2008-10-10

A vida é uma tanga


© Catarina Paramos


A racha da saia preta a descobrir-me a perna artilhada de liga e o pedaço de carne branca que justificava o que a meia encobria quando dobrava um joelho para encostar um pé à parede e dar início ao espectáculo em que rodopiávamos pela sala de braços em riste e carnes atracadas pela linha de junção do meio das ancas. Mimando a puta e o chulo faiscávamos olhares de matador um de encontro ao outro e repentes convulsivos do corpo para abanar as mamas e me dobrar pela metade com o seu corpo a resfolegar sobre o meu num frémito de sedução que arrancava aplausos da plateia.
Para no final desembocarmos no camarim, cu contra cu, a despirmos o espectáculo cuidadosamente dobrado para um malote e a vestirmos os nossos corpos há tanto apartados esticando a largura que a nossa cama permitia sem um pingo transpirado de paixão.
Não fosse o foco de luz providencial desviar para a flor berrante do cabelo ou o contorno das pernas e por vezes seria evidente o molhado dos meus olhos que na penumbra envolvente descortinaram os dele atento a todos os mecanismos luminotécnicos e me apontaram a porta da casa de banho onde em ganas desenfreadas atirámos com as roupas e sobre o tampo da sanita nos cavalgámos em abraços ao som de uma dança de beijos carpinteiros como se a tanga da vida fosse acabar amanhã.







A resposta ao desafio segundo a Maria Árvore.

9 comentários:

Bartolomeu disse...

Como sempre, enigmática, desafiadora, roçando a exuberância.
Como sempre Maria, dissimulando as asas angelicais, sob um diabólico manto rubro.
clap... clap... clap...

Hipatia disse...

Há distâncias mais difíceis de gerir do que outras. E aquelas que se medem pela partilha dos espaços parecem-me ser potencialmente mais dolorosas.

Obrigada, Maria Árvore

Maria Arvore disse...

Obrigada Bartolomeu. :)
Com a escrita procuro provocar reacções, em sensações que se podem colar ou não à pele. ;)

Mas não vale a pena contares que na peça do Capuchinho Vermelho eu fazia sempre de Lobo Mau. ;)

Maria Arvore disse...

Obrigada eu, Hipatia. :)
Porque sem o teu desafio talvez nunca contasse esta história.

A esperança reside na distância que se pode alargar tanto que conseguimos novas proximidades. ;)

Anónimo disse...

Ora, o que é que eu posso dizer? Que, afinal, uma saia com racha - e a liga, de que me esqueci - faz toda a diferença. :) Sem ela talvez não tivesse havido a segunda dança... e a terceira, que é a das palavras e sentidos.

Erecteu disse...

Tal vai a moenga, heim!
Vem agora ao baile uma capa vermelha e um Lobo Mau? Atão, se me dão licença, eu quero fazer d'Avózinha, tá Maria?

Hipatia disse...

Mas nesse caso, Deep, não ficou respondida a pergunta sobre o par? ;-)

Maria Arvore disse...

deep,
a liga bateu-lhe nos olhos e os meus bateram nos dele de tal forma que para não darmos cabo das vistas desembocámos numa luta corpo a corpo, sem luzes de efeitos especiais. ;)

Erecteu,
e queres que eu vá vestida ou despida?... ;)

Erecteu disse...

Maria,
Por mim só quero que se cumpra a história, mas se me é dado escolher... nã esqueças a capa e já agora traz umas soquetes ;) Ficas uma Lobinha a matar :)))