2008-10-08

It takes two



Apetecia-me dançar nos teus braços, embrulhar o meu reflexo no teu, trepar-te lentamente como se me fizesse hera verde, ou então um maracujeiro perfumado.

Apetecia-me dançar bem devagar e ficar ali enrolada, a fazer o corpo nosso no que antes tinha sido apenas teu, apenas meu…

E de seguida aumentar o ritmo, convulsa, tresloucada, ciumenta desta distância que nos envenena a dança.

Mostrar-te depois que ainda trago a faca na liga e as unhas afiadas, prontas a escorrerem pelo teu peito como carreiros rubros. Ou a saliva morna traçando os mesmos rastos.

Roçar-me em ti até que já nem saibas como me queres, querendo-me; até já nem saber como te quero, querendo-te.

E a fome depois finalmente saciada, até que esta distância me lembre outra vez como se pode transformar a nossa paixão em tango.

Corpos desaguados de tempo e de ritmo e deste estar para aqui longe e sozinha e cansada e com tanta vontade de dançar, dançar-nos, dançar-te.

10 comentários:

Luis Duverge disse...

Fui lá atrás, a 2004 recordar este tango aqui fica em jeito de resposta ao teu desafio.
http://a-alma-aqui-e-alem.blogspot.com/2004_11_01_archive.html#109990597925914720
Até já.

Bartolomeu disse...

Intenso, quente, arrebatador, tal como um tango se espera que seja.
De crisálida (enquanto enroscada) a borboleta (ao espargires as asas) como num passe de mágica, criando a alquímica Hipatia que seduz e inebria.
Magnífico!

Maria Arvore disse...

Da distância também nasce a intensidade da dança a dois... como as tuas enérgicas palavras o demonstram no ritmo de cada parágrafo. :)

Hipatia disse...

Já cá estás, Luís. Obrigada!

E fiquei com tantas saudades da Maria Branco, lol. É quando vamos assim aos arquivos que vemos como tanta gente partiu.

Hipatia disse...

Obrigada, Bartolomeu :)

E então, sempre danças? ;-)

Hipatia disse...

É verdade, Maria Árvore: a distância pode ser um excelente afrodisíaco ;-)

Amanhã o dia é teu :D

Bartolomeu disse...

;)

Eu não danço o tango
É ele que me dança
Enquanto o teu corpo, o meu roçando
Vai afastando o véu
Que entre nós balança
Quando em voos flanando
Suspensos num céu
Se buscam as mãos, se encontram as bocas
Se gritam os gestos
Em manobras loucas
Rodopios lestos
Quando a perna avança
E a cintura no vórtice se quebra
És tu a dança, toda a pujança
Que o tango celebra

Hipatia disse...

Espero que gostes da imagem, que já cá estás :)))

Obrigada!

Bartolomeu disse...

WONDERFULL!!!!
Tal e qual fato feito por medida!
;))

Hipatia disse...

Ora ainda bem :D