente o mais perto de Alcântara, ainda que pudesse estar enganada, que eu nessa terra só mesmo pela beira rio e, mesmo assim, mal me entendo. Pois não correu bem! De Google Maps e Michelin ainda podia ser que fosse, mas já não dava era tempo, que a cria já estava a caminho. Em desespero de causa pensa-se: telefone-se a um homem. E telefonei. Seguiram as indicações à confiança – que eu confio nos amigos – e fiquei descansada.

Soube agora que tal tinha corrido a viagem: pois que comprou um TomTom antes de sair do Porto porque podia não conseguir seguir as indicações; e que o TomTom é uma maravilha, que chegou lá sem problemas. Já agora, que eu podia dizer ao amigo que ele é tão bom como o TomTom, que para a próxima nem era preciso GPS. Tão bom como o GPS? Ena! É o que é: gajos e mapas. E nós e eles. É que uma gaja acaba obrigada a reconhecer-lhes valia, mas à confiança compra um TomTom.

A carta anónima

«Zeferino Boal, militante do CDS/PP e candidato à presidência da Câmara de Alcochete nas últimas eleições autárquicas, é o autor da denúncia anónima que originou a investigação da Polícia Judiciária (PJ) em volta do caso Freeport, em 2004. José Sócrates é apontado neste processo como estando envolvido na alteração, em 2002, da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo (ZPE), enquanto ministro do Ambiente, permitindo a construção daquele empreendimento de Alcochete. Em troca, o PS teria recebido dinheiro para subsidiar a campanha eleitoral para as legislativas daquele ano.»

DN, 25-04-2007


«Os alegados factos que a Polícia inglesa utiliza para colocar sob investigação cidadãos portugueses são aqueles que lhe foram transmitidos em 2005 com base numa denúncia anónima, numa fase embrionária da investigação, contendo hipóteses que até hoje não foi possível confirmar, pelo que não há suspeitas fundadas.»

PGR, 29-01-2009



Devo ser eu, que venho de uma família que se deu muito mal com o hábito de antigamente de bufar à boca pequena – em troca de uns cobres ou uns favorzinhos – verdades e mentiras que faziam e desfaziam vidas, com visitas às celas da polícia política à mistura e demasiadas dores de cabeça pelo meio. Ganhei aversão a bufos. E aprendi que a memória não pode ser pequena.

Em relação a este caso concreto, devo estar muito confundida; ou dou-me mesmo muito mal com esta mania de ter memória, ou então devo ser muito burra. É que não chego a entender porque continuam a chamar anónima à carta quando já se provou quem a escreveu.(*)

É que estamos a falar da mesma carta, certo? Ou nas vésperas das anteriores eleições houve não um, mas dois bufos, a contarem a mesma história? É que Boal até foi ilibado de tentar incriminar José Sócrates, pelo que deve haver ali mais qualquer coisa na tal "campanhazinha negra" que agora já se admite.




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(*)Admito que já não me lembrava do nome do homem, mas uma pequena busca no Google resolveu a coisa. Este Google é mesmo um excelente auxiliar de memória para quem o quer usar!

2009-01-29

Fedor


aqui


A política há muito que passou de ser praticada (não digo feita, apesar de tudo...) por um punhado de gentalha cheia de técnica e manhas. Já não é vocação; é um trabalho bem pago, com muitos trabalhinhos por fora. Talvez devido à alternância, isso é especialmente evidente entre os actuais tecnocratas prontos para o poleiro dos dois maiores partidos. Mas para os lados nada me parece muito melhor. E irrita-me profundamente o cheiro a putas velhas que tudo lança, das madamas escondidas nas sombras a contar as notas e a puxar os cordelinhos. Ou o cheiro que vem do caldeirão decrépito e enfezado, onde uns fósseis com gravata (se mais à direita) ou sem gravata (se mais à esquerda) dizem que zelam pelos interesses dos trabalhadores, quando não sabem o que é picar o ponto há décadas. Ou o excesso de zelo em fazer o jeito ao patrãozinho dos fabricadores de notícia (não lhes chamo jornalistas, claro, porque duvido que a maioria tenha competência para tanto e também ali já quase não há vocação). Como nauseia o bedum que se desprende da manhosice de uma certa oligarquia do pilim ou do tijolo, de bolsos fartos para promover campanhas e mão aberta para cobrar favores. Ou a pestilência organizada de jogos semi-secretos, em opus daqui e dali e todas as outras tramas emaranhas com origem num trono onde ultimamente se senta um calhau, contra (quando interessa) os interesses dos que um dia se disseram livres para esculpir a pedra bruta. Como depois há os caciquismos vários, com a dimensão e cheiro equivalente ao tamanho do bolso que os comanda, metendo o dedo onde podem arrancar tostão, cobrando bem caro qualquer assinatura que desate os laços que enlaçam o povinho. Ou as negociatas regadas a álcool, drogas e sexo. E alombam sempre em cima do povinho e o povinho paga. São uma praga imunda, que alastra. Rodam votos, rodam cabeças, fica sempre o mesmo fedor. E não há maneira do País (e do povinho acossado e espoliado) conseguir livrar-se dos chulos, até porque chulos há muitos e, como sempre, há os que se ficam pelas ruas bem visíveis e os que se escondem nos gabinetes. E a verdade é que isto tresanda. Tudo tresanda. E não é fado nem resignação. É poeira, cortina de fumo. O que importa jamais será revelado: queimaria como incêndio de verão, sem poupar nada que lhe aparecesse pela frente. E por isso mesmo não arde: são todos bombeiros em casa alheia, sempre que lhes cheira que podem ficar sem parte da ração, mesmo que se armem em pirómanos em ano de eleições.

Chuva ainda





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Chuva


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Em (mais) um dia de chuva, acordei a cantarolar. Cheguei ao fim do dia com poucas notas a sobrarem, mas isso já é outra história. Amanhã é sexta e, só isso, já nos faz apetecer música. Antiga, de preferência. Ando muito bota-de-elástico.




(não penses que és só tu que tens uma musiquinha contra a crise, Fabulosa)

2009-01-27

Faça da sua mente uma eterna Primavera!

Bem sei que hoje já é terça e já está toda a gente na semana como carros numa auto-estrada, mas apeteceu-me partilhar esta recente descoberta. Bem sei que têm coisas importantes em que pensar, a crise, como é que o Obama nos vai safar desta, quando é que vamos ter um Governo honesto, sei lá, quando é que este país anda para a frente! E também sei que é final do mês e há sempre aquelas preocupações com o empréstimo, o carro, as contas..... STOP!
Vá, parem só um bocadinho. Isso. Agora inspirem fundo e pensem que tudo se vai resolver... Isso...

Faça da sua mente uma eterna Primavera
Deixe florir sempre sua mente de Primavera
Faça da sua mente uma eterna Primavera
Faça da vida uma Primavera iluminada

- Adriana Mezzadri -

2009-01-26

Que grande bota!



Estou aqui há tempos à espera de ver quem iria ser o 150 000º visitante do Voz em Fuga e ao que vinha. Entretida numa conversa com bolinha ali em baixo com o João G. esperava que fosse alguém perdido atrás do "sexo explícito" ou do "clitóris grande", como de costume. Afinal, saiu-me algum brasileiro atrás do Gato das Botas. Esta não pensei eu que fosse ter de descalçar, lol!

Post com bolinha


aqui

Um homem diz de uma mulher que a come, ou que a comia. E deixamos que digam assim. No entanto, há no gesto masculino apenas a investida. Chegando a mulher a recebê-lo, não é a vulva uma boca de lábios grossos, gulosos, que engole carne dura para depois deitar fora os restos?

2009-01-25

Quinze


aqui


A Maria Árvore desafia o Voz (como sou a fundadora, vão os meus, lol, mas há lugar para mais posts, Fabulosa) a pôr aqui 15 blogues de que gosto mesmo, em mais uma corrente que parece que teve início aqui.

É sempre bom sabermos que somos gostáveis e que alguém se lembra de nós. No entanto, esta treta de ter limite é sempre injusta, por isso e sem ordem cá vão quinze, com a ressalva que, mesmo sem tempo, há sempre pelo menos outros tantos de que não prescindo:

De blogue, 5 anos


Ao Sonho e às curvas da vida onde nos haveremos de encontrar...

27-12-2001



A minha amiga Vanus despediu-se assim de mim há já muito tempo atrás, quando parecia que estávamos a pôr um fim em qualquer coisa muito especial. Provou-se que, afinal, não era fim algum e que havia ainda muitas curvas mesmo, tantas que nos trouxeram até aqui hoje, o dia em que festejo com ela cinco anos de blogue.


(Uns tempos depois, sai de casa dela a jurar que nunca abriria um blogue e, nem umas horas depois, havia o Voz em Fuga. Já vos tinha dito que a culpa é dela? Deve ser das curvas...)

2009-01-23

(...)



Aqui entre nós, não seria melhor o Paulo Portas optar logo pelo capachinho ou, quem sabe, por uma mudança rápida de barbeiro? É que aquele cabelo com que se apresentou à Judite de Sousa não lembra mesmo a ninguém, pá!


(e, sim, neste momento apenas comento o cabelo do Portas; o homem e as suas ideias não me merecem qualquer atenção e nem entendo porque insiste que tem direito a atenção alguma)

2009-01-21

People Are Strange



(Há dias em que isso me sabe bem)




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Pronto, eu explico: para além das conversas óbvias, dou uma volta e descubro a Rosarinho às voltas com a loucura, o Ivar a falar das Brancas de Neve de hoje, o Tozé de castanhas, o Miguel prefere fazer referência a vacas açorianas, ao deu-lhe para a política, a I exaspera com a religião e os améns, o Espumante perde um guarda-chuva a que chama chapéu, a Emiele descobre que no Japão se alugam gatos para afagar o bicho (e parece que não há chulos à mistura), o Dragão receita merda, a Maria Árvore inspecciona a distribuição da melanina e o Patologista fotografa mel e pensa em surrealismo.

E ainda nem acabei de dar a volta, lol.

Vozes de outros blogues

Afinal os brasileiros estão tão aflitos quanto nós... Ehehehe!

2009-01-20

1/20


aqui

Nem de propósito



Vejo anunciado para amanhã na RTP o Taking Lives. Digam-me: isto é ou não cena pensada por um gajo? Lá vão eles por ali fora - ela de maminha bem à mostra, claro - e ele nem sequer tira o casaco, quanto mais as calças!

Viva o banhito do Jackman no Austrália!

2009-01-19

Austrália


aqui

Ia preparada para o pior, admito. Até tomei café antes e tudo, que uma estucha de três horas era bem capaz de dar cabo do resto da noite e, depois do ronco, podia já não dar vontade de ir a outro lado. Não que depois tivesse corrido bem, mas nessa altura não sabia e como tinha enchido bem a barriga de rodízio à brasileira, o café – também era só o que ainda cabia – foi à guisa de prevenção, que à noite e com já uns 5 ou 6 cimbalinos no bucho, sou mocinha para se dedicar ao horrível descafeinado só para não ficar com o gosto da comida na boca.

Mas como estava a dizer, fui prevenida e preparei-me para o pior. O pior, comparativamente, seria o pavoroso, indecentemente mau The Day the Earth Stood Still. Ai sim, tinha-me parado tudo e ainda choro o dinheiro do bilhete. De qualquer forma, o Jackman é mais papável do que o Reeves e ainda não lhe passou mais do que um corta-relva pelo peito o que, convenhamos, começa a ser caso raro lá para as bandas de Hollywood. As modas, afinal, não chegam ao mesmo tempo a todo o lado e, no outback e com um look à Terence Hill também não me parecia lá muito bem se o homem surgisse completamente depenado. Benza-os-deuses que aparece muito compostinho. Muito, muito compostinho. A cena do banhito, então, é do melhor, não num sentido de grande cena de cinema, mas pelo menos no sentido de grande cena de agora-comia-te-todo-e-ainda-lambia-os-beiços. Sim, que pelo menos nestas coisas as gajas andam agora muito mais bem servidas de cena erótica que lhes agrada realmente e onde o gajo não tem apenas que montar a gaja ainda vestido enquanto ela geme e mostra bem as mamas.

Pois foi assim que não adormeci. E também não tive vontade. E mais verdade é que o filme tem uma historinha que benza-os-deuses não lembra a ninguém. E também não chego a entender porque não acabaram a coisa quando o puto meteu a última vaca no navio. Estava ali um rico filme pipoca, se se tivesse quedado por lá, sem grandes pretensões mas com acção q.b. e o Jackman já tinha tomado banho. O problema é que o filme não acaba nas vacas e resolve inventar mais um bocadinho. E espalha-se ao comprido, mas ainda assim não é para dormir. Com tanta crítica a dar em cima, temi mesmo pelo pior. É mauzito, sim senhores. Mas há por ai coisas bem piores.

Ainda não foi desta que bati o ronco que tirei no Broken Arrow.

A morte faz-nos pensar

Bem sei que hoje é segunda e o assunto do momento é o Obama. Não quero estragar a onda, nem a vossa segunda, ainda assim o tema que me impulsionou a escrever é o do título.

Sempre que algum familiar ou alguém que conhecemos morre, não podemos deixar de questionar a existência, nossa, dos outros, do que nos rodeia.
Há não muitas semanas atrás faleceu um familiar meu e durante uns dias não pensava noutra coisa senão nisto: estarei a aproveitar bem a vida? Isso aconteceu porque achei que a pessoa em questão, mesmo dentro das dificuldades que passou, poderia ter tido uma vida melhor em vários aspectos. E para isso bastava ter sido mais... “flexível”.

Crenças religiosas e outras que tais à parte, só temos a certeza duma coisa, isto: há Aqui e Agora, há aquilo que vemos e conhecemos. Se é só isto, então há que aproveitar o melhor cada minutinho que passa. Infelizmente nem sempre é possível. Perdemo-nos muitas vezes em coisas e situações sem importância. Complicamos. E perdemos tempo. Tempo precioso de vida.

A morte faz-nos pensar, pois sabemos que se há coisa que nos está destinada é esse fim. Não sabemos como, nem quando, só sabemos que um dia deixaremos de existir.
Para onde vamos? Não sei... No meu caso, não acreditando em Deus, não acreditando em Céu ou Inferno, penso que aquilo que nos anima o corpo talvez seja energia. Sim, talvez... Talvez essa coisa chamada alma não seja mais do que uma energia que se dilui no Universo quando partimos... Talvez todos nós sejamos um pedacinho de energia universal, uma dádiva... Ou, talvez o melhor seja nem pensar muito nisso!

2009-01-18

Ary dos Santos

Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a noite mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silencios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto.


Estrela da Tarde, cantada por Liana


(José Carlos Ary dos Santos morreu em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1984)

2009-01-17

Nostalgias


aqui

Durante anos (depois do velho café com recuado de que já falei aqui no blogue), mudei-me para um Majestic decadente e de cadeiras e sofás rotos. Estava a estudar e tinha muito tempo para tudo, dinheiro para quase nada e um grupo de amigos e conhecidos que, à mesma hora, dia sim dia sim, lá estava a ocupar as mesas do costume. Não devíamos dar grande lucro, que o dinheiro chegava para um café por cabeça e pouco mais. Havia alguns que tinham mais dinheiro, alguns outros (mais velhos quase sempre) já desviados para outros caminhos, como a música e o jornalismo, que as rádios piratas bombavam em cada canto e estavam quase a chegar à idade adulta, a vestirem o fatinho e a porem a gravata e nada voltaria a ser como dantes.

Tudo parecia crescer à volta e, de certa forma, foi uma boa altura para andar por lá, a ver como era e deixava de ser. Apesar de ter perdido o contacto com quase todos desse grupo (como acontece demasiadas vezes), sei bem onde andam muitos, o que lhes aconteceu, em que se transformaram. Pergunto-me quantos não sentirão agora como estão ajaezados pela vida. Eu sinto-me assim demasiadas vezes, quando tenho tempo, quando sobra a nostalgia.

Hoje, há dias em que pressinto que também os blogues estão a chegar à fase do fatinho de trabalho e da gravata. E, no entanto, alguns de nós resistem. Vamos ser ultrapassados – como sempre –, que ninguém se compadece das réstias de idealismo que ainda teimamos em manter. Ou talvez apenas continuemos a seguir em frente, como fizemos antes, como fazemos sempre.

E, no entanto, há algo no umbiguismo dos blogues, dos Facebooks e Hi5s, dos Twitter e de tudo o mais que ainda vai ser inventado, que apenas se assemelha ao que deixamos para trás. Por aqui, é o indivíduo e não o grupo; é cada vez mais o eu e menos o nós. A conversa fica limitada e mediada, a disponibilidade divide-se com coisas cada vez mais prementes. E, num Tempo sem tempo, por mais "ligados" que estejamos, há muito que nos desligamos efectivamente.

Não é que não se tente. Tenta-se muito e cada vez mais: temos conta em mil e um sítios onde não vamos, compramos até um telemóvel que nem usamos só porque vinha todo artilhado com as ligações que não fazemos, mais o portátil que depois nos cansa carregar e as net móvies que nos chulam. E alguns de nós mantêm teimosamente as caixas de comentários abertas e esperam pelos comentários e esperam ainda que, naquele espaço limitado, apareça uma discussão à moda antiga, com ar de café cheio de fumo e tempo – muito tempo – para conversas, para ver como é e como vai ser, como pode até nunca vir a acontecer, como as albardas podem ser leves quando lhes damos uma importância relativa e que, quase sempre, só parecem assim leves porque o amigo que está ali ao lado ajuda a aligeirar as coisas com a piada ou o palavrão atempados a recordar-nos que nunca nada é tão grave como o nosso umbigo pinta.

Mas há um individualismo desenfreado e instituído onde acabamos todos hoje, melhor ou pior, enterrados. Somos cada vez melhores a debitar e encontrar informação e cada vez piores a debatê-la e partilhá-la. Nem chega a ser surpresa que o civismo recue, que a política seja coutada, que o pessoal se mantenha alheado de chatices e causas, que todos se tentem encontrar devidamente protegidos pelos meios e os ecrãs e as teclas.

Eu guardo cada vez mais esta saudade que me envelhece de um tempo de gargalhadas, ou piscares de olho presenciais e cúmplices, envolvidos na leveza da segurança de estarmos a fazer alguma coisa, de ser o nosso tempo, que havia tempo. E o calor humano que, por mais que se tente, nunca se consegue transmitir realmente por um teclado. Mesmo quando reconheço que a net me agarrou, se tornou vício e tomadora de tempo. Mas vejo-a cada vez mais como um espaço do domínio do eu e do monólogo, bem diferente das velhas salas fumarentas, as tais que, a pouco e pouco, desapareceram do centro das cidades para serem substituídas por lojas e snack-bares onde se come à pressa e em pé.

Talvez isto tudo (grande lençol, porra!) não passe mais uma vez de cansaço. Tem sido cíclico desde que por aqui escrevo. E talvez seja a velhice a bater à porta, num dia em que não me apeteceu sair à noite para apanhar frio e trânsito e bêbados e conversas sem conteúdo ou sentido. Amanhã passa; tem de passar. Depois de uma noite bem dormida, tentarei como de costume dar a importância relativa a tudo isto e recordar que, apesar de tudo e tudo, é no real que estão as minhas âncoras e que, um dia destes, talvez dê por mim a escrever um texto sobre os bons velhos tempos em que tinha um blogue e reunia um grupo de amigos nas caixas de comentários. E esperar que, nesse dia e ao olhar para trás, de alguma forma a saudade ainda saiba ao mesmo.

2009-01-15

Put out the light, and then put out the light (*)


Linda Sutton

Num País de Otelos, falar é fácil.



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(*) Othelo, V.ii.7

8 sonhos num desafio

A Adoa convidou a Voz para um desafio que consiste em elaborar uma lista de oito sonhos. Como hoje lá houve um tempito, e até estou para aí virada, cá vai:

8 - Eu sonho sonhar mais vezes!
(Podem ser 8 ou não.)
7 - Sonho que sonho acordada, mas estou a dormir!
6 - O sonho comanda a vida... *merda, esta não que tem direitos de autor*
5 - Às vezes sonho... Me.
4 - Sonho os sonhos que invento.
3 - A vida é simples e as pessoas também.
(Sim, sonho com utopias.)
2 - Sonho que há um desafio num blogue.
1 - E sonhei que respondia ao desafio.

E prontes, a bem dizer, que é isto.
Ah! D
iz que há regras, que faz parte das regras convidar oito vítimas, coiso e tal. Pois é, se nunca vos disse, digo-o agora... Sempre gostei de infringir as regras. *imagino as vossas caras de espanto total que isto nem sequer é uma frase feita* Por isso, hoje não vou passar a ninguém, amanhã logo se vê. Para ler as regras espreitem o blogue da Adoa, ok?

E prontes, a bem dizer....
*Lá estou eu com a mania das repetições, @#$&%@, irra!*


2009-01-14

A ler!


aqui

Para a I.


aqui

«A regueifa tem uma forma de rosca e é feita com farinha de boa qualidade (...) É típica do Norte de Portugal, sendo conhecida desde o Minho até à região de Aveiro. (...) popularizou-se como pão domingueiro.»

in, Wikipedia


Caso escape à menina a resposta ali em baixo, fique sabendo que cá no Norte não há misturas estranhas. E regueifa é regueifa e nunca foi doce. Olha-me esta!

A quem por aqui passar


aqui

O Eufigenio precisa de ajuda!

Desabafos


aqui

Todos temos problemas "no mundo real", todos acabamos, numa altura ou outra, aos berros com aqueles com quem convivemos "no mundo real". E todos nós, de uma qualquer maneira, já desabafamos nos blogues disso mesmo. Não especificamos situações, nem usamos os nomes das pessoas, que basta o grito e assim deve ficar. Eu, tripeira sem tento nas letras nem açaimo nos dedos, vou-me pelos palavrões e qualifico o que me irrita, o que me tira do sério: cabrão (uso bastante), filho da puta (uso ainda mais), sacana (aqui e acolá, não devia ser grave), totó (este é mais para os taxistas), gajos e gajas (leva tudo pela mesma medida). E exclamo sem dó, com um enfático ponto respectivo: foda-se! Ridículo é quase não usar palavrões fora daqui. Talvez, aliás, seja isso que tanta vez me falta: há gritos que engulo e, na garganta, ganham um granulado de fel que me enoja. Se não tivesse um blogue, talvez desse por mim a berrar à janela para o campo vazio e gelado lá ao fundo. Ou continuasse engasgada. Sei que abuso, que há por vezes um descer à chinela e um descuido que não engrandece a palavra escrita, que a avilta em muitos casos. Mas o fastio com que enfrento o palavrão é terapêutico. Assim, melhor ou pior, fica o desabafo feito e siga, que o mundo também segue, para além do meu umbigo.

2009-01-13

Green Card à portuguesa

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«Em Gondomar, onde terão tido lugar os supostos casamentos, a população já se tinha apercebido da presença constante de paquistaneses e marroquinos. Terá sido na conservatória do Registo Civil de Gondomar que terá tido lugar a maioria dos alegados casamentos por conveniência. Só no ano passado as autoridades calculam que tenham ocorrido mais de 300 casamentos.»

(notícia aqui)


Ainda pensei dar um salto ao centro de Gondomar para ver se me aparecia à frente um Gérard Depardieu marroquino…

Pão é pão...

Ele - E então, gostas deste pão?
Eu - Não desgosto...
Ele - Então?
Eu - Tem passas...
Ele - E depois?
Eu - Eu gosto de pão com sementes. Passas eu associo a coisas doces...
Ele - És tontinha!
Eu - A sério. Se é pão não pode ter coisas doces. E se é bolo não pode saber a pão. Gosto de saber o que estou a comer. Se é pão é pão. Se é bolo é bolo.
*uns segundos de silêncio*
Ele - Esquece. Já vi que não gostaste.

2009-01-12

Grunft!


aqui

Quem foi que disse ao Sting que podia sair à rua moreno e barbudo?


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(Felizmente podemos sempre contar com o Johnny)